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Crise hídrica impõe racionamento e afeta polo turístico em Pernambuco

Com reservatórios abaixo de 50% e possibilidade de chuvas abaixo da média, Compesa e Apac anunciam plano emergencial para o primeiro trimestre de 2025
O secretário executivo de Proteção e Defesa Civil do Estado, Clóvis Ramalho, deu detalhes sobre aa Operação Carros-Pipa
Em coletiva de Imprensa, governo do estado anunciou medidas contra estiagem/Foto: Raianne Romão/Movimento Econômico

O ano de 2025 começará com grandes desafios para mais da metade dos municípios pernambucanos diante da situação crítica de estiagem no estado. A situação levou a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), juntamente com a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), a Secretaria de Recursos Hídricos e Saneamento de Pernambuco e a Secretaria Executiva de Proteção e Defesa Civil a decretaram, nesta segunda-feira (30), um plano de contingência para o primeiro trimestre de 2025. A medida visa antecipar e preparar Pernambuco para um período crítico a ser vivenciado nesse período.

Até o momento, 94 cidades decretaram situação de emergência, em um cenário de escassez de recursos hídricos, que compromete o abastecimento de água e traz reflexos nas condições de vida da população e na economia local.

“Para além dos municípios citados já com emergência reconhecida, estudos internos da Compesa apontam para a necessidade de ampliação da restrições para mais cidades, tendo em vista a vulnerabilidade dos mananciais que os abastecem, caso as previsões de chuvas abaixo da média sejam concretizadas”, explicou o secretário de Recursos Hídricos e Saneamento do estado, Almir Cirilo, durante coletiva.

Segundo o monitoramento da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), Pernambuco encontra-se, na maioria de seu território, em condições de seca moderada a grave, com impactos diretos no abastecimento de água para consumo humano, especialmente nas regiões do Agreste e Zona da Mata.

Dessa forma, a Compesa anunciou que um novo calendário será apresentado para os moradores de 60 cidades do estado, que serão reveladas a partir desta sexta-feira (3). “Temos a necessidade de antecipar o nosso movimento, porque é preciso administrar e gerenciar o volume de água durante esses próximos três meses mais duros. Então, revisitar e reavaliar os calendários das cidades é o primeiro passo. Esse não é um calendário definitivo, mas sim contingencial. É um calendário de emergência para atravessar esses três meses”, explica o presidente da Compesa, Alex Machado Campos.

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A agência ainda afirma que a previsão climática para o trimestre janeiro/fevereiro/março de 2025 indica acumulado de chuva de normal a abaixo do normal e temperaturas acima da média climatológica para todo o estado de Pernambuco.

Ou seja, pode haver menos chuva do que o esperado e mais calor, sendo esse “um trimestre considerado seco para a Região Metropolitana, Zona da Mata e Agreste, enquanto que no Sertão, onde seria a estação chuvosa, poderão ocorrer pancadas de chuva isoladas de intensidade moderada a forte, porém concentradas em poucos dias, seguidos de períodos secos”, disse a diretora-presidente em exercício da Apac, Crystianne Rosal.

A dirigente ainda afirma que está sendo feito o monitoramento da seca e da irrigação no estado. “Disponibilizamos, todos os meses, um mapa chamado cobertura vegetal. E esse mapa mostra quão crítico está para a irrigação neste nível de seca”, questão essa que impacta diretamente a economia pernambucana, principalmente o cultivo da cana-de-açúcar, que corresponde a 36,1% de todo o Produto Interno Bruto (PIB).

Reservatórios do estado com volume abaixo de 50%

Além da previsão climática esperada para o primeiro trimestre de 2025, a Compesa chamou atenção para o aumento do consumo por parte da população, o que, para Alex, é “um produto do aumento do calor acima da média dos outros anos, o que fez os reservatórios, por força da evaporação, começarem a baixar rapidamente”. Dessa forma, o volume dos reservatórios está em situação alarmante.

No Grande Recife, o volume chega a 53% em dezembro deste ano, 27 pontos percentuais a menos do que no mesmo período de 2023, quando o volume chegava a 80%.

turismo Porto de Galinhas
O turismo no Litoral Sul pode ser afetado diante da situação alarmante das barragens. Foto: Chico Andrade.

De acordo com o monitoramento hidrológico da Apac, dos reservatórios que abastecem a Região Metropolitana do Recife, um está em colapso – a barragem de Goitá, que está com sua acumulação em 5,5% de seu volume –, e dois estão em pré-colapso – as barragens Bita e Utinga, que estão com 13% e 13,8% de seu volume, respectivamente, sendo responsáveis por cidades do litoral e que são pontos turísticos em alta temporada, como Porto de Galinhas, em Ipojuca, e Cabo de Santo Agostinho. “Estamos administrando o volume de água para as regiões de praia, levando em conta o turismo que ocupa essa área. Vamos fazer um regime especial para essas cidades nesse período”, conta Alex.

