Nesta segunda-feira (17), Ricardo Essinger se despede da presidência da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), cargo que ocupou por oito anos. O economista e empresário, nascido em Goiana, tem longa relação com a Casa da Indústria. Antes de assumir sua direção, foi vice-presidente por 12 anos. Nesta entrevista ao Movimento Econômico, além de um balanço de sua gestão, ele fala sobre os desafios do setor. Crítico dos incentivos fiscais, Essinger diz que, no fim das contas, eles não ajudaram a desenvolver o Nordeste. Em sua opinião, teria sido melhor investir em infraestrutura. Confira os principais trechos da entrevista.
Movimento Econômico: O senhor tomou posse em 2016 e deixa o cargo oito anos depois. O que mudou neste período na Fiepe?
Ricardo Essinger: Fizemos muitas modificações no Sistema. Primeiro no CESI, na parte educacional. Saímos de 2 mil alunos para 8 mil. Evoluímos para uma educação moderna, com escola de referência, E com isso ganhamos diversas medalhas nacionais e internacionais. Em robótica, foram 513 medalhas.
Na área de saúde, criamos o Sesi Saúde, clínica com nove especialidades, e foram mais de 400 mil atendimentos de colaboradores no ano passado. Só nos últimos dias inauguramos três equipamentos de raio x digital de ponta nas cidades de Paulista, Recife e Petrolina. E vamos levar um para Caruaru.
No Senai, aceleramos o Instituto Senai de Inovação (ISI) e criamos o Hub de Tecnologia para Transformação de Baixo Carbono em Suape, voltado ao Hidrogênio Verde. Já temos dois projetos de pesquisa para lá, um deles é voltado para a Rota 2023, envolvendo cinco montadoras.
Somos credenciados pela Embrapi para pesquisas na área Aeroespacial e terminamos há poucos dias os testes com um drone que desenvolvemos em parceria com outros pesquisadores estrangeiros. Ele pode voar na chuva, com autonomia de duas horas e velocidade de até 60km. É um produto comercial que servirá de apoio a socorristas em situações de emergência, para salvamento. Também criamos o Observatório da Indústria, equipamento de suma importância, e avançamos com a interiorização, com escritórios regionais do sistema em Araripina e Petrolina.
ME – O governo federal lançou em janeiro, o programa Nova Indústria Brasil, um plano para estimular as indústrias brasileiras, com aporte de R$ 300 bilhões para financiamento até 2026. O que achou dele?
RE: Pela primeira vez o governo olhou para a indústria. O programa é bom, embora R$ 300 milhões sejam pouco para o Brasil. Mas é um começo, porque a indústria vem perdendo espaço no país.
Muito se fala do agronegócio, mas por trás do agro está a indústria. A semente é produzida pela indústria, o adubo, os defensivos, o trator, a colheitadeira… e depois que tudo é colhido, o produto é processado pela indústria. O agro é forte porque tem uma indústria forte dando apoio a ele. Não há país desenvolvido sem indústria desenvolvida.
ME: Já é possível colher algum resultado deste programa?
RE: Por enquanto não vimos resultados, só programas pequenos em andamento. Inclusive baseados em um programa antigo, que era de apoio à micro e pequena empresa, feito pelo Senai e Sabrae, que é exatamente levar inovação ao arranjo interno das fábricas para melhorar a produtividade. Isso vai beneficiar 125 empresas em Pernambuco e 5 mil no Brasil em 2024.
ME: Muitos críticos ao plano sustentam que ele não ataca os principais problemas da indústria. O senhor concorda?
RE: O principal problema da indústria é a tributação alta. Para o governo sempre foi mais fácil tributar a indústria em vez do consumo. Com a reforma tributária vemos uma luz no fim do túnel. Pagamos 40% de impostos; o agro paga 6%. Nosso percentual cairá para 27%, mas ainda assim teremos o IVA (Imposto sobre Valor Agregado, que irá unificar 5 tributos brasileiros a partir da Reforma Tributária) mais alto do mundo. Mas isso o programa não resolve. Nosso desafio é reduzir o Custo Brasil e melhorar a infraestrutura em vários estados.
ME: O governo parece ajudar de um lado, mas do outro…
RE: É difícil entender como um lado do governo tenta ajudar e outro atrapalhar, dificultando a taxação dos importados de até 50 dólares. Essa taxação reduz as vendas do comércio. Se atrapalha o comércio, nos afeta, porque se o comércio não vende, a indústria não produz.
ME: No aspecto da infraestrutura, o governo do estado está devendo muito?
RE: Sim a ferrovia Trasnordestina é um exemplo, o arco metropolitano é outro, a malha viária quase destruída também e em várias regiões temos problemas de energia. E ainda temos um custo de gás caro. Nos Estados Unidos, o gás custa US$ 4,00 por milhão de BTUs, aqui, a mesma quantidade sai por US$ 12,00, US$ 16,00.
ME: O senhor sempre foi um crítico dos incentivos fiscais, por entender que eles geram concorrência desleal entre empresas nativas e as que chegam de fora. O que achou do texto base da reforma tributária?
RE: Não é o texto ideal, mas traz um avanço grande neste aspecto. Mas é preciso que haja garantias de que o dinheiro do Fundo de Desenvolvimento Regional irá efetivamente para regiões menos desenvolvidas para ser aplicado em infraestrutura, permitindo a competitividade com as regiões mais desenvolvidas. A reforma põem fim aos incentivos e isso é bom porque eles não desenvolveram a região. Senão, nós seríamos melhores do que éramos lá atrás e hoje estamos piores.
ME: Mas não houve aumento na industrialização da região?
RE: Não sei se isso decorreu só dos incentivos. Teria sido mais importante ter melhorado a infraestrutura e investido numa base educacional do que ter dado o incentivo. Porque vimos muitas empresas indo embora quando o incentivo acabou. O maior incentivo é dar área para a empresa se instalar dotada de mão-de-obra qualificada e infraestrutura.
ME: Como foi sua relação com os diversos governantes durante sua gestão?
RE: Sempre foi boa. Mas há diferença entre política de governo e de estado. Quando um governante defende uma política de governo e só olha para coisas pequenas de seu governo e não para o estado como um todo, é complicado. É o que falta no país. Não adianta matar a galinha para tirar os ovos. Melhor trabalhar junto.
ME: Como foi liderar a Federação em meio a uma pandemia?
RE: Foi um grande desafio. Conseguimos não parar a indústria – fomos um dos poucos estados que teve apenas paradas pontuais. E colaboramos com o estado, revisando respiradores quebrados, ajudando na confecção de máscaras, o Senai realmente ajudou muito. E isso era nossa obrigação.
ME: Qual foi a maior lição que a Fiepe lhe deixou?
RE: Que o trabalho tem que ser em defesa do estado e do País, não apenas pontual.
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