A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa de juros básica da economia, a Selic, para 11,75% (elevação de 1 ponto percentual), gerou inúmeras repercussões, em diversos setores.
No agronegócio, foi recebido com pessimismo. “Isso vai provocar grande impacto nos custos do agro, com reflexos inevitáveis nos preços dos alimentos, commodities, insumos e biocombustíveis”, disse Fábio de Salles Meirelles, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP).
O dirigente lembra que o setor já vinha sendo seriamente afetado, nos dois últimos anos, pela escalada dos juros, pela pandemia, por intempéries e pela crise hidroenergética. Agora, com a invasão da Rússia à Ucrânia, há o fator agravante do risco no fornecimento de fertilizantes minerais. “Nesse cenário, os juros altos têm o efeito de uma bomba de fragmentação contra o agro, atingindo todos os seus segmentos simultaneamente”, alerta.
O Brasil importa mais de 80% do fertilizante que consome. Em 2020, demandou 40 milhões de toneladas, dos quais 33 milhões foram comprados no exterior. Deste total, 23% são provenientes da Rússia e 3% de Belarus.
As sanções econômicas aos dois países, em decorrência da crise geopolítica no Leste Europeu, ameaçam a produtividade agrícola. Para manter os crescentes rendimentos no campo, o fertilizante é essencial, somado aos avanços genéticos das sementes, ao conhecimento técnico dos produtores e à tecnologia empregada no campo.
O presidente da Faesp pondera que o Plano Nacional de Fertilizantes, que acaba de ser lançado pelo governo, é uma iniciativa importante, mas com resultados de longo prazo. “Neste momento, é prioritário garantir a produtividade agrícola, com a busca de novos fornecedores, como está tentando no Canadá a ministra Tereza Cristina, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Também é fundamental encontrar meios para que os produtores consigam crédito com juros mais baixos, pois a Selic como referência é explosiva”, conclui.
Juros altos terão impacto no IPCA
“O aumento seguiu a expectativa da última ata da instituição, que destacou inflação persistente, porém em uma magnitude menor, ou seja, uma redução do ritmo de ajuste dos juros básicos. Mas a piora expressiva dos balanços de riscos para inflação pode influenciar os novos rumos da política monetária”. A avaliação é do economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti.
Bertotti ressalta que o IPCA de fevereiro registrou a maior alta para o mês em sete anos (1,01%), acumulando na base anual de 10,54%, e com isso, o mercado já precifica uma Selic mais alta no fim do ciclo do aperto, com apostas em torno de 13,50%.
O economista-chefe lembra que, na ata da última reunião, os membros do Copom tinham sinalizado que reduziriam o ritmo de alta da Selic porque as elevações mais recentes ainda estavam sendo sentidas pelo mercado. Entretanto, a guerra entre Rússia e Ucrânia passou a influenciar a inflação brasileira, por meio do aumento recente dos combustíveis.
“Considerando o agravamento do cenário inflacionário global, com impulso do aumento dos preços dos combustíveis e a guerra na Ucrânia, os próximos meses serão desafiadores para economia brasileira, podendo refletir em uma nova disparada do IPCA e novos rumos em relação a deter condução da política monetária”, diz o especialista. A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 3 e 4 de maio.
Para 2022, a meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2% e o superior, 5%. Os analistas de mercado consideram que o teto da meta será estourado pelo segundo ano consecutivo.
Opções de crédito
O CEO da Pontte, Leandro Pasin, explica que com o aumento da taxa Selic, o Home Equity – ou crédito com garantia de imóvel, como é mais conhecido no Brasil – continua sendo uma das melhores opções para quem está em busca de empréstimo.
“Diferente da maioria das modalidades de crédito, o Home Equity não é comumente atrelado à taxa Selic e, por hora, as taxas não devem sofrer alterações. O brasileiro ainda consegue contratar um crédito justo, com taxas mais baixas e de longo prazo de pagamento. É uma opção bem mais vantajosa do que empréstimos pessoais, capital de giro e, em alguns casos, até melhor que o crédito consignado. Mas é preciso ter em mente que o atual cenário econômico do Brasil exige ainda mais planejamento para garantir a saúde financeira para quem opta por qualquer modalidade de crédito”.
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