Paraíba e Rio Grande do Norte são os estados que devem fechar 2024 com o maior crescimento no Produto Interno Bruto (PIB) registrado no país, com 6,6% e 6,1%, respectivamente. Logo atrás, quatro estados tiveram bons índices de crescimento, sendo três deles da região Norte e um do Sudeste: Tocantins (6%), Amapá (5,8%), Espírito Santo (5,3%), Amazonas (5,2%). Outro destaque foi o Distrito Federal (5,1%).
De acordo com a Resenha Regional do Banco do Brasil, relatório mensal com os principais indicadores econômicos regionais, o panorama do crescimento do PIB das regiões Norte e Nordeste para o ano de 2024 será de 4,7% e 3,8%, respectivamente, ultrapassando a média nacional, de 3,5%.
Dessa forma, ambas as regiões são responsáveis por compensar os crescimentos menores do Sul (2,8%) e do Centro-Oeste (2,7%). A previsão do Sudeste ficou próximo da média nacional, com 3,7%.
O levantamento do Banco do Brasil, produzido em dezembro de 2024 e divulgado na última sexta-feira (3), mostra que 2025 está iniciando com um panorama desafiador para a macroeconomia, com um regime de política monetária mais restritiva, desvalorização cambial e inflação acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Para o economista e professor da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco (FCAP-UPE), Sandro Prado, “o desempenho econômico superior das regiões Norte e Nordeste em 2024 pode ser explicado por diversos fatores estruturais e conjunturais”. No Norte, a expansão da indústria extrativa mineral, particularmente voltada à exportação, contribuiu para o crescimento econômico, impulsionado pela demanda internacional por commodities minerais.
Já no Nordeste, o crescimento foi alavancado pela recuperação do setor de serviços, segmento que apresentou o crescimento do PIB isolado de 4%, representando uma parcela significativa do PIB regional total, e por investimentos em infraestrutura e energia renovável, como eólica e solar, áreas nas quais a região possui vantagem competitiva.
PB e RN registraram os maiores crescimentos
“A Paraíba é um estado com setores produtivos sólidos, e a participação da indústria tem sido relevante nessa composição. É importante dizer que nos últimos anos, o segmento teve uma participação próxima de 15% no PIB do estado”, destaca o presidente da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEPB), Cassiano Pereira.
“Em relação à Paraíba, precisamos que o governo estadual reduza a alíquota do ICMS, voltando ao mesmo patamar da Pandemia, e também solicitamos um novo Refis, para que os industriais possam ter mais facilidade para ajustar as contas, e fazer investimentos, gerando assim novos empregos e renda, colaborando diretamente para o crescimento do Produto Interno Bruto”, disse.
Para 2025, as expectativas da federação indicam uma elevação para a faixa de 0,4% do PIB, superando a banda de tolerância inicialmente pretendida de 0,25%. “Mas para isso se faz necessário um contingenciamento de recursos públicos e um alinhamento de esforços de todas as esferas de poder para impedir que o desequilíbrio fiscal se transforme em um entrave mais duradouro ao crescimento”, comenta o porta-voz.
PIB nacional fecha 2024 em baixa por conta do agronegócio
Segundo os dados levantados, o agronegócio foi o responsável pela deterioração da economia brasileira neste último ano. Se apenas o PIB agropecuário fosse considerado na análise, o cenário econômico brasileiro teria um resultado negativo de -2,5%. Contudo, o crescimento dos segmentos de serviço (3,6%) e indústria (3,3%) devem garantir o PIB médio nacional de 3,5%.
De acordo com o estudo, a região com o pior índice agropecuário foi o Centro-Oeste (-6,2%), seguido pelo Sudeste (-3%) e Sul (-2%). O Nordeste, apesar de apresentar um bom resultado no PIB geral, fecha 2024 com -1,7% no indicador em questão. Na visão dos especialistas, o cenário se deve as condições climáticas que impactaram a redução do rendimento médio das lavouras no último ano. Para se ter uma noção, os biomas brasileiros apresentaram recordes de incêndios em 2024.
“Em comparação com as demais regiões, o Centro-Oeste e o Sul sofreram maior impacto da retração no agronegócio, decorrente de condições climáticas adversas, como as fortes enchentes e inundações no Rio Grande do Sul e períodos prolongados de seca como registrados no Cerrado e no Pantanal, e de uma desaceleração na demanda internacional por produtos agrícolas”, explica Sandro.
Apesar do cenário desafiador do último ano, o documento prevê um crescimento de 7% em relação à última safra e 1,2% acima da primeira projeção. Além disso, 311 milhões de toneladas de safra são esperadas para 2025, de acordo com o prognóstico do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do IBGE.
