O conceito de multipropriedade ainda é novo para muitas pessoas, mas o mercado vem ganhando relevância nos últimos anos, alavancado, sobretudo pela proposta aliada ao turismo, onde várias pessoas adquirem uma fração de um imóvel e escolhem determinados períodos do ano para usufruir dessa estadia. O Nordeste já conta com 34 empreendimentos turísticos nessa modalidade, seja em construção ou operação, e a expectativa é que haja uma expansão nos próximos quatro anos.
Segundo a oitava edição do estudo “Cenário do Desenvolvimento de Multipropriedade no Brasil”, realizado pela Caio Calfat Real Estate Consulting e que foi lançado nesta quarta-feira (22), o turismo de multipropriedade alcançou um Valor Geral de Vendas (VGV) no Brasil no ano de 2023, de R$ 79,5 bilhões, um crescimento de 33% na comparação com os R$ 59,9 bilhões alcançados em 2022.
Esse resultado é fruto de 200 empreendimentos localizados em 19 estados brasileiros. Em Alagoas estão em construção duas unidades, uma delas no bairro de Riacho Doce, em Maceió, e outro na praia de Peroba, em Maragogi. O terceiro empreendimento, o Ipioca Beach Residence, já está em operação, na beira-mar de Ipioca, no extremo norte de Maceió.
Segundo a Caio Calfat Real Estate Consulting, o VGV vendido dos três empreendimentos em Alagoas é de R$ 610.993.904,00 e tem potencial para ultrapassar R$ 1,3 bilhão.
Na beira-mar da praia de Ipioca, bairro-distrito de Maceió, que é conhecido por ser a terra natal de marechal Floriano Peixoto, o segundo presidente do Brasil, o Beach Residence foi construído com a proposta de aliar modernidade e tranquilidade para os proprietários desfrutarem da estadia. Ele possui duas torres, com um total de 256 apartamentos, lazer e uma oferta de restaurantes e outros serviços.
Já em Maragogi, o Aruna Maragogi Resort está sendo construído na praia de Peroba e terá 210 apartamentos equipados com um ou dois quartos, área de lazer, restaurante, academia e outros serviços.
Também em Maceió, o Riacho Doce Beach Residence, trará uma proposta de unir apartamentos para estadia e para moradia. Ao todo, serão 303 unidades, sendo que 236 unidades estão sendo vendidas para residência e 67 para multipropriedade. Todas elas serão de frente para o mar da praia de Riacho Doce.
O empreendimento será administrado pela Livá, que já possui um portfólio que inclui resorts de bandeira internacional. O head de operações, Rafael Delgado, explicou que a unidade em Alagoas está em fase final de construção e tem previsão de inauguração em janeiro de 2025. Um dos diferenciais é que tanto hóspedes quanto moradores usufruirão de toda a infraestrutura do empreendimento, desde áreas comuns a outros serviços.
“Essa é uma modalidade que tem crescido no Brasil, com a junção de hotelaria, residência e multipropriedade no mesmo lugar. Esse formato imobiliário consegue democratizar as férias e baratear a viagem. Costumo dizer que nós enquanto administradora temos a responsabilidade de ofertar a melhor experiência para aquele hóspede, pois ele retornará várias vezes ao longo da vida”, disse.
Como funciona a multipropriedade?
A multipropriedade é um conceito imobiliário em que o comprador possui uma fração do imóvel e pode desfrutar de até quatro estadias por ano, de acordo com a fração investida, nesta ou em outras unidades pertencentes à administradora do imóvel adquirido.
“Na Multipropriedade, parte do imóvel é seu. Você pode ter ele por uma semana ou quatro por ano. A maioria dos produtos no Brasil é dividida dessa forma. Você compra um imóvel e soma a ele o fator tempo. Você pode dar, basicamente, quatro usos para o seu imóvel: ir passar uma semana com sua família, que é o principal, outra forma é por meio de intercâmbio, onde eu recebo uma semana em um imóvel em outro lugar do mundo. É possível ainda emprestar ou realizar um poll de locação, onde meu imóvel é disponibilizado para a administradora e ela se encarrega de realizar a venda fracionada em diárias e realiza uma divisão de valores”, explicou Delgado.
Um imóvel com vários donos é um conceito novo no Brasil e gera dúvidas, mas foi regulamentado, por meio da Lei 13.777, de 2018, normatizando direitos e deveres do multiproprietário.
“A Lei traz algumas premissas e segurança tanto para quem quer incorporar quanto para quem administra e compra. E trouxe segurança para os fundos, pois quando você precisa captar um dinheiro de mercado para consolidar sua operação como incorporação, com uma Lei que rege essa atividade, passa mais segurança para captar valores”, disse.
Nordeste tem potencial natural para multipropriedade
Unindo cenários litorâneos, de campo e praia, a região Nordeste reúne os pré-requisitos necessários para se posicionar como um importante player dentro desse mercado nos próximos anos.
O especialista em multipropriedade, Caio Calfat, explica que esse tipo de empreendimento iniciou há 12 anos no Brasil pelo Centro-Oeste e interior de São Paulo. A expansão para o Nordeste ocorreu de forma mais lenta, mas tem ganhado cada vez mais força.
“A gente tem uma faixa litorânea com belíssimas praias em todo o Nordeste, onde podemos unir conceitos de campo, praia, resort, hotéis boutiques, então isso é muito promissor. Acredito que a Bahia irá liderar esse aumento na região, pois tem clima interessante, é central: está perto de São Paulo, de Brasília e possui uma enorme possibilidade de trazer o turista europeu”, avaliou Caio.
Ele chama atenção para a necessidade de os setores públicos federais e estaduais desenvolverem estratégias de captação de turistas internacionais para fortalecer a cadeia do turismo de multipropriedade no país.
“O turismo no Brasil ainda é uma atividade nova, por incrível que pareça. Tão nova, que não temos grandes opções de financiamento de empreendimentos turísticos e isso é um gargalo imenso. A gente precisa também voltar a ter aquele fluxo de europeus entrando no Brasil pelo Nordeste, coisa que há 20 anos atrás tínhamos muito e desde a crise econômica de 2008 esse movimento tem sido menor”, afirmou.
“A Embratur e o Ministério do Turismo vêm atuando para posicionar o Brasil na rota do turista europeu. Também foi criado o Conselho Nacional de Turismo e estão sendo debatidos temas para buscar o estrangeiro de volta para o país. Acredito que o resultado dessas ações, teremos bons resultados nos próximos dois anos”, completou Caio Calfat.
Com projeção de crescimento para os próximos anos, o Nordeste segue atraindo olhares de investidores. A Livá também opera o resort Maraú Vivan Ecovit, localizado na península de Maraú, no Sul do litoral baiano, e prospecta outros investimentos na região.
“A Bahia tem as condições perfeitas, que une o turismo com praias de contemplação e acessos específicos. A Livá olha para o Nordeste com muito carinho por ser uma região onde o turismo tem resorts consolidados e agora alguns no formato multipropriedade, que exploram a sazonalidade, com um litoral extenso e um ecossistema diverso, o que propicia o crescimento da modalidade de turismo de multipropriedade”, disse.
Calfat também avalia que a multipropriedade vem amadurecendo no mercado brasileiro e os próximos anos serão importantes para desenvolver destinos e consolidar esse novo tipo de turismo. “No estudo que realizamos o aumento de 11% na oferta de empreendimentos mostra o impacto direto no sucesso do desempenho do setor no Brasil”, completou Caio Calfat.
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