Desde que mais de 60 mil pessoas tiveram que deixar suas residências por conta de rachaduras e a iminência de aberturas de crateras em ruas de cinco bairros, Maceió vê crescer a demanda por imóveis. O valor dos aluguéis disparou, tornando o metro quadrado da cidade o mais caro do Nordeste, com média de R$ 8.726,00 e o segundo mais caro do país, consolidando a capital alagoana como uma espécie de “Dubai nordestina”. Diversas construtoras apostam em lançamentos na cidade, o que tem movimentado a expansão de Maceió para a sua região norte.
Quem já comprou seu imóvel em Maceió tende a ver o preço do metro quadrado se valorizar cada vez mais. A cidade acumula um crescimento de 14,15% nos últimos 12 meses no valor do preço médio do metro quadrado, que em maio fechou em R$ 8.7 mil, figurando como a capital nordestina com o preço médio do m² mais caro, segundo dados do Índice FipeZAP, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). No comparativo com o restante do país, Maceió só perde pra Goiânia, que tem média do metro quadrado mais caro do país, acumulando aumento de 14,20% em um ano.
Quando analisamos o preço por bairro, o bairro da Pajuçara desponta com o preço médio de R$ 11.238,00/m², seguido da Ponta Verde (R$ 9.612,00/m²), Jatiúca (R$ 9.544,00/m²) e Jacarecica (R$ 9.232,00/m²). Os valores estão próximos de bairros como Copacabana, no Rio de Janeiro, que registrou em maio R$ 11.507,00 pelo metro quadrado ou o bairro Asa Norte, em Brasília, que possui média de R$ 10.387,00/m².
Ciclo de crescimento imobiliário em Maceió
Dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) de Alagoas mostram que Maceió vem experimentando um ciclo de crescimento nos lançamentos de novos empreendimentos, o que também tem puxado a alta de construção de moradias em municípios da região Metropolitana.
Nos últimos 12 meses, Maceió e região Metropolitana concentram 8.279 unidades lançadas, sendo que deste total 5.523 são apartamentos, 514 unidades residenciais do Minha Casa, Minha Vida, 566 casas de alto padrão, 1.140 lotes fechados, 470 loteamentos abertos e 2.742 residenciais.
Ainda segundo o Sinduscon, os imóveis do tipo compacto com um quarto, também conhecidos como estúdios, lideram os lançamentos, com 2.629 unidades lançadas em Maceió no acumulado dos últimos 12 meses.
As vendas também cresceram e em abril, mais de 5.400 unidades habitacionais foram vendidas em Maceió.
Para o vice-presidente do Sinduscon, Alfredo Breda, a movimentação no mercado, com alta demanda por lançamentos tem sido positiva e demonstra recuperação do setor após a pandemia.
“O estoque vem se mantendo saudável. Apesar de ainda termos uma defasagem de preço de cerca de 15%, por conta da pandemia, no ano passado tivemos uma recuperada. O Estúdio tem se mostrado o melhor custo-benefício para as construtoras, mas buscamos formas de equilibrar o lucro, já que temos custos maiores com alguns itens de produção, que vem de outros lugares do país”, disse.
Construtoras miram parte alta de Maceió
A corrida por espaços bem localizados para construção de empreendimentos tem mobilizado diversas construtoras. A Engenharq, por exemplo, vem desde 2013 desbravando a parte alta de Maceió com a construção de condomínios residenciais fechados, denominados por Grand Jardins. Já foram construídas mais de 10 mil unidades residenciais na região e há previsão de mais cinco condomínios serem construídos em breve.
Além disso, a construtora decidiu apostar no investimento de mais de R$ 80 milhões para construir um shopping que atenda os milhares de moradores dos residenciais no bairro Cidade Universitária. A previsão é que ele seja inaugurado no final de 2025 e tenha capacidade para 180 lojas.
A MRV, uma das maiores construtoras do país, também vêm construindo nos últimos anos diversos condomínios fechados em bairros da parte alta de Maceió. Ela pretende lançar mais três condomínios nessa região ainda este ano, sendo dois deles no bairro do Tabuleiro do Martins e um na Cidade Universitária.
Desde que iniciou suas operações no estado, em 2012, a MRV já vendeu seis mil unidades residenciais e informou que teve o melhor resultado de vendas no estado no ano passado, quando vendeu quase 1500 unidades habitacionais.
“Muitos fatores influenciam nessa valorização. Além das belezas naturais da capital e o acidente envolvendo a mineradora, os bairros mais procurados, por exemplo, também apresentam fácil deslocamento para outras regiões da cidade e um mix diversificado de opções de serviços, perto de shoppings, faculdade, supermercados, por exemplo”, avalia Leandro Pinho, gerente comercial da MRV em Alagoas. Durante oito meses, o Residencial Marselha, localizado na parte alta de Maceió, foi o mais vendido no Brasil, ficando na frente de empreendimentos localizados nos grandes centros.
Como a mineração afetou Maceió
Desde 2018, mais de 14 mil imóveis tiveram que ser desocupados nos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange, Bom parto e Farol, por conta dos riscos que a exploração de sal-gema feita pela Braskem por décadas causou na região.
Segundo o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão ligado ao governo federal, a extração de sal-gema ocorreu em regiões onde havia falhas geológicas, o que causou a instabilidade no solo e desencadeou tremores de terra, rachaduras em imóveis e surgimento de crateras nas ruas e residências.
Diante da instabilidade no solo, a Braskem paralisou as atividades na unidade do Pontal da Barra, em Maceió, em maio de 2019 e cessou a extração de sal-gema das minas colapsadas.
A petroquímica retomou suas atividades na planta em fevereiro de 2021 adquirindo sal de minas licenciadas no Chile. Segundo dados da petroquímica, já foram importadas mais de 1,8 milhão de toneladas de sal nestes últimos três anos para abastecer a produção de cloro, soda-cáustica e do composto químico dicloroetano.
Em julho de 2023, a Braskem assinou um acordo com órgãos públicos que prevê a indenização dos moradores e comerciantes da região que tiveram imóveis afetados. O acordo também prevê que a Braskem deverá realizar ações socio urbanísticas, ambiental, e de monitoramento e estabilização da região que foi esvaziada.
As minas de onde eram extraídas a matéria prima para produção de cloro e soda cáustica estão em processo de tamponamento, uma das ações que a Braskem tem realizado na região que atualmente é interditada na cidade.
Em dezembro de 2023, o colapso da mina 18, situada na borda da Laguna Mundaú causou pânico e levou a uma nova onda de desocupações preventivas em hospitais e outros imóveis que ainda funcionavam dentro da zona considerada de risco. A previsão inicial da Defesa Civil de Alagoas era de que o rompimento da mina causasse tremores de terra e uma cratera gigantesca, o que acabou não acontecendo.
Segundo a Braskem, os recursos já reservados para todas as ações sociais, ambientais e urbanas são de R$ 14,4 bilhões e incluem desembolsos feitos diretamente pela Braskem ou transferências ao poder público. Mais de R$ 9,2 bilhões já foram utilizados.
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