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Paraíba tem 1 milhão de pessoas usando a água do Velho Chico

No segundo dia da série de reportagens sobre o impacto da transposição, a matéria fala sobre a situação das obras complementares ao projeto em Pernambuco e na Paraíba
Adutora do Agreste
Em obras desde 2013, a Adutora do Agreste é a principal obra complementar que vai fazer a água da transposição chegar aos pernambucanos. Foto Foto: Dênio Simões / MDR

A transposição de águas do Rio São Francisco levou água a 1,65 milhão de pessoas na Paraíba e em Pernambuco. Dos 4 milhões de residentes da Paraíba, 1 milhão – ou seja 25% – tem água nas suas torneiras por causa deste projeto. Em Pernambuco, são 650 mil pessoas que usam as águas do Velho Chico. Entre os Estados citados nesta série, Pernambuco é o Estado que tem menos pessoas usando as águas do São Francisco por um motivo simples: a principal obra complementar que vai transportar a água, a primeira etapa da Adutora do Agreste, está em obras desde 2013.

A construção da Adutora do Agreste foi dividida em duas etapas. A primeira contemplará 23 cidades e beneficiará 1,2 milhão de pessoas. Atualmente, cerca de 600 mil pessoas em nove cidades do Agreste pernambucano recebem a água do São Francisco pelo sistema construído na primeira fase desta adutora. “Não tinha como abastecer estas pessoas sem a água do São Francisco”, afirma o secretário de Recursos Hídricos e de Saneamento de Pernambuco, Almir Cirilo.

A primeira fase da Adutora do Agreste tem a conclusão prevista para 2026, segundo Almir Cirilo. Para concluir esta primeira etapa serão necessários mais R$ 500 milhões, além do R$ 1,2 bilhão já empregados. O empreendimento é construído, majoritariamente, com recursos federais.

A segunda etapa da Adutora do Agreste vai beneficiar 45 cidades, podendo levar água a casa de 800 mil pessoas que moram em cidades menores do Agreste pernambucano, uma das regiões que tem maior estresse hídrico do Brasil. Ou seja, dos 2 milhões de pessoas que poderiam receber a água da transposição, via Adutora do Agreste, somente 600 mil recebem o líquido por falta de infraestrutura. Esta segunda fase tem um orçamento estimado em R$ 2 bilhões que serão bancados pelo governo federal. “A nossa intenção é fazer uma revisão do projeto da segunda etapa da adutora e iniciar as obras deste trecho em 2026”, diz Almir.

A partir do próximo ano, os governos estaduais vão começar a pagar pela água bruta do projeto da transposição. De acordo com Almir, o Estado está fazendo os cálculos pra decidir qual o impacto que isso vai ter.

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Ramal do ApodI Paraíba PB Transposição do Rio São Francisco
O Ramal do Apodi é uma das obras complementares à transposição que ainda não foi concluída. Foto: Casa Civil PR/Divulgação

Tanto em Pernambuco como na Paraíba grande parte da população beneficiada pelo projeto recebe a água do Eixo Leste, que começa em Floresta, sertão central de Pernambuco, e acaba em Monteiro, na Paraíba. O projeto também tem o Eixo Norte, que passa por Pernambuco e vai até o Ceará. Juntos, os dois canais tem 477 km de extensão.

Obras complementares à transposição na Paraíba

Na Paraíba, as principais obras complementares à transposição são o canal Acauã-Araçagi, que está em obras e vai contemplar mais de 40 municípios paraibanos e beneficiar cerca de 600 mil pessoas e o Ramal do Apodi.

A obra do Canal Acauã-Araçagi foi dividida em três lotes. O segundo foi inaugurado pelo presidente Lula (PT) em agosto último. “O lote 3 vai ser licitado em novembro, vai contemplar 28 municípios e será concluído até 2026”, explica o secretário de Infraestrutura e Recursos Hídricos da Paraíba, Deusdete Queiroga. A conclusão do canal custará R$ 300 milhões.

O sistema adutor Acauã-Araçagi atravessa terras de 12 municípios: Itatuba, Mogeiro, Itabaiana, São José dos Ramos, Sobrado, Riachão do Poço, Sapé, Mari, Cuité de Mamanguape, Araçagi, Curral de Cima e Itapororoca.

Outro ramal que vai beneficiar o Ceará e a Paraíba é o Ramal do Apodi, que também está em construção e passa pela Paraíba, a região oeste do Rio Grande do Norte e também vai beneficiar o Ceará.

A Paraíba já tem condições de usar a água do São Francisco na Região Metropolitana de João Pessoa. “Não usamos, porque não estamos precisando”, comenta Queiroga, acrescentando que o projeto de transposição viabilizou outras adutoras feitas pelo governo da Paraíba e foi “fundamental para salvar Campina Grande em 2017”. O Eixo Leste da transposição foi inaugurado em março de 2017 pelo então presidente Michel Temer, quando Campina Grande e 20 municípios do entorno correram o risco de entrar em colapso por falta de água devido a uma das maiores secas que já ocorreu no Nordeste.

Para o ano será o primeiro ano, que os Estados vão pagar pela água do São Francisco. “No primeiro ano, isso terá um custo de R$ 10 milhões para a Paraíba. Estamos decidindo se isso será colocado na conta de água dos paraibanos ou se o próprio Estado vai bancar esse custo”, revela Queiroga. No primeiro ano, os Estados só vão pagar 5% do custo da água e a cobrança só vai chegar a 100% no quinto ano.

“Se precisar de mais água, vamos pegar do São Francisco. Caro mesmo é a falta de água”, conta Queiroga. Ele diz que torce para que o governo federal implante um sistema de geração de energia solar no projeto da transposição, porque isso bancaria a maior despesa do proejto da transposição: a conta de energia.

As obras da transposição foram iniciadas em 2007. O projeto poderia levar água a 12 milhões de pessoas no Nordeste setentrional. Para isso, seriam necessários a implantação de todas as obras complementares, o que até agora não aconteceu.

Leia a primeira matéria desta série

Transposição trouxe segurança hídrica ao CE, mas falta acabar o Ramal do Salgado

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