Olinda renasce com gente criativa que produz de desenho animado a shows

A OCCA, a Estação da Luz, a Casa Balea e a Casa Criatura fazem projetos que vão de animação a shows, aquecendo a economia de Olinda alta.
A Casa Estação da Luz abriu em setembro do ano passado por iniciativa do cantor ‘olindense’ Alceu Valença com proposta de ser um centro cultural. Foto: Estação da Luz/Divulgação

O sítio histórico de Olinda voltou a ser um lugar frequentado pelas mais diversas tribos. E, ao contrário de alguns anos, quando se circulava pelo local, e só se encontrava a tradicional creperia aberta num sábado à noite, agora há casarões que abriram os seus portões para shows, exposições, lançamento de livros, o que levou mais pessoas a circularem e sentarem nas calçadas para beber uma cerveja num estilo próprio da cidade. À frente deste renascimento, estão pelo menos quatro empreendimentos: a OCCA, a Estação da Luz, a Casa Balea, a Casa Criatura, complementados por iniciativas como as festas do Casbah – que tem arrastado muita gente – e o Bar do Amparo – que tem música ao vivo finais de semana. 

“Os empreendedores se uniram e estão se juntando para fortalecer isso. Cada um tem seu estilo e público específico, mas há um público que frequenta todos”, resume a gestora-sócia da Estação da Luz, Natália Reis. Localizado num casarão belíssimo na Rua Prudente de Moraes, a iniciativa é um centro cultural criado pelo cantor ‘olindense’ Alceu Valença e a esposa dele, Yanê Montenegro. O local vai receber todo o acervo de Alceu. “A gente imagina que vai aumentar a quantidade de pessoas depois disso. Era um sonho do casal transformar o imóvel numa casa de cultura”, diz Natália.

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Este mês, está fazendo um ano que a Estação da Luz começou a funcionar. Inicialmente, a intenção era abrir a casa em 2020, mas veio a pandemia do novo coronavírus e o plano foi alterado. O local já recebeu cinco exposições, inclusive a atual que chama-se Comigo Ninguém Pode, do pintor e muralista Jeff Alan. O primeiro registro da casa é de 1832, quando ela já estava construída. Alceu comprou a casa em 2001. “Estando aqui, percebemos que é viável uma casa de cultura que fecha rigorosamente às 22h, pois estamos numa área residencial. Estamos crescendo, o público aumentando e não temos patrocínio. Não usamos posts patrocinados nas redes sociais. Só orgânicos”, comenta Natália, que atribui também atual efervescência a diminuição das restrições da pandemia que deixou muita gente com vontade de voltar a frequentar as ruas.

Na Estação da Luz já se apresentaram grupos de dança, ocorreram lançamentos de livros, entre outras atividades culturais. “Aqui abraçamos todas as artes”, diz Natália. O local também vai começar a oferecer oficinas de dança para os meninos de Peixinhos, um bairro mais popular de Olinda.

A Casa Criatura oferece uma programação cultural e oficinas, além de outros serviços prestados pelos seus idealizadores

A Casa Criatura, a Casa Balea e OCCA são coletivos de economia criativa e inovação que oferecem desde uma programação cultural até serviços de arquitetura, animação ou jogos digitais. E a implantação desses coletivos praticamente não teve o apoio do poder público municipal ou estadual, apesar da cidade ter equipamentos que poderiam estar contribuindo para atrair mais pessoas para o sítio histórico com programações constantes, como o Mercado Eufrásio Barbosa, que é aberto esporadicamente, o Cine Olinda, que foi restaurado e nunca inaugurado, o Cine Duarte Coelho, o qual virou uma ruína, e o Museu de Arte Contemporânea (MAC) que está “fechado temporariamente” há alguns anos.

