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A taxa básica de juros da economia sempre foi um tema prioritário para os agentes que operam no mercado financeiro. Provavelmente é o principal indicador, pois baliza todas as decisões de investimento que precisam determinar o custo de oportunidade do capital antes de incorporar o prêmio justo de risco para cada operação.
Às vésperas das reuniões dos comitês de política monetária do Brasil e dos EUA, este tema domina a atenção das mesas, que procuram interpretar os vários aspectos envolvidos nas deliberações tomadas nestas reuniões. Não somente a meta da taxa de juros determinada pelo comitê, mas a justificativa e o placar das votações dos membros são objetos de análise pelas equipes de pesquisa econômica das instituições financeiras.
Evidentemente, sempre somos provocados a nos manifestar a respeito e nestas ocasiões percebemos ser importante esclarecer alguns conceitos que muitas vezes se perdem no debate acalorado sobre qual é o nível justo da taxa de juros.
Neste sentido, frequentemente percebemos a necessidade de esclarecer o conceito de Curva de Juros que, na nossa perspectiva, incorpora uma informação bem mais interessante sobre o comportamento da taxa de juros e sua influência na economia. A Curva de Juros é um gráfico que tem no eixo horizontal o tempo e no eixo vertical a taxa de juros. Para construir esta curva marcam-se pontos que ligam cada data de vencimento dos títulos de dívida emitida pelo Tesouro Nacional e sua taxa de juros de mercado associada.
É importante notar que todas as taxas são determinadas pelo mercado a partir da livre negociação dos títulos. Apenas a taxa de curto prazo é administrada pelo Banco Central a partir da meta estabelecida pelo Copom. É possível, portanto, que o Copom determine uma redução na taxa básica e as taxas futuras se comportem de forma oposta, subindo de patamar. Para os agentes que tem horizonte de longo prazo esta informação é crucial e muito mais relevante que as manchetes sobre a decisão do Copom.
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A informação da curva de juros é crucial para tomada de decisões de investimento, na medida que os investidores balizam sua expectativa de retorno (ajustada ao risco) com base na trajetória dos juros futuros. Para calcular o valor presente de fluxos de caixa futuros é necessário estimar a taxa de desconto adequada para cada horizonte de tempo.
São inúmeras as informações que se pode extrair da Curva de Juros, porém alguns padrões já fornecem uma boa leitura de como o mercado projeta o comportamento dos vários indicadores econômicos fundamentais como PIB, inflação, câmbio, emprego, entre outros. Abaixo alguns formatos clássicos e sua interpretação:
- Curva Ascendente (Normal): É o formato mais comum, onde os títulos de longo prazo têm rendimentos mais altos do que os títulos de curto prazo. Isso reflete expectativas de crescimento econômico e maiores riscos, como inflação, ao longo do tempo.
- Curva Descendente (Invertida): Ocorre quando os títulos de curto prazo têm rendimentos mais altos do que os títulos de longo prazo. Isso pode indicar que os investidores esperam uma desaceleração econômica ou uma recessão, com futuras reduções nas taxas de juros. Inclusive, este é o padrão que podemos identificar atualmente na curva de juros americana.
- Curva Flat (Plana): Reflete uma situação em que os rendimentos dos títulos de curto e longo prazo são praticamente iguais. Isso pode ocorrer durante períodos de transição econômica ou incertezas.
Tão importante quanto conhecer o patamar atual das taxas de juros é monitorar a dinâmica temporal da Curva de Juros. Por meio do acompanhamento do deslocamento da Curva de Juros é possível comparar o movimento de abertura (elevação) ou fechamento (queda) do formato da curva de juros em momentos distintos no tempo.
Comportamento da curva de juros
Abaixo podemos observar o comportamento da curva de juros, representada pelos títulos do Tesouro dos EUA, em diferentes momentos no tempo: junho/2024, maio/2024 e dezembro/2023. Como podemos observar, a situação atual (com base no fechamento de junho/2024), apresentou uma leve redução (fechamento) em relação ao patamar indicado por maio/2024. No entanto, em ambos os períodos, observamos que houve uma abertura (elevação) quando comparado com o patamar indicado para o fechamento de dezembro/2023.
Esse movimento foi explicado pela mudança nas expectativas do mercado em relação a inflação que se mostrou mais resiliente do que se imaginava ao final do ano passado. No Brasil sentimos a repercussão deste movimento na performance do câmbio, da bolsa e dos fundos multimercados.
O fenômeno da curva invertida em finanças é pouco comum, e refere-se a uma situação em que as taxas de juros de curto prazo são mais altas que as taxas de juros de longo prazo para títulos de dívida, como títulos do governo. Normalmente, a curva de rendimento (yield curve) tem uma inclinação positiva, indicando que os investidores exigem uma maior recompensa (taxa de juros) para emprestar seu dinheiro por períodos mais longos devido aos riscos adicionais, como a inflação e a incerteza econômica.
A curva invertida é considerada um indicativo de recessão econômica por vários motivos, todos relacionados à percepção e expectativas dos investidores sobre o futuro da economia. Aqui estão alguns pontos-chave que explicam esse fenômeno:
Expectativas de Crescimento Econômico Baixo ou Negativo: Quando os investidores acreditam que a economia está desacelerando ou prestes a entrar numa recessão, eles antecipam que o banco central (como o Federal Reserve nos EUA) reduzirá as taxas de juros de curto prazo para estimular a economia. Consequentemente, as taxas de juros de curto prazo podem se manter elevadas enquanto as taxas de longo prazo caem, resultando numa curva de rendimento invertida.
Mudanças na Política Monetária: Se os investidores esperam que o banco central diminua as taxas de juros para combater uma desaceleração econômica, eles começam a comprar títulos de longo prazo para “travar” as atuais taxas de juros mais altas antes que caiam. Esse aumento na demanda por títulos de longo prazo eleva seus preços e reduz suas taxas de rendimento (juros), contribuindo para a inversão da curva.
Impacto nos Bancos e Crédito: Bancos e outras instituições financeiras geralmente emprestam a longo prazo e tomam emprestado a curto prazo. Uma curva de rendimento invertida pode reduzir suas margens de lucro, levando a uma redução na quantidade de crédito disponível, o que pode frear investimentos e crédito, agravando uma recessão.
Percepções sobre a Inflação: Se os investidores acreditam que a inflação vai desacelerar, diminuindo a necessidade de altas taxas de juros no futuro, os rendimentos de títulos de longo prazo podem cair abaixo dos rendimentos de curto prazo.
Histórico Econômico: Historicamente, uma curva de rendimento invertida tem precedido muitas recessões. Os dados e padrões passados mostram que quando a curva se inverte, há uma probabilidade significativa de uma recessão ocorrer nos próximos 12-24 meses. Isso cria uma bolha de neve de expectativas negativas e comportamentos defensivos entre investidores e empresas.
Nos últimos 50 anos, observamos uma média de 14 meses, para o período compreendido entre a primeira data de inversão da curva e o início de uma recessão nos Estados Unidos. Por exemplo, na recessão de 2008 a curva de juros inverteu 22 meses antes, em janeiro de 2006.
Em resumo, a curva de rendimento invertida nos Estados Unidos é um sinal amplamente respeitado e monitorado para a previsão de recessões. Embora não seja um preditor perfeito e imune a falsos positivos, seu histórico e a lógica de suas causas fazem dele uma ferramenta importante para investidores, economistas e formuladores de políticas.
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