Na avaliação do instituto, a melhora no rendimento médio, sobretudo da produção de soja, milho e arroz, notadamente os grãos com maior peso na produção, deve concretizar uma safra recorde no próximo ano.
NE mostra maior resiliência
Diante das adversidades enfrentadas pelo agronegócio nacional, o Nordeste conseguiu demonstrar mais resiliência econômica em diversos setores. Para o economista Wagner Brito, isso se deve ao “impulsionamento e investimentos nos segmentos de tecnologia, infraestrutura e na questão logística”, além do “aproveitamento de demandas reprimidas”, como a energia renovável, segmento no qual a região se tornou líder, representando 82,6% da energia solar e eólica nacional no último ano.
O economista Sandro Prado compartilha da mesma visão, atestando que setor de energia renovável foi um ponto de destaque na região. “Projetos em energia eólica e solar continuaram a atrair investimentos, especialmente em estados como o Ceará, o Rio Grande do Norte e a Bahia. A construção civil, puxada por investimentos públicos e privados em infraestrutura, também contribuiu significativamente para o crescimento regional, gerando emprego e renda”, afirma Sandro.
Na visão de Prado, o setor de serviços do Nordeste se destacou pela resiliência, com destaque para o turismo, que teve um desempenho positivo impulsionado pela retomada das atividades pós-pandemia e pela valorização das atrações regionais. “A hotelaria, a gastronomia e os serviços associados ao turismo foram fortalecidos pela demanda interna e pela crescente atração de visitantes estrangeiros”, comenta.
O comércio varejista, apoiado por políticas de transferência de renda e pelo dinamismo do consumo local, mostrou-se menos vulnerável aos choques sofridos pelo agronegócio. A região ainda se destacou no agronegócio como o cluster produtivo de fruticultura irrigada no São Francisco.
Cenário positivo para fruticultura e energias renováveis
De acordo com os especialistas, a desvalorização cambial é um preocupação a ser considerada e pode ter impactos mistos na economia do Nordeste em 2025. Neste cenário, setores exportadores, como o de fruticultura irrigada e energias renováveis, podem se beneficiar da maior competitividade internacional.
Para Wagner, a desvalorização cambial e a inflação prevista para 2025 podem apresentar tanto desafios quanto oportunidades. “A elevação dos preços de produtos importados pode intensificar a inflação, reduzindo o poder de compra da população nordestina, afetando significativamente o desempenho econômico da região. O consumo interno e a desvalorização podem levar ao aumento de inflação, já que os produtos importados ficam mais caros, afetando o poder de compra da nossa população”, afirma o economista.
Além disso, Sandro Prado ainda chama atenção para o encarecimento de projetos de infraestrutura com alta do dólar e aumento da taxa de juros através da taxa Selic, que na previsão do mercado deve fechar 2025 em 15%. “No Nordeste, projetos que dependem de equipamentos ou tecnologias estrangeiras podem enfrentar aumentos significativos nos custos de financiamento, gerando atrasos e inviabilizando iniciativas essenciais para o desenvolvimento regional”, comenta.
Apesar dos desafios, os economistas destacam pontos positivos no panorama econômico da região para 2025. Para Wagner Brito, há impactos positivos relacionados à desvalorização do real, especialmente no contexto das exportações. A moeda local mais barata torna os produtos nacionais mais competitivos no mercado internacional, beneficiando setores como o de fruticultura, que é muito forte em Pernambuco. Isso permite aumentar as exportações e gerar mais receita em moeda estrangeira.
A depreciação do real também atrai turistas estrangeiros, já que os destinos turísticos do Nordeste se tornam mais acessíveis financeiramente. Esse movimento pode impulsionar o setor de turismo e os serviços correlatos, gerando benefícios significativos para a economia local.
O economista Wagner Brito destaca que, para mitigar os riscos e maximizar os benefícios desse processo, é essencial que governos e empresas nordestinas adotem estratégias como a diversificação de fornecedores, investimentos em produção local de insumos e a busca por eficiência operacional. “Além disso, políticas públicas que promovam a estabilidade econômica e o controle da inflação serão fundamentais para assegurar um ambiente propício ao crescimento sustentável da região em 2025”, enfatiza Brito.
Prado comenta que a indústria de transformação voltada à exportação, embora menos expressiva na região, também pode se beneficiar. “Por outro lado, os setores dependentes de insumos importados, como a indústria química e de medicamentos, podem enfrentar aumento de custos, pressionando margens de lucro e preços”, afirma o professor.
A inflação, especialmente se impulsionada por custos de energia e alimentos, pode reduzir o poder de compra das famílias, afetando o consumo local, que é um dos motores da economia regional. “Programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, podem mitigar parcialmente esses efeitos, mas pressões inflacionárias prolongadas podem comprometer a recuperação de setores como o varejo e os serviços”, explica Sandro.
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