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O agronegócio segue em expansão nos campos nordestinos. Conforme números do Banco do Nordeste, os estados da Bahia, Maranhão e Piauí puxaram os financiamentos, seguidos por Pernambuco e Ceará. De 2020 até o ano passado, BNB destinou, com recursos do FNE (Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste) mais de R$ 69 bilhões em financiamento para o agro nordestino. A agricultura foi o destino principal dos investimentos.
No período, o Estado da Bahia alocou mais de R$ 18 bilhões, com a pecuária recebendo R$ 6,9 bilhões e a agricultura R$ 12 bilhões; seguido pelo Maranhão, com R$ 11 bilhões (R$ 6 bilhões para pecuária e R$ 5 bilhões para agricultura. O Piauí ficou na terceira posição, com mais de R$ 9,8 bi (R$ 3,5 bilhões para pecuária e R$ 6,3 bilhões para agricultura). Esses estado integra a região do Matopiba.
Matopiba é um acrônimo que denomina a região por onde se estende esses três estados, mais o Tocantins, cujas primeiras sílabas dão nome a uma fronteira agrícola. Na década de 2010 diversas transformações socioeconômicas ocorreram nessa área como a infraestrutura viária, logística e energética, tendo, entre outras consequências, o surgimento deste polo agrícola, onde se faz uso de tecnologias agropecuárias de alta produtividade.
Pernambuco e Ceará, que ficam fora dessa região, atraíram financiamentos mais tímidos, mais ainda assim expressivos. Pernambuco recebeu cerca de R$ 5,6 bilhões (R$ 3,6 bilhões na pecuária e R$ 2 bilhões na agricultura), e o Ceará, contou com R$ 4,6 bilhões (R$ 3,5 bilhões para pecuária e R$ 1,1 bilhão para agricultura).
O diretor de planejamento do BNB, Aldemir Freire, destaca que as atividades que mais buscaram financiamentos no setor rural foram os cultivos de grãos, a bovinocultura de corte e leite, além de fruticultura.
Setores
Os segmentos de agricultura e pecuária, isoladamente, respondem por 30% de participação cada no total financiado pelo banco. Assim, no geral o agronegócio vem respondendo por 55,7% do financiamento do BNB, enquanto os setores de comércio e serviços, responderam por 35,2% do total de crédito entre 2020 a 2024.
“Deve-se destacar, nesse ponto, que os dois setores em foco estão profundamente relacionados com duas políticas públicas de extrema importância para o BNB na sua lógica do financiamento ao desenvolvimento: o Pronaf e o PNMPO (Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado. O primeiro, tem sua grande força por meio do Programa Agroamigo, uma política pública de inserção e bancarização da população rural a partir do financiamento utilizando a metodologia de acompanhamento adaptada pelo BNB ao setor rural”, explicou Aldemir.
Já o PNMPO, responde pela representatividade dos financiamentos ao setor de comércio e serviços. O PNMPO é em mais de 95% representado por beneficiários que atuam nesses setores. Além disso, os setores de comércio e de serviços são considerados os mais dinâmicos da economia nordestina e, portanto, é esperado que essa representatividade se faça refletida nos números de financiamento.
Aldemir ressalta que o BNB tem linhas específicas para o financiamento da inovação no meio rural, englobando perfis de clientes do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) até os grandes produtores.
Para além do financiamento reembolsável, o BNB conta com subvenção econômica a partir de seus fundos de desenvolvimento científicos e tecnológicos, com o Fundo de Desenvolvimento Econômico, Científico, Tecnológico e de Inovação (Fundeci) e Fundo de Desenvolvimento Regional (FDR). “O Programa de Desenvolvimento Territorial do BNB se utiliza dos agentes de desenvolvimento, para junto dos empreendedores envolvidos em atividades vocacionadas em determinados territórios, solucionarem gargalos ao desenvolvimento das cadeias produtivas vinculadas”, explicou Aldemir.
Produtor Sebastião Freire: milho e aves
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O produtor rural Sebastião Freire do Nascimento Junior, 58 anos, do município sergipano de Frei Paulo, recorreu a financiamentos no Banco do Nordeste em Sergipe, para aquisição de equipamentos e viu dobrar a produção de ovos da Granja Mulungu, em Ribeira do Pombal, na Bahia. A granja, que tem 350 mil aves, possui máquina de ração, esteira, máquina de processamento de esterco, máquina de seleção de ovos e três caminhões, todos voltados para otimizar o tempo de produção. Recentemente, ele financiou junto ao banco R$ 6 milhões para compra de ração para as aves.
“Quando buscamos o primeiro financiamento, aumentamos a produção de 40 para 200 caixas diárias. E com o novo crédito, passamos de 300 para 560 caixas. O crescimento da produtividade também gerou novos empregos e aumentou a arrecadação de impostos do município”, destaca Sebastião.
“Quando a galinha põe ovos, eles vão para a máquina de seleção, onde são classificados em seis tipos. Após a seleção, os ovos são embalados e distribuídos num raio de 250 km de distância da fazenda”, explica Sebastião.
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Estrutura
Além da comercialização de ovos, a granja trabalha com tratamento de esterco dos animais, destinado a pequenos produtores rurais. Para dar conta das diversas atividades, a empresa conta com 36 empregados diretos que coordenam a produção das 350 mil aves de postura. Ao todo, são nove galpões para produção e recria, fábrica de ração, sala para classificação de ovos e salão para processamento de esterco.
Além da granja, Sebastião planta milho em Frei Paulo e investiu R$ 2,5 milhões, com recursos do banco, no plantio numa área de 1.200 hectares. Ele espera colher, no final deste ano, 200 sacas por hectare, pois na safra anterior colheu 150.
“O Banco do Nordeste sempre foi muito importante. Sou cliente desde 1998 e até hoje temos um bom relacionamento com o BNB e com os gerentes, que sempre prezaram pelo bom atendimento”, afirma.
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