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Trade turístico lamenta medidas tardias contra falta de água e calcula prejuízos

Estiagem piorou níveis de reservatórios, o que já provoca falta de água em destinos turísticos
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Compesa diz que Porto de Galinhas é um dos destinos que terão racionamento mais rigoroso. Foto: Chico Andrade

As incertezas sobre o impacto da falta de água devem assombrar o turismo pernambucano, pelo menos, até março. Esse é o prazo estimado por autoridades da área de recursos hídricos para fazer novas avaliações sobre a estiagem que afeta o estado e que, nesta semana, levou a um anúncio de racionamento de água em destinos como Porto de Galinhas, no Litoral Sul, e Gravatá, no Agreste. Quem atua no setor, porém, diz que já vivencia o problema há meses e critica o fato de só agora medidas estarem sendo tomadas.

Em Gravatá, um dos polos mais movimentados durante as festividades de fim de ano, o relato é de que as torneiras ficaram vazias em pleno Natal. Na sede do município, o período sem água era de uma semana, mas há localidades em que esse intervalo chegava a duas semanas. Nos primeiros dias de 2025, porém, o calendário atualizado pela Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) indica o agravamento da situação. Em pleno centro da cidade, a previsão é de 11 dias sem água para três com abastecimento ao longo de todo o mês de janeiro. Ainda não há definição sobre fevereiro e março.

Vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (ABIH-PE) e proprietário de um hotel em Gravatá, o empresário Eduardo Cavalcanti confirma que dezembro, quando a cidade estava lotada de turistas, foi um mês com desafios para o setor administrar no que concerne à água. Com R$ 600 gastos por caminhão-pipa, ele faz as contas das despesas a mais que teve que realizar para não deixar que o desabastecimento fosse sentido pelos hóspedes em pleno Natal e Réveillon.

“Tivemos esses anúncios recentes sobre o problema, mas sentimos o reflexo desde setembro, com piora em dezembro. Tivemos que colocar 40 caminhões-pipa de 30 mil litros para resolver a situação, porque o hóspede não tem culpa de estar em um lugar que fica uma semana sem água. A conta continua chegando, mas a água não chega. O custo duplica. Os hotéis grandes enfrentam essa despesa grande. Mas e uma pousada pequena que não consegue pagar as duas contas [a da Compesa e a do caminhão-pipa]?”, questiona.

O executivo diz que em outras localidades, como Porto de Galinhas, também houve dificuldades, mas que a situação foi menos sentida pelos grandes hotéis e resorts, por dependerem em menor proporção do abastecimento feito pela Compesa. “O relato é que em Porto de Galinhas foi um caos, mas que os hotéis maiores, que têm poços, conseguiram se virar. A preocupação é com o pacote de férias lá e em outras localidades. Aqui onde estamos, temos uma expectativa de 80% de ocupação em janeiro”, relata.

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No litoral, gigantes do turismo amenizam falta de água com poços

Apesar dos relatos e de a própria Compesa ter anunciado um sistema de rodízio mais rigoroso e ainda não detalhado para o Litoral Sul, o calendário da companhia indicava, na sexta-feira (3), que há abastecimento diário em localidades de Porto de Galinhas e na praia de Muro Alto. Perto dali, porém, na sede do município de Ipojuca e também no Cabo de Santo Agostinho, o esquema de fornecimento previsto para janeiro é de um dia com água e dois sem.

No Litoral Norte, praias situadas em municípios como Paulista e a Ilha de Itamaracá têm um calendário menos rigoroso – de um dia com água e outro com abastecimento parcial –, mas o trade local já se preocupa com a regularidade da oferta de água ao longo deste período de férias, quando o número de frequentadores na região pode até quadruplicar.

“Entre nossos associados, temos empreendimentos maiores, como a hotelaria e os parques, que têm poços e sofrem menos com esse problema. Mas há setores em Itamaracá que têm se queixado muito, porque neste momento de férias a ilha passa a ter quatro vezes mais frequentadores, e a falta de água, sem dúvida, é um problema”, afirma Antônio Júnior, presidente do Trade Maria Farinha, associação que reúne mais de 150 representantes de empreendimentos turísticos no Litoral Norte pernambucano.

