Etiene Ramos
O Complexo industrial e Portuário de Suape lançou hoje (25), no Recife, o APP Suape – um aplicativo que coloca ‘na palma da mão’ informações de tráfego marítimo, operações portuárias, relação das empresas instaladas no território, além de projetos socioambientais e notícias da estatal pernambucana.
O APP usa o “Marine Traffic”, serviço online de rastreamento de navios em todo o mundo e por isso é capaz de determinar quantos navios estão a caminho de Suape, o tipo de carga transportada, a previsão de chegada, últimos portos onde atracaram, além de uma série de dados relevantes que facilitam a logística das operações em terra.
O aplicativo mostra ainda os navios já atracados ou fundeados no porto e as operações em andamento, usando ferramentas produzidas pelo SuapeGeo, uma plataforma de monitoramento dos navios, baseada em tecnologia de geoprocessamento e geolocalização já usada pela gestão portuária. “Estamos disponibilizando essas informações ao público, gerando impacto direto na competitividade e ganho de produtividade para os operadores portuários, que saberão dia, hora e minuto em que as embarcações vão chegar”, explica o diretor de Planejamento e Gestão de Suape, Francisco Martins.
O APP é o primeiro produto do Programa de Inovação de Suape que tem como meta tornar a empresa tão competitiva quanto o setor privado, elevando a performance do porto com uso intensivo de tecnologias. “Fomos desafiados, pelo secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Geraldo Júlio, a fazer de Suape o porto mais moderno do Brasil e estamos correndo contra o tempo porque 2022 já é 2026. O APP é a ponta do iceberg”, afirmou o presidente de Suape, Roberto Gusmão, na transmissão do evento pelo Youtube – já que, após testar positivo para a Covid-19, ele não pôde participar do lançamento, no Centro de Artesanato de Pernambuco, no Bairro do Recife.
Para cumprir o desafio, o Complexo irá investir R$ 5 milhões em um convênio com o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR) – parceiro no desenvolvimento do APP que será a base do Port Community System (PCS). Trata-se de uma plataforma que integra os sistemas dos operadores do comércio marítimo como exportadores e importadores, autoridade portuária, órgãos fiscalizadores e terminais portuários e já é usada em vários portos do mundo, permitindo redução de custos nas exportações e importações e aumentando a competitividade dos portos.
O Porto do futuro se faz hoje
Na apresentação do APP Suape, o cientista de dados Silvio Meira, um dos fundadores do CESAR, e que passando sua experiência sobre inovação à gestão do Porto de Suape, disse que até 2050, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a demanda dos portos por especialistas em navios e portos irá triplicar. “Hoje, 90% do comércio internacional é transportado por navios. Imagine o que é hoje, triplicado. Na maioria dos lugares, especialmente no ambiente marítimo, do ponto de vista da gestão, estamos no século 19 – praticamente 200 anos atrasados. Nos portos do mundo inteiro ainda acontecem coisas inacreditáveis, certos processos que não seriam estranhos aos capatazes do Porto do Recife quando Maurício de Nassau exportava açúcar”, comentou.
Comparando com Cingapura, onde esteve em 1995, Meira afirmou que é preciso pensar os processos associados à informação e repensar as formas como funcionam. “Na época, há 25 anos, o porto já liberava contêineres com navio ainda no mar. Isso não tem nada a ver com informação, mas com processos. Os operadores não entendiam como não podíamos fazer isso se os contêineres já estavam identificados”, relembrou, ressaltando a necessidade de que os portos se preparem para 2050 tratando informação com gestão estratégica no sentido de informação do negócio.
“Em Suape, o navio tem que passar o menor tempo possível, ser atendido da melhor forma possível, da maneira mais econômica, mais eficaz e mais eficiente possível. Essa disputa existe globalmente. Não vamos disputar baseados só na localização. As coisas não são decididas apenas pela geografia”, declarou a uma plateia de executivos e profissionais de portos e outros segmentos de logística.
Para Sílvio Meira, o que importa, tem valor, é ter informação precisa, na mão, para tratar problemas que envolvem milhões de reais, por dia, de custo de implantação se houver erro. “É sobre isso que estamos conversando e que trata o convênio de Suape com a Cesar School e discutimos em dez semanas de debates: transformação digital. Não é a figital, não vamos acabar com o espaço físico, mas ele está sendo aumentado, habilitado em um espaço digital e os dois estão sendo acumulados num espaço social”, apontou o cientista.
Em um momento em que a internet das coisas (IoT) vem ganhando cada vez mais espaço, ele alertou sobre “uma coisa virtual para a qual temos que nos preparar” é que, eventualmente, quem atracará navios no Porto de Suape será o porto em si, e não uma pessoa. “Na medida que os novos navios começarem a chegar nas linhas, vamos ter interação direta entre navios e portos. Isso não vai levar 30 ou 40 anos para acontecer, mas é grande a probabilidade de acontecer ainda nesta década”, vaticinou.