
Por Bruno Brandão
A Agropecuária impulsionou o Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará em 2024. Os dados divulgados nesta semana apontam um crescimento de 25,16% no setor, seguido pela Indústria, com 10,65%, e pelos Serviços, com 4,28%. Os resultados da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec) ajudam a explicar essa ascensão, destacando fatores como a tecnologia e a quadra chuvosa, que contribuíram para o avanço da produção rural. No total, o PIB do Ceará registrou um crescimento de 6,49% em 2024, o melhor desempenho desde 2010.
Um dos destaques apontados pela Faec é o trabalho de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), desenvolvido pelo Sistema Faec/Senar, em parceria com mais de 60 sindicatos rurais. O projeto foca na geração de renda, na melhoria da produção e na gestão rural de forma educativa. Os produtores são acompanhados por técnicos de campo durante 24 meses, período mínimo necessário para avaliar os resultados da metodologia aplicada.
Além da assistência técnica, outros projetos vêm impulsionando o setor agropecuário: a Fertilização in Vitro (FIV), voltada à melhoria genética do rebanho leiteiro; o Forrageiras do Ceará, que busca garantir alimentação perene para o rebanho; e os investimentos em perímetros irrigados.
O papel da castanha na economia
O coordenador de Contas Regionais do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), doutor em Economia Nicolino Trompieri Neto, destacou as diferenças entre os três principais estados do Nordeste no setor agropecuário. “A castanha de caju tem grande importância para o setor. Já para Pernambuco, é a cana-de-açúcar que possui grande relevância, enquanto na Bahia, a soja é a principal cultura agrícola. Quando falamos em indústria, a economia cearense apresenta um polo calçadista relevante, bem como a presença de uma siderurgia. Em Pernambuco, há uma grande indústria automobilística, enquanto na Bahia há o polo petroquímico de Camaçari”, comparou.

No cenário cearense, a produção de castanha de caju cresceu 61% e a de banana, 16% — produtos com grande peso no cálculo do PIB. No setor de grãos, os destaques foram o milho e o feijão, com crescimentos de 12% e 19%, respectivamente. “Outro ponto relevante para o bom desempenho do setor de Serviços cearense é o aquecimento das atividades ligadas ao turismo, como alojamento, alimentação, transporte e entretenimento”, acrescentou Trompieri.
Na pecuária, destacaram-se as atividades de galináceos e ovos, com crescimentos de 7,24% e 4,09%, respectivamente, em 2024. A pecuária leiteira cresceu 1%, enquanto os setores de suínos e bovinos registraram alta de 4,0%. A quadra chuvosa de 2024 também teve papel relevante, favorecendo o cultivo de grãos e cereais e contribuindo para a elevação do volume de água dos reservatórios, que encerraram o ano com 43,2% da capacidade total do Estado.

Para o presidente da Faec, Amílcar Silveira, os resultados superaram as expectativas. “Esse resultado é fruto do trabalho que vem sendo desenvolvido por meio da assistência técnica e da introdução de tecnologia nas propriedades rurais do Ceará. Além disso, estamos desenvolvendo os perímetros irrigados, o que nos dá a possibilidade de cultivar produtos de maior valor agregado. Essas são algumas das iniciativas que estão contribuindo para o avanço da agropecuária cearense. A expectativa é que esse desempenho positivo se mantenha nos próximos anos, à medida que esses projetos cheguem a mais produtores rurais”, prevê.
Entre os produtos que mais se destacaram estão os da fruticultura (melão, coco, banana e castanha de caju), a carcinicultura — o Ceará é o maior produtor de camarão do Brasil —, e a bovinocultura leiteira. Já entre os de maior valor agregado, destacam-se as plantas ornamentais, como flores e rosas, produzidas na Chapada da Ibiapaba. No segmento de Frutas, Legumes e Verduras (FLV), ganharam destaque melão, acerola, tomate, pimentão e manga. Outro setor que vem avançando é a cotonicultura, com o Projeto Algodão do Ceará, voltado à revitalização do cultivo de algodão de fibra longa.
Outras alavancas
No quarto trimestre de 2024, assim como ao longo do ano, a Indústria de Transformação foi o principal motor do setor industrial cearense. A atividade cresceu 9,84% no período, em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior. No acumulado do ano, o crescimento foi de 10,91% sobre 2023. O segundo maior destaque foi a Construção Civil, com alta de 10,97% em 2024 e de 12,06% no último trimestre, impulsionada por investimentos públicos e privados.
Nos Serviços, o crescimento em 2024 foi puxado pelas atividades de Serviços Prestados às Famílias e Associativos (9,39%), Comércio e Manutenção de Veículos (7,65%), Transporte, Armazenagem e Correios (5,19%), Serviços Financeiros (4,28%) e Alojamento e Alimentação (3,89%). A Administração Pública cresceu 1,96%, um resultado considerado positivo, já que responde por 31% da produção do setor de Serviços estadual e tem um peso de cerca de 24% na economia do Ceará.
Perspectivas
A projeção do PIB estadual para 2025 é de 2,51%, segundo o Ipece — mesma previsão inicial feita em dezembro de 2024. Os números de 2024 foram divulgados pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), vinculado à Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag) do Governo do Estado do Ceará.
“Esse ritmo de crescimento é explicado não só pela alta base de comparação, com o PIB cearense tendo crescido 6,49% em 2024 — o maior resultado desde 2010 —, mas também pela trajetória recente de alta da taxa de juros Selic, que poderá impactar negativamente o consumo das famílias e os investimentos privados”, conclui Nicolino Neto.
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