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Mais de 50 dos 172 reservatório de Pernambuco estão em nível crítico ou de alerta. Foto: Compesa/Divulgação

Estiagem e evaporação da água acentuaram crise hídrica em PE

No caso de Ipojuca e do Cabo de Santo Agostinho, as dificuldades decorrem dos níveis das barragens Bita (13%) e Utinga (14%), que compõem o Sistema de Abastecimento de Suape. Para manter o atendimento das áreas que antes recebiam água desses reservatórios, a companhia precisou direcionar água do Sistema Pirapama, o que já implica em um déficit hídrico de 120 litros de água por segundo. A reversão desse esquema mais rigoroso só será avaliada no início da quadra chuvosa, em março.

Já em Gravatá, o problema são três barragens que estão em colapso. Segundo a Compesa, a situação é de seca severa “já considerada histórica”, o que tem feito os níveis dos reservatórios que abastecem a região baixarem de maneira significativa “fora dos padrões de anos anteriores”. A companhia atribui o problema à “elevação sustentada das ondas de calor”, que resultam em altas temperaturas, em “aumento da evaporação das águas armazenadas” e no “crescimento do consumo”. Dos 172 mananciais operados para abastecimento humano em Pernambuco, 54 captações estão em nível crítico ou de alerta. 

“Nossas equipes técnicas continuarão monitorando os mananciais e qualquer alteração no quadro atual, como é esperado com o início da quadra chuvosa a partir de março, será prontamente revertida na diminuição dos rodízios, que nesse momento são inevitáveis. Entretanto, o uso consciente e racional da água agora será fundamental para atravessarmos esse momento. A conscientização pode evitar desperdícios e contribuir para a gestão sustentável dos recursos hídricos que temos disponíveis”, alertou o presidente da Compesa, Alex Campos, durante entrevista coletiva para detalhar medidas, no início da semana.

Compesa anuncia R$ 48 mi, mas impacto na temporada 2025 é inevitável

Além do maior rigor nos rodízios, também foram anunciadas providências como o aporte de R$ 48 milhões para suprir a baixa capacidade das barragens Bita e Utinga, o que inclui a reativação da captação do rio Ipojuca, a reativação da Estação de Tratamento de Água Porto de Galinhas, o retrofit dos sistemas Pirapama e Gurjaú, a ampliação do Sistema de Suape a partir da implantação da 2ª captação no Rio Ipojuca, além de combate a furtos de água e do fornecimento de caminhões-pipa. Na quinta-feira (2), a Compesa iniciou o cadastramento de pipeiros em todo o estado para reforçar esse serviço no período de escassez.

Demora nas providências

O vice-presidente da ABIH-PE, Eduardo Cavalcanti, avalia que as medidas são importantes, mas lamenta que providências não tenham sido tomadas antes do agravamento do problema e de seus impactos para o setor turístico e a população de forma geral. “Evaporação da água existe desde que o mundo é mundo. Teria sido importante ter feito um racionamento antes, para que diminuísse a oferta, mas sem deixar faltar. No caso de Gravatá, poderiam ter agilizado as ligações que fazem a água do São Francisco chegar à nossa região. O que não pode é deixar faltar água para, só então, tomar providências”, opinou.

O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens de Pernambuco (Abav-PE), Marcos Teixeira, confirma a situação crítica em algumas localidades com apelo turístico e diz que o setor já precifica a necessidade de conviver com o problema até que medidas mais concretas sejam adotadas pelo poder público.

“Estamos acompanhando essa questão da água, que está bem crítica ali em Porto de Galinhas, por exemplo, devido à alta demanda dos condomínios que surgiram, do movimento em si e também da estiagem, já que faz um bom tempo que não temos chuvas. O governo anunciou alguns investimentos em água e esgoto, mas acredito que vamos ter que conviver com esse problema nesta temporada, porque não é um problema exclusivamente do governo, mas também da questão das chuvas”, avaliou.

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