Raianne Romão (Especial para o Movimento Econômico)
A forte alta de um ponto percentual da Selic pegou o comércio varejista de surpresa. Anunciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na quarta-feira (11), a nova taxa básica de juros aumentou um ponto percentual, um cenário que não era visto desde maio de 2022, quando os juros foram elevados na mesma proporção. Em comunicado, o Copom atribuiu a elevação acima do previsto às incertezas externas e aos ruídos provocados pelo pacote fiscal do governo.
A notícia deixou o setor varejista em alerta, uma vez que as taxas de juros elevadas comprometem o comércio, principalmente no fim de ano, período aquecido para o segmento. Dessa forma, o impacto do choque de juros na economia real pode afetar os pequenos e médios empresários, uma vez que a alta da Selic afeta o crédito e investimentos no setor produtivo.
Para o economista da Fecomércio-PE, Rafael Lima, a situação afeta principalmente o consumo e o acesso ao crédito, tanto para consumidores quanto para empresas. “Os compradores ficam mais restritos ao crédito porque tudo fica mais caro, uma vez que a taxa de juros está mais elevada. Os investimentos, que muitas vezes precisam de financiamento, concorrem com o custo de oportunidade para aplicar esse montante em outra aplicação”, afirmou o especialista ao Movimento Econômico.
Rafael Lima acredita que o aumento da taxa afeta o empreendedorismo no Nordeste, principalmente nos segmentos que têm alguma influência de importação. “Alguns empreendedores podem buscar alternativas no mercado interno e acabar estimulando as cadeias de locais de produção, mas essa transição geralmente não é imediata ou suficiente”, destaca.
Já o coordenador do curso de Administração e professor do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE) Edgard Leonardo, acredita que, com o aumento da taxa, a região está diante de um cenário desafiador para os empreendedores nordestinos, que já enfrentam taxas de juros elevadas em um ambiente de negócios pouco estimulante.
“O elevado custo do capital decorrente da Selic alta pode levar muitos empreendedores em potencial a adiar seus planos de negócios, impactando negativamente a criação de novas empresas na região”, disse.
Aumento da Selic pode afetar empreendedores em potencial
Um ciclo de alta como esse aumenta o custo do crédito para quem quer montar um negócio. Segundo o relatório 2023 da (Global Entrepreneurship Monitor – GEM), o Brasil é o segundo país do mundo com a maior quantidade de empreendedores em potencial, totalizando 48 milhões de potenciais empreendedores.
“O aumento da taxa Selic pode impactar negativamente esses 48 milhões de brasileiros que desejam empreender nos próximos três anos, pois a elevação dos juros torna o acesso ao crédito mais difícil e caro, dificultando a obtenção dos recursos necessários para investimentos iniciais”, explica Edgar Leonardo.
O professor entende que o aumento da taxa Selic para 12,25% ao ano torna o crédito mais caro, o que pode dificultar o acesso a empréstimos para pequenas e médias empresas, reduzindo sua capacidade de investimento, afugentando os futuros empreendedores. “O custo para empreender fica mais alto e haverá uma dificuldade em acesso ao crédito justamente por conta disso, o que retrai a iniciativa empreendedora”, destaca.
Na visão do economista da Fecomércio-PE, Rafael Lima, as micro e pequenas empresas frequentemente dependem do crédito bancário para financiar capital de giro, expansão e até os juros mais altos. As despesas de empréstimos também aumentam, o que reduz a capacidade de investimentos.
“O custo para empreender fica mais alto e haverá uma dificuldade em acesso ao crédito justamente por conta disso, o que retrai a iniciativa empreendedora”, destaca. Nesse caso, Rafael acredita que a solução para esse panorama seriam políticas públicas, principalmente linhas de crédito específicas para dar suporte a esse empresário continuar suas atividades.
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