Representantes da TV Globo, Poder 360, Recife Ordinário e Movimento Econômico participaram de uma mesa-redonda sobre o futuro do jornalismo durante o REC’n’Play nesta sexta-feira (08). Foi a primeira vez que o Carnaval do Conhecimento adicionou em sua agenda de discussões uma conversa sobre as prospecções para o ofício em meio às recentes transformações tecnológicas e a mudança de modelo de negócio sofridas pela prática.
Inteligência Artificial foi o que abriu e inflamou o debate. Mas Angélica Tasso, gerente de jornalismo da Globo Pernambuco, logo extrapolou a questão de se a IA vai ou não substituir a figura do jornalista. “Não, mas seremos substituídos por quem sabe usá-la”, pontua.
Para Patrícia Raposo, CEO do Movimento Econômico, explica que, neste momento, se trata de “preparar as novas gerações do jornalismo para saber usar” a ferramenta, o que “libera o profissional para fazer o que é diferente e exclusivo”. O jornalista atua neste processo, segundo ela, como um corretor. Ele precisa “revisar” e “validar” se aquilo que foi produzido é bom o suficiente para ser publicado e, o mais importante, se é verdadeiro.
Tornou-se uma prática comum entre jornalistas utilizar modelos de LLMs, como o ChatGPT, para reescrever releases, complementar matérias ou escrever notícias factuais a partir das informações concedidas no prompt elaborado pelo profissional. Essa execução, no entanto, é mais difícil quando se trata de notícias com um peso de produção e apuração maior, como é o caso do dia a dia da economia e da política.
Novas práticas
Para essas editorias, a melhor forma de usar a IA é com o intuito de “processar o grande volume de dados que chega às redações”, como explica Mateus Netzel, diretor executivo do portal Poder 360. Netzel argumenta que as “tarefas repetitivas do dia a dia do jornalismo” têm a possibilidade (e devem) de serem automatizadas, mas “a essência do trabalho humano no jornalismo nunca será substituída.”
Mas ao mesmo tempo que “a IA nunca vai entrevistar alguém na saída do congresso”, como descreve ele, Tasso pondera que existem trabalhos impossíveis a um humano executar no mesmo tempo da demanda. A automatização da produção de matérias sobre os prefeitos vencedores durante as eleições feitas pela Globo é um exemplo.
Netzel aponta para a necessidade de “pessoas que não são jornalistas mas que precisam estar presentes para a completa execução do trabalho”, desde os cientistas de dados até os programadores. Angélica Tasso completa indo além: o jornalista “precisa incorporar essas capacidades” porque “o perfil que se procura agora é outro”.
Informação versus notícia
Monique Cabral, diretora comercial da Recife Ordinário, também participou da conversa falando de influenciadores, criadores de conteúdo e novas formas de propagação de informação.
O Recife Ordinário “nasceu com o objetivo de publicar memes e a cultura da capital e acender o orgulho da história pernambucana” na população. A página cresceu e além do conteúdo inicial, passou a divulgar matérias jornalísticas e também denúncias. Mas, “o Recife Ordinário é um portal de informação e não um portal de notícias”.
O futuro do jornalismo
Angélica Tasso responde otimista: “Como será o jornalismo daqui a um mês? Eu não sei! — e que bom poder dizer isso.” Porque, como completa Netzel, “nem mesmo quem consome informação hoje sabe como vai querer consumir informação amanhã.”
O principal a se perguntar, para Monique, é “onde as pessoas buscam aprofundar as informações que têm acesso”, mas sem esquecer como “capitalizar o trabalho do jornalista”, “que é o desafio primordial” da profissão desde seu início, conclui Patrícia Raposo.
Sobre o debate
O debate foi realizado por cinco personalidades envolvidas no âmbito do jornalismo e da comunicação. Entre eles estão Patrícia Raposo, jornalista e CEO do portal Movimento Econômico; Angélica Tasso, gerente de jornalismo da Globo Pernambuco; Mateus Netzel, diretor executivo do portal Poder 360; e, Monique Cabral, diretora comercial da Recife Ordinário e da agência Sou Leão do Norte.
A discussão foi mediada por Rosário Pompéia, jornalista e fundadora da LeFil Company, e contou com participações de Silvio Meira, presidente do conselho de administração do Porto Digital e um dos criadores do REC’n’Play.
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