Da Redação

O monitoramento é ferramenta essencial para geração de dados que possibilitem a antecipação de ações e o acompanhamento de diligências mitigadoras e compensatórias. No Ceará, há mais de 30 anos, a Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) coordena a política que concebe os planos de recursos hídricos, elabora e desenvolve os projetos de infraestrutura hídrica – barragens adutoras, eixos de transferência hídrica, e aprimora a cada ano o processo normativo da gestão de recursos hídricos.
O secretário de Recursos Hídricos do Ceará, Francisco Teixeira, afirma que o Estado se destaca no Brasil porque trabalha com todos os pilares necessários para o desenvolvimento de uma adequada política de recursos hídricos. “Estamos integrados com várias instituições, olhando o ciclo hidrológico também de forma integrada com a gestão e o gerenciamento dos recursos hídricos. Temos uma vasta infraestrutura hídrica projetada e implantada pela SRH, com apoio, fiscalização e supervisão da Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra) e gerenciada pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh)”, afirma
Essa infraestrutura é formada por açudes, reservatórios, eixos de transferência de água que interligam açudes, adutoras que levam água bruta para o abastecimento de indústrias e abastecimento humano nas cidades, operadas pela Cagece ou pelos Serviços Autônomos de Saneamento (Saes) e uma rede de poços na zona rural operada por prefeituras, mas implantados pela Sohidra, comunidades e associações.

Teixeira alerta que ainda estamos sobre os efeitos da maior seca da história do Ceará. Uma seca que começou em 2012 e se estendeu por seis anos. “Tivemos chuvas próximas à média em 2019 e 2020, mas em 2021 o período chuvoso foi de novo abaixo da média. Não tivemos ao longo desses anos aportes representativos aos reservatórios do Ceará depois de 2011. Mesmo o aporte um pouco maior, agora em 2020, não reverteu a situação de reserva mais crítica nos nossos reservatórios que há muitos anos trabalham abaixo de 30%”, alerta.
No ano passado, o Ceará chegou ao final do período chuvoso com 35% de reserva, mas hoje conta com apenas 28%. “Esse período crítico pelo qual passamos foi um uma prova muito substancial para o nosso sistema de recursos hídricos”, analisa o secretário. “Tivemos que trabalhar seguindo alguns pilares, como a eficiência na oferta hídrica. Fizemos a gestão do pouco estoque de água dos reservatórios e da água subterrânea de forma muito eficiente e eficaz. Alocando a água, dentro do possível, para os diversos usos, garantindo a primazia de 100% do abastecimento humano e a atividade econômica. Deu pra segurar boa parte das atividades econômicas do meio rural, sustentar a indústria do Ceará e o comércio, mas executando a gestão da oferta com muitos detalhes e parcimônia”, relata Francisco Teixeira.
Trabalho integrado
Segundo ele, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) trabalha de forma integrada com a SRH e a Cogerh, desenvolvendo não só o monitoramento das chuvas, mas de outros parâmetros de tempo e de clima. “Com o trabalho de inteligência agregado ao investimento humano, em parceria com a Cogerh, conseguimos desenvolver previsão de aportes, que é o fluxo da água que poderá vir aos nossos reservatórios nas estações chuvosas prognosticado pela Funceme”, ressalta Teixeira. Ele destaca que o processo de tomada de decisão de transferência de água leva em conta a previsão do clima, desenvolvida pela Funceme, e a previsão de aportes dos reservatórios, realizada pela Funceme e a Cogerh e o monitoramento efetuado no dia a dia.
A Fundação conta com uma rede de pluviômetros e de estações meteorológicas que analisam os parâmetros climáticos e medem não só a chuva, mas também a evaporação. Aliada à tecnologia, existe uma equipe humana, bem capacitada, nos quadros da Cogerh, que já fez três concursos para atualizar seu quadro profissional; e da Funceme que realizou, recentemente, o seu segundo concurso em quase 50 anos, e contratou técnicos especializados.

Já a Sohidra é uma autarquia que executa as obras hídricas de pequeno porte, como os poços, instalação de chafarizes e dessalinizadores, especialmente nas comunidades rurais do interior do Ceará, mas também em áreas urbanas. Com mais de 20 parques de máquinas para perfuração, desde 2015, a Sohidra bateu todos os recordes de construção de poços. “Temos cerca de 18 mil poços construídos nos seus 32 anos, e mais de 9 mil foram executados de 2015 pra cá”, afirma Francisco Teixeira. “Os poços são importantes não só pra garantir a água para as comunidades rurais, mas para complementar a água superficial que, às vezes, falta para a população urbana do Ceará”, completa. A Sohidra executa são as barragens, adutoras para abastecimento humano e os chamados eixos de transferência hídrica, como o Eixão das Águas.
Eixos
A Cogerh trabalha o gerenciamento em seis eixos, como o monitoramento da qualidade e da quantidade da água dos corpos hídricos, principalmente os superficiais – açudes, trechos de rios perenizados e as águas subterrâneas. Entre os demais eixos, Francisco Teixeira ressalta o de implementação dos instrumentos de gestão dos recursos hídricos. “A Cogerh é o único órgão de gerenciamento de recursos hídricos do Brasil considerado autossustentável, do ponto de vista financeiro”, destaca, lembrando que, no Brasil, o Ceará surge como o Estado que trabalha com todos os pilares para o desenvolvimento de uma adequada política de recursos hídricos. “Olhamos o ciclo hidrológico de forma integrada com a gestão e o gerenciamento dos recursos hídricos. Há uma vasta infraestrutura hídrica projetada e implantada pela SRH com apoio, fiscalização e supervisão da Sohidra, e gerenciada pela Cogerh”.
Vanguarda
A organização de todo o processo coloca a gestão dos recursos hídricos no Ceará como a melhor experiência no Brasil, segundo o presidente da Cogerh, João Lúcio Farias. Mesmo diante de uma sequência de anos de seca, não faltou água em nenhuma cidade do Ceará. “Tivemos dificuldades pontuais, mas não faltou, inclusive, nas regiões metropolitanas. A boa gestão, além de gerar economia, ainda facilita e garante o abastecimento dos múltiplos usos da água”, avalia o gestor.
O monitoramento das águas no Ceará, explica João Lúcio, é feito por bacias hidrográficas. São 12 no total. “Nessas bacias temos 155 açudes que chamamos de estratégicos. E também monitoramos águas subterrâneas, pelo menos os aquíferos mais importantes, como o do Araripe, do Apodi, de Dunas e Serra da Ibiapaba”.
O presidente da Cogerh salienta que numa região onde chove durante apenas quatro meses do ano, é vital guardar a água e fazer um bom gerenciamento. “O Ceará tem 86% de sua área no semiárido, com base cristalina e solo raso. Daí, temos dificuldade de água subterrânea e rios perenes”, explica. “Portanto, a água precisa ser bem cuidada. Essa água é reservada em grandes ou médios reservatórios, para que a gente possa sobreviver durante o restante do ano. Pelos outros oito meses”, complementa João Lúcio.