Líderes de empresas baseadas no Nordeste são os mais preocupados do Brasil sobre como a atual instabilidade econômica do país afetará seus negócios ao longo do ano. É o revela a edição de 2024 da pesquisa Agenda, promovida pela Deloitte Brasil com presidentes, diretores e gerentes de 411 empresas. Das 37 localizadas no Nordeste, a insegurança atinge 81% dos seus gestores. O índice é, inclusive, maior que a média nacional, que corresponde a 67%. Mas apesar da incerteza apontada pela maioria dos pesquisados na região, a expectativa dos empresários do NE é de expandir os investimentos nos nove estados, visando a qualificação dos colaboradores e a eficácia e a produtividade dessas organizações.
O recorte para o Nordeste mostra ainda que oito em cada dez empresários afirmam que aumentar as vendas será um desafio neste ano. Mesmo assim, a maioria deles (51%) vai priorizar a ampliação da receita em vendas e no volume de produção, enquanto 49% esperam melhorar a margem de resultado da empresa.
“O Nordeste reage mais rápido e sofre mais rápido com qualquer movimento econômico. Na pandemia, por exemplo, perdeu mais do que o resto do Brasil, mas quando tudo está bem, a gente consegue crescer mais do que o país. Então, é natural que uma região como o Nordeste sempre tenha mais preocupação com essa instabilidade por conta das lacunas”, detalha Edson Cedraz, líder de Government & Public Services e líder para as regiões Norte e Nordeste da Deloitte.
A preocupação dos empresários se dá, principalmente, devido à reforma tributária, que segundo Cedraz tende a trazer impactos mais negativos para a região Nordeste do que para as outras regiões. “Por conta do alto volume de incentivos que nós temos, a reforma vai trazer muitas incertezas e perdas. E a perda de incentivo vai precisar ser compensada com outras medidas. Então, essa instabilidade e insegurança, do que ainda não se tem total certeza do que vai acontecer, provoca a reação vista na pesquisa”.
Qualificação, IA e meio ambiente
Ainda para este ano, das 37 empresas pesquisadas no Nordeste, 51% preveem o aumento do seu quadro de profissionais. Apenas sete delas, 19%, vão se manter no mesmo patamar do ano passado, porém renovando o quadro de funcionários da empresa substituindo os atuais por profissionais mais qualificados para as funções já existentes. E apesar, segundo os pesquisados, de políticas de promoção à indústria tecnológica serem prioridade de investimento do setor público, há uma escassez de profissionais qualificados e especializados para trabalharem nas funções que vierem a surgir.
Um total de 97% dos empresários afirma que as companhias devem criar ou ampliar treinamentos para qualificação de funcionários. Além disso, 93% irão investir em qualificação tecnológica – inclusive para aqueles que não são profissionais de TI.
A preocupação se justifica pelos investimentos feitos na área e também pela inclusão da Inteligência Artificial (IA) no dia a dia dessas companhias. O objetivo é de que a ferramenta seja utilizada por essas empresas não só no oferecimento de seus produtos principais, mas no apoio à tomada de decisão no negócio: 86% dos respondentes afirmaram que pretendem estender o uso de IA para outras atividades ou produtos/serviços, como o apoio à análise e interpretação de big data e nas rotinas administrativas da empresa.
Empresários do NE e letramento digital
“Nos próximos cinco anos, em todo o mundo, algo em torno de 89 milhões de empregos serão destruídos por conta da IA, enquanto 69 milhões serão criados. Tem uma diferença negativa de 20 milhões, como se a gente estivesse perdendo mais emprego do que gerando. Mas não é culpa da IA. Esses 20 milhões são totalmente culpa da falta de letramento”, comenta Cedraz a respeito da necessidade da profissionalização dos trabalhadores sobre esta nova tecnologia.
Já sobre as questões ambientais, 68% das pesquisadas já adotam práticas ambientais, mas a ampliação dessas ações encontra barreiras como seu alto custo de implementação (59%) e o baixo nível de incentivo do setor público (55%).
Cenário nacional
Entre fevereiro e abril deste ano, a Deloitte levantou dados junto a 411 empresas espalhadas pelo Brasil. Juntas, elas somam receitas que correspondem a aproximadamente 20% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional de 2023. As companhias participantes são de prestação de serviços, TI e Telecomunicações, Bens de Consumo, Serviços Financeiros, 9% de Agronegócio, Alimentos e Bebidas, Infraestrutura, Comércio e Mineração, Petróleo e Gás.
Das organizações pesquisadas, 48% delas devem manter o quadro de colaboradores em 2024, mas 22% vão realizar substituições por profissionais mais qualificados. Cerca de 240 empresas já utilizam inteligência artificial em suas atividades ou em produtos e serviços oferecidos aos clientes, mas com a intenção de ampliar o uso para outras funções.
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