No Agreste, as barragens possuem somente 38% de volume de água, enquanto no Sertão, diminuiu para 31%. “Uma barragem secou completamente, como no caso de Águas Belas [município do Agreste de Pernambuco]. Isso só mostra o quanto precisamos administrar os volumes que já temos e apoiar isso com programas emergenciais”, afirma o presidente da Compesa.

Medidas de emergência

O secretário de Recursos Hídricos e Saneamento do Estado, Almir Cirilo, anunciou que R$ 188,9 milhões serão investidos na implantação de sistemas de abastecimento de água em comunidades. Dessa forma, moradores dos municípios de Bezerros, Caruaru, Jataúba e Vitória de Santo Antão, no Agreste; Betânia, Cabrobó, Flores, Petrolândia, Serra Talhada e Tupanatinga, no Sertão; e Palmares, na Zona da Mata Sul, serão beneficiados.

Além disso, o secretário confirmou a implantação de 400 novos sistemas de dessalinização com energia solar, com um investimento de R$ 40 milhões. Para 2025, está prevista a construção de mais 400 equipamentos, além da instalação de 600 poços.

Por sua vez, o secretário executivo de Proteção e Defesa Civil do Estado, Clóvis Ramalho, confirmou o reforço do Exército na Operação Carros-Pipa. Dessa forma, 385 carros-pipa serão enviados para o Agreste, 483 para o Sertão e 2 para a Zona da Mata, beneficiando um total de 502.299 pernambucanos.

Vale destacar que as infraestruturas voltadas ao atendimento da população rural, que já têm recebido grande prioridade nos investimentos, também estão sendo reforçadas. Desde janeiro de 2023, foram entregues 20 sistemas simplificados de abastecimento – que se espalham pelos Sertões, pelo Agreste e pela Mata Norte –, num investimento total de R$ 31,7 milhões.

A Compesa também está apostando em medidas emergenciais para mitigar os impactos da falta de chuvas no abastecimento da população, como a ativação de captações antigas. Além disso, obras estruturantes, como as adutoras do Agreste, Alto Capibaribe e Serro Azul, estão sendo realizadas para garantir segurança hídrica e avançam rumo à conclusão.

Papel da população

Durante a coletiva, Alex Campos chamou a atenção da população para o período emergencial, afirmando que “a participação cidadã no consumo racional de água é de extrema importância” e que é necessário “contar com a colaboração de todos na moderação do uso da água”.

Ao final deste período, quando o volume de chuvas for normalizado e o estado entrar na estação chuvosa, a Compesa reavaliará as mudanças no esquema de distribuição de água nas cidades.

Apelo agora é para o uso consciente da água/Foto: Pixabay

“Nossas equipes técnicas continuarão monitorando os mananciais, e qualquer alteração no quadro atual, como é esperado com o início da quadra chuvosa a partir de março, será prontamente revertida na diminuição dos rodízios, que, nesse momento, são inevitáveis. Entretanto, o uso consciente e racional da água agora será fundamental para atravessarmos esse momento. A conscientização pode evitar desperdícios e contribuir para a gestão sustentável dos recursos hídricos disponíveis”, finalizou o presidente da Compesa, Alex Campos.

Panorama no Brasil e no Nordeste

No país, a seca atual teve início em junho do ano passado, se arrastando por um ano e meio. No total, 197 cidades brasileiras enfrentaram, no mínimo, nove meses consecutivos de estiagem, segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden).

No Nordeste, de acordo com o último boletim do Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas (ANA), datado de novembro deste ano, devido à piora nos indicadores, a seca moderada, classificada como S1, avançou para seca grave (S2) em quatro estados: Alagoas, nordeste da Bahia, Maranhão e Sergipe.

Contudo, nos demais estados, houve uma redução na gravidade, passando de seca grave (S2) para moderada (S1) no sudoeste do Piauí, oeste de Pernambuco e no extremo sul do Maranhão. A tendência se repetiu no sul da Bahia, que teve sua estiagem classificada de moderada (S1) para fraca (S0).

Em 2013, o Nordeste enfrentou a maior estiagem desde 1963, o ano mais seco da história em diversas cidades brasileiras. Há 11 anos, Pernambuco registrou a morte de 200 mil animais, com o abatimento precoce de 528 mil, além de uma redução de 70% na produção de leite no estado, o que afetou o sustento de famílias que viviam da pecuária leiteira.

Uma estiagem semelhante foi registrada em abril de 2020, com 78,58% do território pernambucano em seca. Já em setembro deste ano, a situação melhorou, mas ainda permaneceu grave, com o estado registrando 70,27% do seu território prejudicado pela seca. Na ocasião, o Governo do Estado decretou situação de emergência para 59 cidades do Agreste e 55 do Sertão, totalizando 114 municípios – o equivalente a mais de dois terços do território pernambucano.

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