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Os coletivos se implantaram com a força e a vontade dos empreendedores privados. “O nosso foco é cultura, design e inovação. Temos um laboratório crítico a serviço da cidade”, resume o “arquiteto de possibilidades” da Casa Criatura, Isac Filho. Lá, tem um laboratório de fabricação digital – que produz jogos educacionais – , estúdio de gravação audiovisual, um escritório de arquitetura e design. O evento mais conhecido da casa é a festa no quintal, “mas temos muitas outras coisas”, diz Isac.

O local também oferece oficinas para o público LGBTQIA+. E o laboratório de fabricação digital tem cortadora a laser e impressora 3D, entre outros equipamentos. “Tem que pensar o sítio histórico como um todo para as pessoas morarem e trabalharem”, comenta Isac, que tem o seu escritório de arquitetura no local. O coletivo desenvolveu um jogo digital para a Prefeitura de Serra Talhada com a finalidade de ajudar os alunos que apresentaram dificuldade de aprendizado depois da fase mais crítica da pandemia do coronavírus.

Escultura que participou de uma exposição no quintal da Casa Balea, onde funciona o ateliê do artista plástico Raoni Assis. Foto: Divulgação.

De todos os coletivos, a Casa Balea é a mais antiga. Antes, ela tinha o nome da Casa do Cachorro Preto. “Estamos aqui há 12 anos, onde tenho o meu ateliê. Fazemos leilões e exposições de arte. A vocação de Olinda é pra este tipo de movimentação. Durante muito tempo, fomos os únicos. Percebemos que ultimamente o Sítio Histórico está mais movimentado e fica mais seguro com a cidade com mais pessoas circulando, todos ficam menos expostos. Os roubos às casas diminuíram e os assaltinhos também”, comenta o coordenador e ilustrador da Casa Balea, Raoni Assis. Ele é neto de um senhor chamado Fernando Kennedy, que no final dos anos 70/começo de 80 era o faroleiro de Olinda e um dos escultores da cidade.

Uma das coisas que contribuíram para o fechamento de estabelecimentos em Olinda foi uma lei municipal, de 1992, que proibiu várias atividades por causa do patrimônio histórico da cidade. “As coisas têm que funcionar, como em todo lugar do mundo. Se tem um imóvel que está fazendo barulho para o vizinho, tem que fazer um tratamento acústico. Se tem tumulto, tem que ser responsabilizado quem está fazendo o evento”, comenta Raoni.

Ele também argumenta que “tem que se ajeitar a cidade para receber essa galera, não tem um banheiro público, um caixa 24 horas, nem uma farmácia no sítio histórico. Olinda tem muito idoso, tem que ter uma van para os idosos subirem e descerem as ladeiras”. Antes da pandemia, saíam da Praça do Carmo umas toyotas que circulavam por todo o sítio histórico.

A Casa Balea tem um estúdio de tatuagem, faz curtas de ficção em animação, recebe propostas de outros coletivos, produz shows e leilões de obras de uma geração mais nova de artistas plásticos pernambucanos, além de fazer ciclos de debates. “Não fazemos shows grandes, porque o nosso espaço não cabe e não queremos incomodar os vizinhos. Temos um café, mais os frequentadores bebem mais cerveja do que café”, afirma Raoni.

“Olinda está cheia de vida”, diz Kleber Dantas, um dos idealizadores da OCCA um Instituto de Ciência e Tecnologia no ‘Original Olinda Style’. Foto: Movimento Econômico

OCCA, um instituto de ciência e tecnologia no ‘Original Olinda Style’ …

A discussão sobre desenvolvimento econômico sustentável, a inovação e o metaverso são alguns dos temas que fazem parte do Instituto de Ciência e Tecnologia(ICT) chamado OCCA, que se instalou num casarão da Rua 13 de Maio em 2020. Toda a ambientação foi feita por materiais reciclados doados pelos próprios participantes do coletivo e seus conhecidos. O local é mais conhecido pelo Fogo de OCCA, um local hiperagradável onde acontecem shows que vem movimentando a noite olindense. Tão diversa quanto a cidade que escolheu pra se instalar, OCCA tem mais de 60 pessoas, sendo 30 bastante ativos, que incluem executivos, empresários, pessoal da área de TI, de comunicação, entre outras áreas. “É um formato de clube. Os amigos se encontram, tomam uma cerveja e vários negócios foram surgindo entre os participantes de OCCA, que cuida do ambiente, do relacionamento e da imagem enquanto ICT”, diz o fundador de OCCA, o empresário Kleber Dantas. No momento de fundação, o coletivo tinha 52 co-fundadores.

