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A crescente pressão regulatória e de mercado sobre a transparência ambiental tem tornado os relatórios empresariais um elemento essencial para a governança corporativa. A implementação das normas IFRS S1 e S2 no Brasil, mandatórias a partir de 2025 por determinação da CVM, reflete um movimento global que já se consolidou em países como os da União Europeia, China e Índia. Empresas que fazem negócios com o bloco europeu, por exemplo, terão de se adaptar às novas normas de relato de sustentabilidade, evidenciando a convergência entre regulamentação e estratégia empresarial.
No Brasil, alguns consultores avaliam que, embora a temática tenha perdido força nos últimos anos, o mercado global segue avançando. E empresas que olham para fora sabem disso. A B3, por exemplo, investiu significativamente em soluções de análise e monitoramento de sustentabilidade, adquirindo empresas como Neurotec e Nelway.
Bancos de desenvolvimento, como o BNDES e o Banco do Nordeste, também estão inseridos nesse contexto, promovendo condições mais favoráveis para empresas que adotam boas práticas ambientais. Esse interesse das grandes instituições financeiras reforça que os relatórios de sustentabilidade não são apenas uma obrigação regulatória, mas também um diferencial competitivo.
Empresas mais verdes
Essa exigência não se restringe às empresas de capital aberto. Companhias de capital fechado inseridas em cadeias produtivas globais também precisam se adequar, inclusive no Brasil. Um exemplo é a montadora Stellantis, que busca emissão zero até 2050. Ela só conseguirá atingir essa meta se seus fornecedores também reduzirem suas emissões e adotarem boas práticas ambientais. Isso significa que uma empresa fornecedora de vidros automotivos, por exemplo, precisará demonstrar seu compromisso com a sustentabilidade para continuar fornecendo para a montadora.
Os relatórios também funcionam como mecanismo de gestão de risco. Investidores internacionais evitam alocar capital em projetos com passivos ambientais e sociais elevados. O caso da JBS, que enfrentou restrições na Europa devido a fornecedores envolvidos em desmatamento ilegal, ilustra bem esse ponto. Empresas que não se adequam podem ser excluídas de mercados-chave.
Impacto da IA
A digitalização e o uso de inteligência artificial vão impactar esse setor, na opinião de Renato Raposo, fundador da Façamos – Treinamento em Relato de Sustentabilidade. Ferramentas avançadas podem automatizar a coleta e análise de dados para relatórios, facilitando a transparência e reduzindo custos. Ele entende que agências de classificação de risco e investidores podem utilizar essas tecnologias para avaliar automaticamente a sustentabilidade das empresas, tornando a prestação de contas ainda mais rigorosa.
Pressão dos mercados
No Nordeste, onde poucas empresas são de capital aberto, a tendência é que a regulação chegue por meio da pressão dos mercados internacionais e das cadeias produtivas. Empresas como Moura Dubeux, Grupo Moura, Suape e Chesf já se adiantam nessa agenda, mas o impacto ainda precisa ser mais bem compreendido por pequenas e médias empresas, sustenta Raposo.
Oportunidades
Diante desse cenário, é fundamental que as empresas brasileiras, independentemente do porte, se preparem para as novas exigências. Além da conformidade regulatória, a adesão a práticas sustentáveis pode abrir portas para financiamentos, parcerias e novos mercados. A transparência e a prestação de contas deixaram de ser apenas um diferencial e se tornaram uma necessidade estratégica para a sobrevivência empresarial no século XXI.
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