Sua fonte de informação sobre os negócios do Nordeste

Camarão do Sertão: produção cresce no interior de AL e muda economia local

Expectativa de criadores é que produção estadual do camarão ultrapasse as 1.150 toneladas em 2025
Vanessa Siqueira
Vanessa Siqueira
De Alagoas vanessa.siqueira@movimentoeconomico.com.br
Produção de camarão no semiárido de Alagoas
Cultivo de camarão em municípios do Agreste e Sertão de Alagoas tem transformado a realidade de diversos pequenos produtores. Foto: Arquivo Pessoal

A carcinicultura, cultivo de camarão em cativeiro, vem ganhando força no Sertão e Agreste de Alagoas e hoje é uma das atividades mais promissoras das duas regiões. Mesmo com uma extensa faixa litorânea, é no semiárido alagoano que estão concentrados quase 100 produtores e cerca de 180 tanques de cultivo. Em 2024, a produção no estado chegou a mil toneladas, com expectativa de crescimento para 1.150 toneladas em 2025.

O presidente da Associação dos Produtores de Camarão de Alagoas, Iury Amorim, explicou ao Movimento Econômico que a maioria dos produtores nas cidades do interior do estado é composta por micro e pequenos empreendedores, que chegaram a montar criadouros até mesmo nos quintais de casa, o que tem contribuído para incrementar a renda de diversas famílias.

“São pequenos produtores que viram nessa atividade uma forma de melhorar a renda e mudar de vida. O camarão tem tido um papel socioeconômico muito importante, contribuindo para consolidar uma atividade muito promissora”, afirma Iury.

Além da transformação econômica na região, o cultivo de camarão também tem se mostrado seu potencial ao introduzir uma nova tendência de consumo em cidades em que a alimentação prioriza carnes bovinas, aves e raízes. Arapiraca, por exemplo, saiu de um consumo médio semanal de 400 gramas de camarão no ano de 2016 para seis toneladas semanais. Pelos restaurantes, bares e lanchonetes, é fácil encontrar no cardápio pratos onde o camarão é o ingrediente principal.

“Hoje tem hamburguerias na cidade que fazem sanduíche de camarão, você encontra de forma fácil camarão nas opções de restaurantes de Arapiraca, assim como outras cidades do interior. Virou uma opção que não é exclusiva das cidades litorâneas e Maceió e essa mudança tem relação com a produção de camarão aqui no Agreste e Sertão de Alagoas”, explicou.

- Publicidade -
Camarão produzido em Alagoas
Produção de camarão alagoana abastece mercado interno, com destaque para bares e restaurantes. Foto: Arquivo Pessoal

Camarão sertanejo viaja até a capital para abastecer mercado local

O camarão cinza foi a espécie escolhida para ser produzida na região, devido à sua fácil adaptação e manejo. A água salobra que é encontrada na região também favorece a produção.

A carcinicultura está concentrada nas cidades de Arapiraca, Igaci, Coité do Noia, Limoeiro de Anadia, Taquarana, Junqueiro, Olho D’Água Grande, Campo Grande, Craíbas, Palmeira dos Índios, Jaramataia, Penedo e Pão de Açúcar. O camarão cinza é cultivado em ciclos de 90 dias com intervalo de 15 dias para desinfecção dos tanques e repovoamento.

Apesar do crescimento, a produção local ainda não é suficiente para atender toda a demanda interna, especialmente nas regiões turísticas como Maceió, o que obriga o estado a importar camarão de outras localidades. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) os maiores produtores de camarão no Nordeste são os estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Alagoas aparece na sétima colocação.

Parceria Sebrae e ONU
Visitas técnicas buscaram entender modo de produção em Alagoas e vai promover auxílio aos produtores de peixe e camarão. Foto: Sebrae/AL

Grande parte do camarão produzido no interior do estado tem como destino os comerciantes do Mercado da Produção, em Maceió. É nesse entreposto da capital que donos de bares e restaurantes de diversas regiões do estado compram o crustáceo para revenda em seus estabelecimentos. Assim, o camarão sai do Agreste e Sertão, chega à capital e, de lá, é redistribuído para abastecer consumidores em todo o território alagoano.

O Sebrae Alagoas tem auxiliado produtores a estruturar negócios e impulsionar os lucros com consultorias, treinamentos e outras ações. Ingrid Santos, analista do Sebrae Alagoas, disse que a entidade oferece suporte técnico aos pequenos produtores, com foco na melhoria da produção e aumento da rentabilidade.

“Uma equipe com engenheiro de pesca acompanha os produtores, monta o projeto e mostra as melhores técnicas para aumentar os lucros e reduzir os custos”, explica Ingrid.

Em parceria com o Ministério da Pesca e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Sebrae também vai capacitar 200 produtores em sete municípios alagoanos até maio deste ano, com diagnóstico e plano de ação individualizado.

“O programa tem um cronograma curto e nosso foco agora é acelerar as ações para garantir que os produtores recebam o suporte necessário”, complementa a analista.

Produção de camarão em Alagoas
Com áreas de cultivo versáteis, camarão é cultivado em tanques ou até mesmo nas residências de pequenos produtores. Foto: Arquivo Pessoal

Cultivo de camarão ainda enfrenta desafios

Apesar do avanço, a carcinicultura enfrenta entraves para regularização ambiental. Produtores apontam dificuldades com os processos burocráticos e custos elevados para emissão de laudos, além de relatos de autuações a produtores.

“Muitos produtores são penalizados por exigências que poderiam ser mais simples. Há muita documentação repetida, e isso desanima. Felizmente, o setor jurídico da associação tem ajudado bastante”, afirma o presidente da associação.

Em nota, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos de Alagoas (Semarh) esclareceu que as regiões hidrográficas do Piauí e Coruripe enfrentam limitações quanto à disponibilidade hídrica. A pasta também explicou que as exigências técnicas para outorga visam garantir a sustentabilidade ambiental, em conformidade com normas federais e do Conselho Estadual de Proteção ao Meio Ambiente (CEPRAM).

Segundo a Semarh, autuações tem ocorrido no âmbito da Fiscalização Preventiva Integrada (FPI), coordenada pelo Ministério Público Estadual, e os produtores têm sido orientados quanto aos trâmites legais.

“É importante destacar que a carcinicultura é uma atividade produtiva relativamente recente no estado e, com sua expansão, tem gerado um aumento na demanda por recursos hídricos. Diante desse cenário, a Semarh atua de forma a orientar os carcinicultores sobre os procedimentos necessários para a regularização ambiental de seus empreendimentos, prezando sempre pela legalidade e sustentabilidade”, diz trecho da nota.

Leia mais: Mineradora de Alagoas é vendida para grupo chinês por US$ 420 milhões

- Publicidade -
- Publicidade -

Mais Notícias

- Publicidade -