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O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a aplicação do Memorando de Tarifas Recíprocas gerou forte reação global, especialmente no setor de biocombustíveis. A medida visa equiparar as tarifas de importação de produtos estrangeiros às taxas aplicada aos produtos norte-americanos pelos seus países de origem. Entre os itens impactados, o etanol foi incluído, causando preocupação entre os produtores brasileiros.
A União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA) e a Bioenergia Brasil divulgaram notas públicas lamentando a decisão, destacando que a medida coloca no mesmo patamar o etanol produzido no Brasil e nos Estados Unidos, apesar das diferenças ambientais e do potencial de descarbonização entre os dois produtos. As entidades criticaram a lógica de reciprocidade aplicada pelo governo americano e alertaram para os impactos da decisão na luta contra a mudança climática.
A Bioenergia Brasil, que representa nacionalmente o setor de açúcar e bioenergia, congregando dezesseis associações em dezessete estados e sendo a voz para 223 indústrias. A União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA) é a principal entidade representativa do setor sucroenergético no Brasil, com sede em São Paulo.
Na nota, as entidades brasileiras destacam que, se implementada, a medida representará um retrocesso significativo na agenda ambiental norte-americana, enfraquecendo os esforços globais para a descarbonização. Além disso, esperam que os estados americanos e a indústria local se posicionem contra essa iniciativa do governo Trump, buscando alternativas que não prejudiquem o avanço da economia verde.
Especialista entendem que a taxação pode comprometer o comércio bilateral de biocombustíveis, afetando a competitividade do etanol brasileiro no mercado internacional. As entidades reiteram a importância de políticas comerciais que reconheçam os benefícios ambientais do etanol de cana-de-açúcar, que tem menor pegada de carbono em comparação ao etanol de milho produzido nos Estados Unidos.
A União Europeia também reagiu com firmeza ao anúncio, classificando a decisão como “injustificada” e ameaçando uma resposta imediata. Especialistas avaliam que a medida poderá desencadear um aumento nas tensões comerciais entre os EUA e seus parceiros internacionais, gerando instabilidade nos mercados globais.
O memorando assinado por Trump estabelece que o Departamento de Comércio e o Representante de Comércio dos EUA conduzam estudos para a implementação das tarifas recíprocas. No entanto, a aplicação prática dessas novas taxas poderá levar meses, enquanto os impactos no comércio internacional ainda estão sendo avaliados.
Etanol: setor estratégico
Analistas alertam que a decisão pode gerar retaliações e negociações diplomáticas, especialmente entre os principais exportadores para os EUA. No caso do Brasil, a taxação do etanol afeta um setor estratégico, que busca expandir sua presença no mercado internacional com base na sustentabilidade e na eficiência energética. Os próximos passos da administração Trump e as reações das partes envolvidas serão cruciais para definir o futuro das relações comerciais entre os países.
Em resposta à decisão dos Estados Unidos de equiparar as tarifas de importação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manifestou indicando que o Brasil poderá recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) ou impor tarifas sobre produtos norte-americanos caso as novas taxas sobre o aço brasileiro sejam implementadas. Lula destacou a importância de manter relações comerciais harmoniosas, mas afirmou que o Brasil responderá de forma proporcional a qualquer medida que prejudique seus interesses econômicos.
Para o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, o comércio exterior deve ser uma via de mão dupla, onde ambos os países possam se beneficiar, e que o Brasil buscará alternativas que promovam um equilíbrio nas relações comerciais. Já o ministro de Minas e Energia do Brasil, Alexandre Silveira, classificou a medida como “desarrazoada”, destacando que não há menção à ampliação das exportações de açúcar brasileiro para o mercado norte-americano. Silveira enfatizou que, para que o plano seja verdadeiramente justo e recíproco, seria necessário eliminar as tarifas de importação para o açúcar brasileiro, uma vez que Brasil e Estados Unidos historicamente negociam açúcar e etanol de forma conjunta.
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