
Um hambúrguer vegetal desenvolvido a partir do coco babaçu no Maranhão foi um dos finalistas do prêmio Con X Tech Prize: Amazônia, uma competição global que reconhece inovações capazes de transformar economias extrativistas em modelos sustentáveis e regenerativos. O projeto, liderado pela pesquisadora Guilhermina Cayres, atendeu aos critérios do prêmio, que exigem soluções que protejam os ecossistemas, respeitem as comunidades locais e garantam a distribuição justa dos benefícios gerados.
A pesquisa, realizada por cientistas da Embrapa Maranhão, Embrapa Agroindústria Tropical, Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Universidade Federal do Ceará (UFC), em parceria com organizações comunitárias, busca agregar valor à cadeia produtiva do babaçu e ampliar a renda de comunidades extrativistas do Maranhão. O projeto recebeu apoio da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ).
Impacto para comunidades extrativistas
O desenvolvimento do hambúrguer de babaçu envolveu diretamente quebradeiras de coco da Cooperativa Mista da Agricultura Familiar e do Extrativismo do Babaçu (Coomavi), em Itapecuru-Mirim, da Associação Clube de Mães Quilombolas Lar de Maria, em Anajatuba, e da Associação de Quebradeiras de Coco de Chapadinha, no Assentamento Canto do Ferreira.
A parceria entre cienstistas e quebradeiras já havia dado origem a novas formulações de biscoito e de gelado, uma bebida tipo leite e a um análogo do queijo, todos oriundos do coco babaçu.
A pesquisadora Guilhermina Cayres destaca que os alimentos foram elaborados considerando as práticas tradicionais das quebradeiras, integrando melhorias na padronização e segurança alimentar. Com isso, o projeto viabiliza a comercialização dos produtos em mercados mais amplos, ampliando o impacto econômico para as comunidades envolvidas.




Resíduo do babaçu vira matéria-prima para alimentação
A inovação do hambúrguer de babaçu está na utilização do bagaço da amêndoa, antes considerado resíduo da extração do óleo. Esse material foi transformado em farinha, empregada não apenas na formulação do hambúrguer vegetal, mas também em outros produtos como biscoitos, pães, bolos e mingaus.
Do ponto de vista físico-químico, a farinha da amêndoa – em comparação à do mesocarpo – tem uma boa proposta para a carne de hambúrguer, pois utiliza casca da banana como agente estruturante junto com a amêndoa para dar sabor e maciez ao fritar, e mais a farinha de arroz para dar a liga junto com os temperos, o que garante boa validade do ponto de vista de vida útil e qualidade nutricional para dieta vegana.
Além disso, atingiu um percentual de proteína de 13,17% por 100g de produto, valor adequado para o tipo de alimento. O produto não tem conservantes e dura até seis meses congelado. Foram feitas quatro formulações e chegou-se a duas: uma com casca de banana e outra com polpa de jaca.
Devido à maior disponibilidade e regularidade da banana ao longo do ano, o hambúrguer à base de amêndoa de babaçu e casca de banana foi a opção priorizada entre as quebradeiras de coco e a equipe técnica para prosseguir com os testes e análises.
O professor Harvey Villa, do Departamento de Engenharia Química da UFMA, explica que a pesquisa adotou uma abordagem que parte das condições locais para adaptar o processamento da matéria-prima às necessidades das quebradeiras.
O Maranhão é o maior produtor de coco babaçu do Brasil, com mais de 300 mil quebradeiras de coco que dependem dessa atividade para sua subsistência. O projeto busca não apenas valorizar o trabalho dessas mulheres, mas também fortalecer suas organizações, garantindo melhores condições de mercado e preços justos.
Sustentabilidade e reconhecimento internacional
Além do impacto econômico e social, o hambúrguer de babaçu se destaca por seu compromisso com a sociobiodiversidade. A pesquisa fortalece a ideia de que é possível aproveitar os recursos da floresta sem comprometer os ecossistemas, promovendo o desenvolvimento sustentável e garantindo a preservação da cultura das comunidades tradicionais.
Para Rosângela Licar, da Coomavi, os produtos já estão transformando a qualidade de vida das famílias envolvidas. O hambúrguer de babaçu tem sido bem aceito por consumidores veganos e não veganos nas feiras de São Luís, demonstrando potencial para expansão. *Com informações
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