Em 2025, o plano Diretor de Maceió completará 20 anos de sua última atualização. Neste período, a cidade passou por severas transformações, perdeu cinco bairros e vê a parte alta e o Litoral Norte em franca expansão. Nos últimos meses, entidades de classe, especialistas e técnicos da Prefeitura de Maceió estão reunidos para revisar este documento e o Plano de Mobilidade Urbana, buscando construir documentos que ordenem a cidade e atendam as demandas para regiões que se consolidaram nestas últimas duas décadas.
Em 2005 quem morava em Maceió talvez não imaginasse que em 20 anos a cidade passaria por tantas mudanças, a exemplo da instabilidade de solo ocasionada pela extração de salgema e que tirou mais de 65 mil pessoas de suas casas. Ou talvez não imaginasse que a região do Benedito Bentes e o Litoral Norte seriam as áreas que mais se desenvolvem. Todas as mudanças sofridas na cidade tiveram reflexos no trânsito, na necessidade de melhorias na mobilidade urbana, no cuidado com o meio ambiente, na economia e o desenvolvimento social.
A Prefeitura de Maceió vem coordenando a revisão tanto do Plano Diretor quanto do Plano de Mobilidade Urbana, que precisam de alterações que consigam atender as necessidades da capital.
Segundo o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Maceió (Iplan), Antônio Carvalho, o atual Plano Diretor deveria ter sido atualizado em 2015, mas questões ligadas ao afundamento dos bairros e a pandemia acabaram interrompendo o processo de revisão, que só foi retomado este ano com a criação do Iplan.
Ele disse que o grande desafio desse processo tem sido a realização de um momento com a participação da população e entidades técnicas, que tem feito contribuições que atendem às expectativas da população.
“O plano reflete um olhar atento para o aspecto social e ambiental da cidade, ressaltando que ela deve ser pensada para as pessoas e que respeite as características naturais do território. Isso é contemplado tanto nos parâmetros construtivos quanto na forma como a cidade se organiza, abrangendo diferentes etapas e perspectivas para o desenvolvimento urbano”, disse.
Revisão do Plano e o setor imobiliário
Ao longo dos últimos 20 anos, Maceió deixou de lado seu ar interiorano e de cidade praiana pouco explorada para se colocar como uma das cidades que possui o metro quadrado entre os mais caros do país, devido à valorização local.
Shoppings, empresas, obras de mobilidade e residenciais tem ganhado força nos últimos anos em diversos bairros. Na parte baixa, bairros como Pajuçara, Ponta Verde e Cruz das Almas lideram entre os com maior valor de preço médio do metro quadrado. Os dados referentes ao mês de novembro, divulgados pelo índice FipeZap, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), apontam que os três bairros possuem valores de venda para o metro quadrado entre R$ 11.972,00 e R$9.021,00.
Já na parte alta da cidade, bairros como Cidade Universitária, Antares e Tabuleiro do Martins vem experimentando um boom imobiliário. No Cidade Universitária, por exemplo, a construtora Engenharq planeja para 2026 a entrega de um novo shopping, que contará com cerca de 180 lojas. O empreendimento vai facilitar a vida de quem mora na região ou comprou um dos imóveis que estão sendo construídos. Somente a Engenharq construiu 17 empreendimentos e planeja mais cinco nos próximos anos.
Para o vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado de Alagoas (Sinduscon-AL) e vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Alfredo Brêda, a revisão do Plano Diretor de Maceió é necessária para conseguir atender demandas do setor.
“O Plano Diretor de Maceió é dos melhores que conheço em nível nacional porque é um Plano inteligente, mesmo tendo 20 anos. Um fator importante é que na ocupação do solo, quanto mais alto for o prédio, mais estreito será e isso facilita a ventilação da orla, por exemplo. Ao contrário do Rio de Janeiro, onde um prédio é colado no outro, Maceió tem essa vantagem”, observou.
Brêda destacou ainda a necessidade de a revisão contemplar autorizações para construções de mais de dois andares em bairros como o de Jaraguá e Centro, na parte baixa.
“Entendo que o bairro de Jaraguá poderia ser mais valorizado se fosse liberada para empreendimentos acima de dois andares, assim como a região próximo ao Clube Fênix, que também é impedida de receber prédios maiores. Na parte alta da cidade há uma área grande que ainda é considerada rural, sendo importante que o Plano Diretor de Maceió reveja, para que se torne área de expansão urbana”, apontou.
O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Alagoas (CAU), Geraldo Farias, participa das discussões e pontua que pelas especificidades da cidade, o novo Plano precisa respeitar aspectos sociais, econômicos e geomorfológicos naturais. Além disso, ele considera importante que o documento consiga sugerir medidas para ordenar o crescimento da região norte da cidade.
“Não se pode deixar que façam as coisas como acham que devem ser feitas, é necessário gestão e vontade política para que o Plano Diretor seja aplicado da forma correta. Em Curitiba na década de 80, por exemplo, o plano diretor serviu para reordenar a cidade e hoje ela é exemplo para o mundo e espero que o documento final, após passar todo esse processo consiga cumprir seu papel”, avaliou.
FGV vai elaborar novo Plano de Mobilidade Urbana
A Secretaria Municipal de Ações Estratégicas e Integração Metropolitana (Semaemi) anunciou que a Fundação Getulio Vargas foi contratada para elaborar o novo plano de mobilidade urbana de Maceió, que foi atualizado pela última vez há 15 anos, em 2009. Segundo a pasta, o novo plano realizará um mapeamento abrangente dos fluxos de transporte, incluindo o transporte público, veículos particulares, bicicletas e a circulação de cargas. A partir dessa análise, serão propostas diretrizes que levem em conta o crescimento populacional nos bairros, a organização do trânsito e o estímulo ao uso de modais mais sustentáveis.
Entre as propostas, segundo a Semaemi, está a implantação de um BRT (Bus Rapid Transport) na Avenida Fernandes Lima, que liga a parte alta à parte baixa da cidade, além de um estudo de vias da cidade que possam se tornar alternativas para desafogar o trânsito nas duas principais avenidas da cidade: a Avenida Menino Marcelo e Fernandes Lima.
O documento deverá ainda promover uma hierarquização do sistema viário, priorizando vias que facilitem o deslocamento para as novas centralidades emergentes, além de garantir a adequação de infraestruturas para transporte coletivo, pedestres e ciclistas.
“Na parte alta, onde o crescimento populacional tem sido mais intenso, a elaboração do plano estudará a ampliação de corredores de transporte coletivo, reorganização da circulação viária e investimentos em infraestrutura que atendam ao aumento de veículos e pessoas. No litoral norte, as intervenções buscam não apenas atender ao crescimento populacional, mas também preservar as características ambientais e turísticas da região”, explicou a secretaria por meio de nota.
Já a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), que opera o VLT em Maceió, informou ao Movimento Econômico que está previsto para 2025 uma licitação que pretende expandir o ramal ferroviário na cidade, ligando o Centro até a Ceasa, localizada no bairro da Forene. “O maior projeto em desenvolvimento na CBTU Maceió atualmente é o Ramal Ferroviário de Integração Intermunicipal (RFII-CEASA), uma iniciativa que promete transformar o transporte público e a ocupação urbana da região. O novo ramal visa atender áreas classificadas como “Macrozona de Expansão Intensiva” pelo Plano Diretor de Maceió promovendo mobilidade e desenvolvimento social em polos comerciais e de serviços em crescimento”, informou a CBTU.
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