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Politização das redes sociais coloca negócios em risco

Decisão da Meta, de abandonar o programa de checagem de fatos mistura política e economia, ameaçando que usa as redes como negócio
redes sociais fake news
Liberdade para propagar fake news pode levar a restrições das redes sociais em vários países/ Foto: Pedro França/Agência Senado

Uma decisão que reverbera fortemente na economia com um complicador de o debate estar contaminado pela política. O anúncio do CEO da Meta, empresa que engloba o Facebook, Instagram e WhatsApp, Mark Zuckerberg, de que a empresa vai abandonar o programa de checagem de fatos nos Estados Unidos, deixou o mundo em suspense em relação aos efeitos e o alcance da decisão. Há o temor de que as redes sociais virem terra de ninguém, sem controle. Um espaço amplo e sem freio para o extremismo político. E que isso acabe prejudicando um mecanismo de negócio amplamente utilizado para o comércio.  

Presidente do Porto Digital, Pierre Lucena se diz preocupado com a “politização do business”. Lembrando o episódio em que o X (antigo Twiiter) foi proibido por mais de 40 dias no Brasil, ele teme os prejuízos provocados caso os produtos da Meta sejam tirados do ar. Isso porque, num mundo cada vez mais digital, as perdas econômicas seriam grandes.

“E o investimento que foi feito pelas empresas que colocaram produtos no Instagram? Que pagaram propaganda lá. Fizeram base por lá. Você coloca em risco um negócio por questões políticas. O negócio tá lá como um negócio ou ele tá ali para fazer política? Essa pergunta que ninguém quer responder”, destacou Pierre. 

Pierre Lucena, do Porto Digital, alerta para o risco da contaminação política na decidão da Meta Foto Instagram

Ele alerta para outras questões, que vão além da política ou da economia. Com a falta de um filtro, muitos crimes vão ocorrer e não há clareza do que vai ocorrer com o fim das checagens. 

“A gente não sabe como vai ficar. Isso é um fato. (hoje) são retirados conteúdos do ar todo dia. Você coloca uma imagem de uma criança lá, ele vai tirar, certo? Você fala um palavrão lá, ele não permitia. Como vai ficar a partir de agora?” indagou o presidente do Porto Digital, sobre a mudança de posição da Meta. 

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Professor e cientista político Hely Ferreira enxerga um outro problema, que é o debate sobre liberdade de expressão. Segundo ele, a agenda hoje em dia está sendo praticamente ditada pelas redes sociais, mas há pessoas que não têm filtro suficiente. Ele lembra uma frase do pai do liberalismo, John Locke, para dizer que há limite para essa “liberdade de expressão”.

“John Locke dizia: liberdade é o fazer tudo aquilo que a lei me garante. Há pessoas que usam de má-fé, se apropriam desse instrumento para querer enganar os outros. As redes sociais precisam ter responsabilidade com o que é feito em seus espaços. Isso não significa dizer que é censura. Censura é outra coisa. A irresponsabilidade nas redes pode causar estragos na vida de muita gente”, analisou o professor Hely.

Estragos das redes sociais

Sociólogo, cientista político, colunista da Band News, o professor Rudá Ricci avalia que as redes sociais já vêm provocando estragos ao longo dos anos no âmbito político e a situação pode se agravar com o fim dos mecanismos de moderação.

Professor Rudá Ricci afirma que as redes sociais já vêm provocando estragos ao longo dos anos Foto Instagram
Professor Rudá Ricci afirma que as redes sociais já vêm provocando estragos ao longo dos anos Foto: Instagram

“O problema é que de fato nós não temos nenhuma arma mundial para coibir esse pendor anti-civilizatório das megaempresas de comunicação, como a Meta. Os grandes aparelhos e fóruns multilaterais que foram criados depois da Segunda Guerra Mundial estão esfacelados. São só instituições simbólicas, de um tempo que já acabou. Então esse é o grande desafio que nós temos nesse momento”, avaliou o professor Rudá. 

A matemática financeira da Meta

Essa mudança no posicionamento do grupo Meta sinaliza componentes que envolvem, além da questão política, com a vitória de Donald Trump e uma guinada mundial à direita, um outro componente interno da empresa, de questão administrativa de corte de custo. Essa é a visão do cientista político e professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Elton Gomes.

Ele avalia que é “muito mais barato” partir para uma solução como a adotada pelo X (ex-Twitter) de notas da comunidade, em que os próprios usuários de autorregulam, evitando maiores distorções. 

“É mais barato do que você ter equipes dia e noite preparadas para poder fiscalizar conteúdo, uma coisa humanamente impossível. O volume de interações que você tem em redes como o Facebook ou o Instagram, excluindo o WhatsApp, que tem criptografia de ponta a ponta, é gigantesco. Então, para você manter equipes de prontidão para poder fazer moderação custa muito caro e a eficácia é baixíssima, porque você nunca vai conseguir dar conta”, explicou o professor Elton.

Ele acrescenta, também, que a vitória de Donald Trump precipitou a mudança na diretriz da Meta, algo que Zuckerberg já dava sinais há algum tempo, na visão do professor da UFPI. “Mark Zuckerberg chegou à conclusão que o clima político nos Estados Unidos e nos países do ocidente, nas democracias liberais do ocidente, está mudando a janela de Overton, como a gente fala da Ciência Política, está se movendo pronunciadamente da esquerda para a direita. Uma das pautas dessa direita conservadora em termos de costume liberal, em termos econômicos, é a liberdade de expressão. Inclusive a liberdade para que se possa cometer erros”, provocou Elton Gomes.

A reação à decisão da Meta

Mas toda ação precipita uma reação, como prega a terceira lei de Newton. O presidente do Porto Digital, Pierre Lucena, acredita que a mudança na Meta tem como pano de fundo a disputa econômica entre os Estados Unidos e a China. Nesse contexto, a Europa e países como o Brasil, que negociam com os dois lados, etram na mira da mudança.

“É óbvio que as democracias vão responder, vão reagir a isso. Porque a fala dele (Zuckerberg), carrega um conteúdo político e, principalmente, um conteúdo preocupante, que é a intromissão nas legislações de outros lugares, especialmente da Europa, que vem discutindo a responsabilização das plataformas pelos conteúdos que são colocados lá. Embora sejam remuneradas pelos conteúdos, não querem assumir a responsabilização do que está lá. Todo mundo é defensor da liberdade de expressão até o momento em que a sua filha tá sendo difamada na internet”, finalizou Pierre Lucena.

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