A joia da coroa, a cereja do bolo, a última Coca-Cola do deserto. Houve um tempo em que as propagandas eleitorais gratuitas de rádio e TV eram tudo isso. Cada segundo a mais do que os adversários era festejado como gol em final da Copa do Mundo. Hoje, há quem conteste a importância da propaganda nas mídias tradicionais, que afirme que as redes sociais passaram a ocupar espaço grande na campanha eleitoral. Mesmo com esses questionamentos, os candidatos, por via das dúvidas, ainda disputam partidos aliados à tapa, para engordar o seu tempo na TV e rádio.
Nesta sexta-feira (30), tem início o que convencionou-se chamar em Pernambuco de guia eleitoral. Até o próximo dia 3 de outubro, candidatos de todo o país vão se desdobrar para chamar a atenção do eleitor para o seu nome e número. Na disputa pelas prefeituras, os candidatos são apresentados em blocos de 10 minutos em dois momentos do dia – na televisão, eles são veiculados às 13h e às 20h30; no rádio, às 7h e às 12h.
Além disso, outros 70 minutos são reservados diariamente para inserções curtas, de 30 ou 60 segundos, distribuídas ao longo da programação. Deste tempo, 42 minutos são destinados aos candidatos a prefeito e nos outros 28 minutos são apresentados os candidatos a vereador.
Essa vitrine é um ativo que nenhum candidato deve desprezar. Por mais que as mídias tradicionais disputem espaço com redes sociais cada vez mais fortes e streamings, a propaganda gratuita cumpre uma função, no período eleitoral.
“Qualquer visibilidade é importante na disputa eleitoral, porque o grande desafio a ser superado numa campanha, talvez o primeiro, seja obter visibilidade, e com isso conseguir, em alguma medida, atenção do eleitor ou da eleitora, num ambiente que é muito ruidoso, para usar um termo técnico. É preciso que haja redundância para que o ruído seja superado. Você tem muitos candidatos disputando essa atenção, então o ambiente é ruidoso. Portanto, qualquer visibilidade costuma ser relevante”, avalia o professor Juliano Domingues, jornalista, sociólogo, mestre e doutor em Ciência Política, com pós-doutorado em Comunicação.
Ele acrescenta que nas ciências sociais é difícil falar em “determinante” para o voto, porque há muitas variáveis que interferem. Ele lembra que houve mudanças importantes nos últimos anos, nas últimas décadas, em relação aos chamados “fluxos comunicacionais”, ou a forma como a informação circula. Também nos hábitos por meio dos quais as pessoas obtêm informação, incluída a informação relacionada ao processo eleitoral.
“Esse ambiente tá cada vez mais fragmentado, porque são muitas as possibilidades de difusão de informação e, também, por parte de quem consome, as possibilidades de fontes de informação são muitas e o ambiente é fragmentado. Antes de depender basicamente da rádiodifusão e do jornal impresso, não é mais assim. Qualquer visibilidade é importante, tende a contribuir. O quanto contribuem? É difícil de precisar, mas recomenda-se não desperdiçar esse recurso”, avaliou o professor Juliano.
Propaganda de rádio e TV atinge público específico
Mestre e doutor em Ciência Política pela UFPE e professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), o professor Elton Gomes comunga da opinião de que as mídias tradicionais ainda cumprem uma função importante na campanha, mas destaca que ela atinge um público específico, com menor poder aquisitivo e entre os mais velhos.
“A comunicação tradicional continua jogando um espaço muito importante, sobretudo no rádio, onde você tem o público que consome no curso de seu trabalho, o motorista de aplicativo, até mesmo um trabalhador manual, que deixa ali um radinho ligado, enquanto ele faz uma obra. Também as pessoas que vão para o consultório de dentista e ficam vendo a televisão aberta. O público mais velho e de menos poder aquisitivo ainda é muito ligado à comunicação tradicional de rádio TV. Então ela, continua sendo importante”, destacou Elton Gomes.
Professor de comunicação política e marketing político na UFPI, ele avalia, no entanto, que a TV e rádio já não são mais hegemônicas e determinantes para o sucesso eleitoral de candidatos. Ele acrescenta que esse tipo de campanha funcionou até 2014/2016, quando a redefinição de tempo e espaço propiciada pela tecnologia de informação mudou consideravelmente o perfil dessa estratégia de comunicacional dos grupos políticos.
“As eleições de 2018 foi disruptiva sob diversos aspectos. Estudos comprovam que a internet pensada em sentido amplo redes sociais e aplicativos de mensagens ocupam espaço muito importante, porque são baratas, permitem transmitir imagens, som e uma nova estratégia comunicacional, de maneira rápida e barata, com grande abrangência. E permitindo uma coisa fundamental para comunicação política, que a segmentação. Você pode criar estratégias de comunicação por raça, gênero, faixa etária, faixa de renda, para o público rural, para o público urbano e isso é uma coisa que os meios de comunicação tradicionais não têm, porque a audiência é muito diversificada”, colocou o professor Elton.
Números do Nordeste
Em 2021, Nordeste tinha mapeados 990 rádios e 207 TVs. Bahia, Maranhão, Ceará e Pernambuco se destacam em termos de presença de organizações de mídia, enquanto em Sergipe há o menor volume de projetos de comunicação. Com 1.794 municípios, várias cidades não terão propaganda eleitoral gratuita nem na TV, nem no rádio.
Em Pernambuco, apenas quatro dos 184 municípios terão a propaganda eleitoral na televisão: Recife, Olinda, Caruaru e Petrolina. Isso porque são as únicas cidades em que as emissoras estão sediadas.
A propaganda no Recife
Na capital pernambucana, o prefeito e candidato à reeleição, João Campos (PSB), detentor da maior coligação, terá quase o dobro do segundo maior tempo, Daniel Coelho (PSD). O terceiro maior tempo é o de Gilson Machado (PL), seguido por Dani Portela (PSOL).
- João Campos (PSB): 4 minutos e 45 segundos
- Daniel Coelho (PSD): 2 minutos e 39 segundos
- Gilson Machado (PL): 2 minutos e 5 segundos
- Dani Portela (PSOL): 30 segundos
Técio Teles, candidato do partido Novo, Ludmila Outtes da Unidade Popular (UP) e Simone Fontana do PSTU não terão direito a propaganda na tv e rádio porque seus partidos não atingiram a cláusula de barreira necessária para ter direito à propaganda.
João Campos também terá o maior número de inserções comerciais. Ao longo do primeiro turno, ele terá direito a 1.397 inserções, seguido por Daniel Coelho, com 781, Gilson Machado, com 613 e Dani Portela, com 149 inserções no primeiro turno.
A sequência de apresentação do programa, sorteada no último dia 24 pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PE), terá Gilson Machado como o primeiro a aparecer no vídeo, seguido por Dani Portela, Daniel Coelho e João Campos. Com o passar dos dias, essa ordem vai sendo alterada, seguindo a sequência sorteada pela Justiça Eleitoral.
O Movimento Econômico questionou as assessorias dos candidatos sobre como são o primeiro programa deles. Apenas Daniel Coelho e Dani Portela responderam à reportagem. Segundo a assessoria do candidato do PSD irá destacar o “Recife sem Filtro”, em linha com a narrativa que ele tem adotado em suas redes sociais.
Já a equipe de Dani Portela informou que o primeiro “será com apresentação dela e chamando as pessoas para acessarem as Redes Sociais – @daniportelapsol – que lá terão muitas informações sobre o programa de governo de Dani e as propostas”.
Veja também:
No Nordeste, 117.758 candidatos vão às ruas, com o início da campanha