Um dos negócios que já surgiram lá foi o Fogo de OCCA, que fica na parte externa da casa, onde funciona um bar e são realizados shows num ambiente muito agradável, que é um grande quintal de uma casa antiga em Olinda com uma ambientação feita a partir de reaproveitamento de materiais (Upcycling). Outro projeto do grupo a ser lançado, nesta segunda-feira (12), vai usar um robô chamado numa plataforma tecnológica que ajude a avaliar as habilidades de 10 mil jovens, que vão ser capacitados em habilidades socioemocionais, criatividade e comunicação assertiva. “Depois dessa primeira etapa, a intenção é fazer com que os 1.500 jovens mais habéis sejam encaminhados para um curso de programação”, conta Kleber. Ou seja, serão qualificados para um mercado de trabalho que está precisando de gente qualificada.

O fato é que o local já recebeu a visita do ex-ministro Armando Monteiro Neto, de alguns deputados federais, do presidente do Banco do Nordeste, José Gomes da Costa, entre outros. E as visitas resultaram em apoios via emendas a alguns projetos inclusive o que foi citado acima.

O projeto mais audacioso de alguns participantes de OCCA é o Reconnectors, que pretende transformar o sítio histórico numa plataforma de gameficação, usando realidade virtual e pontos físicos na cidade que tem uma lenda de ser cortada por túneis que se comunicavam. Usando tecnologias como as realidades virtual e aumentada, o enredo narrativo dessa viagem será feita por Eron Vilar, a ilustração por Tony Silas, a parte teatral (live action) terá a assinatura de Célio Pontes e as instalações interativas pelo Midia Team, cujos sócios fazem parte do coletivo. O Midia Team já fez instalações interativas para o RioMar e o Museu da Compesa.

Os negócios dos participantes do coletivo que se instalam em OCCA pagam um aluguel que ajuda a manter as despesas e o aluguel da casa. A OCCA em si não participa de qualquer negócio, é.org e não tem fins lucrativos. “Podemos desenvolver pesquisas e estudos em qualquer área”, afirma Kleber Dantas.

Outro negócio que se instalou em OCCA foi o Hactus Criative, que produz, sob demanda, esculturas digitais e artefatos para decoração, logomarca etc. Outro negócio que terá sua sede no local é o Arco de Papiro, um sebo, que será conduzido por Tarciana Portela, ex-diretora do Ministério da Cultura em Pernambuco. E também está em gestão um curso de robótica que terá como público alvo os que já passaram dos 40. E alguns participantes também estão desenhando um projeto para trabalhar com blockchains (tecnologia usada pelas moedas digitais) para fazer NFTs, token criptografado que representa algo único. “É um espaço para aprender a pensar e juntar coisas de mundos diferentes”, conclui Kleber.

Ainda em OCCA, surgiu o projeto Olinda Aberta que foi realizado num final de semana no primeiro semestre deste ano, convocando as pessoas a exporem seus trabalhos artesanais e os moradores a colocarem suas cadeiras nas calçadas. Foi um final de semana muito agradável e a iniciativa contou com o apoio de moradores, artesãos e artistas de Olinda. O próximo Olinda Aberta vai ser no final de semana de 24 de setembro, quando estará sendo realizado o Congresso da Abav, no Centro de Convenções, que está apoiando o evento olindense.

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