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As previsões são de um El Niño mais forte até dezembro

Mais uma vez, o clima mais seco pode vir a prejudicar os pequenos produtores localizados no Agreste e Sertão de Pernambuco
Seca em Alagoas - semiárido
Isso pode implicar em menos chuvas, prejudicando principalmente pequenos produtores rurais que vivem em áreas de sequeiro (sem irrigação) no Agreste e Sertão. Foto: Reprodução TV Globo

Aumentou a chance do El Niño se tornar mais forte até o final deste ano, segundo instituições que acompanham as previsões do clima.  O pico do efeito do fenômeno climático deve ocorrer em outubro e dezembro, segundo a renomada consultoria Datagro e a empresa de tecnologia espacial Maxar. Isso significa que grande parte do Brasil pode ter chuvas abaixo do normal até o fim de 2023.

 “De Arcoverde pra cima, o clima já está diferente, mais seco. No final do ano, a expectativa, até agora, é ruim para os produtores que não estão em áreas irrigadas do Agreste e do Sertão. E essa dificuldade vai começar agora”, resume o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Pernambuco (Faepe), Pio Guerra, acrescentando que é bom ser prudente, porque as informações podem mudar num período razoavelmentente curto.  

Baseado nas previsões divulgadas até agora, Pio acredita que a tendência é o El Niño diminuir os seus efeitos depois de dezembro.  “A expectativa agora é que o El Niño leve de seis a sete meses para acabar. Mas as instituições não podem deixar de agir, porque providências precisam ser tomadas ainda este ano para mitigar os efeitos do clima mais seco, principalmente no Sertão”, argumenta Pio Guerra. 

“Já era pra ter uma política pública para mitigar os efeitos do clima mais seco. Os produtores de leite estão tendo que suplementar o rebanho. Os agricultores de subsistência não vão conseguir plantar, porque só deve ter chuva no ano que vem”, explica Pio Guerra, se referindo principalmente aos pequenos agricultores do Sertão. No caso do gado, suplementar quer dizer oferecer o que está faltando na dieta dos animais, que geralmente comem o pasto.  

Para Pio, as previsões divulgadas já são suficientes para criar um grupo de trabalho com representantes de vários segmentos da sociedade, como trabalhadores, produtores rurais, poder público – em conexão com a Sudene e o Banco do Nordeste –  para traçar políticas mitigadoras como carro pipa (para as áreas que já estão com dificuldade de água), cestas básicas, auxiliar os municípios que podem vir a decretar estado de emergência, entre outras iniciativas. 

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O presidente da Faepe também demonstra preocupação com o atual estágio das prefeituras que perderam receitas por causa da queda do repasse dos recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e “algumas estão com o salário dos funcionários atrasado. Como é que vão conseguir dar assistência a população que vai precisar de uma assistência ?”, questiona. 

Ex-secretário de agricultura do Estado, o consultor e agrônomo Aloísio Ferraz diz que os produtores de caprinos, em Floresta, já estão sofrendo com o clima mais seco. “Já encontrei produtores sem condições de dar água aos animais. Não é um percentual elevado, mas isso já está acontecendo em algumas áreas de sequeiro em Floresta. Os rebanhos já estão sacrificados, porque estão com menos comida por causa da seca”, comenta. 

Ferraz  deixou a gestão da governadora Raquel Lyra (PSDB) no final de julho deste ano e foi secretário também nas administrações dos ex-governadores Joaquim Francisco e de Jarbas Vasconcelos. Ainda de acordo com ele, pequenos produtores rurais instalados a cinco quilômetros do Lago de Itaparica, também no Sertão, já estão com dificuldade por causa do clima que está mais seco.

Pio Guerra - El Niño
O presidente da Faepe, Pio Guerra, defende que deveria ser criado um grupo de trabalho para traçar ações mitigadoras aos efeitos que podem vir com o El Niño

Não devem sentir o efeito do El Niño

Ainda de acordo com Pio Guerra, duas das principais atividades da agricultura pernambucana não devem ser afetadas pelo El Niño: a fruticultura  irrigada, no Sertão do São Francisco, e o cultivo de cana-de-açúcar, na Zona da Mata. “Para a fruticultura, o clima mais seco é bom e não interfere na colheita. No ano passado, as chuvas prejudicaram a colheita e a floração. E, para eles, o segundo semestre é mais importante”, comenta. 

Na cana-de-açúcar, segundo Pio Guerra, a colheita deve ocorrer sem dificuldades. Geralmente, os efeitos da estiagem só chegam à Zona da Mata, quando ocorre uma seca muito rigorosa, o que não é o caso.

A reportagem do Movimento Econômico pediu  a assessoria de imprensa da Agência Pernambucana de Águas e Clima (APAC) uma entrevista sobre a situação do El Niño em Pernambuco na última terça-feira (19). A instituição que não disponibilizou porta-voz até este momento. A assessora também respondeu que seria realizada uma coletiva sobre o assunto, mas não informou mais qualquer detalhe.  

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