Por Patricia Raposo
O terceiro trimestre deste ano abre nova temporada para as ofertas iniciais de ações no mercado brasileiro, os chamados IPOs. Há ao menos 34 empresas na fila para estrear na B3 neste período, fazendo de 2021 um ano muito aquecido. Entre as próximas estreantes, apenas uma é do Nordeste, a Brisanet.
“Até maio passado ocorreram24 IPOs. Em todo ano de 2020 houve 28 IPOs e esse é o maior número desde 2007, quando foram realizados 64 lançamentos”, explica Eduardo Luque,sócio-diretor do Grupo IRKO.
Entre as empresas que já fizeram IPO este ano só uma é nordestina, a baiana Petro Reconcavo, com emissão R$ 1 bilhão. “Foi uma empresa muito bem avaliada, embora tenha obtido um preço um pouco abaixo da expectativa, mas isso se deveu muito mais ao contexto do que à empresa em si”, analisa Luque.
Nesta nova temporada, a nordestina que vai fazer IPO é a cearense Brisanet, provedora de internet, que tem expectativa de captar R$ 2 bilhões. A Brisanet foi criada em 1998, na cidade de Pereiro, região semiárida cearense, e é considerada um case de sucesso. No ranking da Anatel, a Brisanet lidera o segmento de pequenos provedores com 1,7% do market share e já ultrapassou a TIM em número de acessos – são 718 mil contra os 671 mil da telecom italiana.
Um fato que chama atenção é que no Nordeste existem empresas com boas teses para captar no mercado, visando à sustentação de seu crescimento e à geração de novos negócios, mas poucas se arriscam a fazer IPO.
“É uma questão cultural. Como não têm interesse em abrir capital, as empresas não se prepararam para esse processo e acabam não atraindo o olhar dos agentes que poderiam estimular essas operações, como os bancos de investimentos”, analisa Luque. No seu entendimento, as empresas de sucesso da região preferem manter o legado dentro da gestão familiar.
Mudança de perfil
Luque ressalta que há uma diferença no perfil das companhias que abriram capital em 2007, no grande boom, e as de agora: a geração 2020 são de menor porte e têm uma atuação em segmentos mais diversos. Algo que é positivo para as empresas nordestinas. “Em 2007 as empresas tinham que ser bem maiores para ter sucesso num IPO”, analisa.
Um dos fatores que tem motivado a boa onda de IPOs é que as empresa não precisam ter necessariamente lucro e caixa positivo. “Temos visto muitas empresas de tecnologia que não têm histórico de lucro conseguindo bons resultados. Isso é possível porque o mercado acredita nos novos segmentos”, diz Luque.
As empresas que fazem opção pela abertura de capital apostam no bom nível de liquidez no mercado e num cenáriode juros ainda propício para os investimentos em ações. A atual valorização das commodities anima. Ela guarda similaridade com o ano de 2007, quando elas também tiveram forte valorização global.
A expectativa de uma taxa de juros a 6,5% no final do ano e um IPCA a 6,20% parecem não desanimar os investidores. “O índice de valorização do Ibovespa de março a maio ficou em 14%. Se olharmos o índice do setor privado de emissão de dívida, títulos privados com risco de crédito triplo A, a taxa ficou em 10,7%. A bolsa segue atrativa”, analisa Eduardo Luque.
Há fatores estruturantes também a serem considerados, como o novo perfil de investimentos no Brasil. Luque ressalta que o número de investidores ativos na bolsa entre outubro de 2019 e outubro de 2020 teve um crescimento de 100%. Quando se comprar maio de 2020 e maio de 2021, esse volume cresceu 50%. “Os investidores ativos são quase 4 milhões. E a maioria são pessoas físicas”, ressalta Luque.
Mas isso é pouco diante do potencial que o mercado tem a oferecer. O Brasil tem ainda muito o que crescer. O país conta com 400 empresas listadas em bolsa, contra 6 mil dos EUA, menos de 10% do volume norte-americano. “Mas, as estimativas são de que em cinco anos subiremos para 1.500 empresas”, diz.