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MP-AL pede suspensão de licenças para “espigões” no litoral norte de Maceió

Recomendação do MP pede que prefeitura de Maceió não emita novas licenças até que novo Plano Diretor esteja valendo
Espigões praia de Garça Torta em Maceió
Nos últimos anos, diversos prédios foram construídos em bairros do Litoral Norte da capital em áreas próximas a faixa de areia. Foto: Abrace a Garça/Divulgação

O Ministério Público de Alagoas recomendou à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo de Maceió (Semurb) que suspenda as licenças ambientais e urbanísticas dos edifícios conhecidos como “espigões” que estão sendo construídos nos bairros de Guaxuma, Garça Torta e Riacho Doce, no litoral Norte da cidade. O órgãO também recomenda que o município se abstenha de expedir novas licenças prévias e de instalação até que seja aprovado o novo Plano Diretor do Município de Maceió, com as diretrizes que estabelecerão o uso e ocupação do solo da capital alagoana.

A recomendação é assinada pelo promotor de Justiça Jorge Dórea, titular da 66ª Promotoria de Justiça da Capital (Urbanismo) e pelos promotores de Justiça Paulo Henrique Prado e Kleber Valadares, coordenadores dos Núcleos de Urbanismo e Meio Ambiente, respectivamente.

No documento, o MPAL diz que, após a aprovação do Plano Diretor, o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) deverá ser realizado, de forma a contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento considerando a qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades, incluindo a análise, no mínimo, de questões relacionadas ao adensamento populacional, equipamentos urbanos e comunitários, uso e ocupação do solo, valorização imobiliária, geração de tráfego e demanda por transporte público, criação de novas vias, ventilação e iluminação e, por fim, a paisagem urbana, o patrimônio natural e cultural.

Entre outros pontos, o MPAL recomenda que o licenciamento ambiental e urbanístico não se limite, tão somente, a análise dos impactos individuais de cada empreendimento. Devem ser levados em consideração possíveis efeitos sinérgicos (quando a combinação de dois ou mais elementos resulta em um efeito maior do que a soma dos efeitos individuais) e os impactos cumulativos decorrentes do conjunto de empreendimentos e intervenções existentes na região ou ecossistema afetado, “sob pena de se depreciar o princípio/dever de prevenção e reparação integral dos danos ambientais, urbanísticos, paisagísticos e cultural, violando o princípio do poluidor pagador e permitindo, por conseguinte, a indevida socialização do ônus da atividade econômica”.

Descaracterização da paisagem e risco de gentrificação

O Ministério Público ainda recomendou à Semurb que, quando da análise dos pedidos, seja observado o licenciamento urbanístico considerando “as características dos loteamentos já consolidados e constituídos com caráter unifamiliar (casas)”. Tal olhar visa evitar a possível descaracterização do projeto inicial e de sua paisagem, bem como o excessivo ônus à comunidade instalada e os impactos de possível gentrificação (processo de transformação) dos bairros.

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O órgão também pediu que a Secretaria de Meio Ambiente de Maceió anule as licenças dos empreendimentos multifamiliares em formato de habitações verticais, excetuando-se os de interesse social e os que já possuem habite-se, que não se adequarem ao novo Plano Diretor, aos EIVs, com presença de impactos cumulativos decorrentes do conjunto de empreendimentos que causem danos ao meio ambiente natural, artificial, cultural e paisagístico e que não considerem as características unifamiliares dos loteamentos já consolidados, causando excessivo ônus à comunidade instalada e possível gentrificação.

O município tem o prazo de 10 dias para se manifestar e em caso de não acatar as recomendações feitas pelo MP, o órgão informou que vai estudar possíveis medidas judiciais. O Movimento Econômico procurou a Prefeitura de Maceió, mas ela ainda não se manifestou a respeito da recomendação.

Plano Diretor Maceió
Sem revisão há 20 anos, Plano Diretor terá desafios com nova configuração de Maceió. Foto: Jonathan Lins / Secom Maceió

Plano Diretor de Maceió não tem revisão há 20 anos

Em dezembro, o Movimento Econômico trouxe matéria sobre o Plano Diretor de Maceió que está desatualizado há 20 anos e de como a falta de debate sobre planejamento urbanístico e mobilidade urbana tem impactado na realidade da cidade.

A Prefeitura de Maceió vem coordenando a revisão tanto do Plano Diretor quanto do Plano de Mobilidade Urbana, que precisam de alterações que consigam atender as necessidades da capital.

A Secretaria Municipal de Ações Estratégicas e Integração Metropolitana (Semaemi) anunciou que a Fundação Getulio Vargas foi contratada para elaborar o novo plano de mobilidade urbana de Maceió, que foi atualizado pela última vez há 15 anos, em 2009. Segundo a pasta, o novo plano realizará um mapeamento abrangente dos fluxos de transporte, incluindo o transporte público, veículos particulares, bicicletas e a circulação de cargas.

Segundo o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Maceió (Iplan), Antônio Carvalho, o atual Plano Diretor deveria ter sido atualizado em 2015, mas questões ligadas ao afundamento dos bairros e a pandemia acabaram interrompendo o processo de revisão, que só foi retomado em 2024 com a criação do Iplan.

Ele disse que o grande desafio desse processo tem sido a realização de um momento com a participação da população e entidades técnicas, que tem feito contribuições que atendem às expectativas da população.

Ordenamento da região norte

O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Alagoas (CAU), Geraldo Farias, participa das discussões e pontua que pelas especificidades da cidade, o novo Plano precisa respeitar aspectos sociais, econômicos e geomorfológicos naturais. Além disso, ele considera importante que o documento consiga sugerir medidas para ordenar o crescimento da região norte da cidade.

“Não se pode deixar que façam as coisas como acham que devem ser feitas, é necessário gestão e vontade política para que o Plano Diretor seja aplicado da forma correta. Em Curitiba na década de 80, por exemplo, o plano diretor serviu para reordenar a cidade e hoje ela é exemplo para o mundo e espero que o documento final, após passar todo esse processo consiga cumprir seu papel”, avaliou.

Leia mais: Sem revisão há 20 anos, Plano Diretor de Maceió tem desafios para ordenar “nova” cidade

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