Enquanto a maioria das empresas está tentando se adequar às novas regras da reforma tributária, as companhias que vendem soluções de TI, como os softwares de gestão empresarial tipo SAP ou ERP, estão sentindo um aumento da demanda por este tipo de produto. Estes sistemas indicam o quanto será pago de imposto. A partir de 1º de janeiro de 2026, as empresas vão começar a recolher um novo tributo, o Imposto sobre Valor Agregado (IVA). “A nossa expectativa é de que isso contribua, positivamente, para aumentar as vendas”, diz o CEO da Procenge, José Claudio.
Instalada no ambiente de negócios do Porto Digital – no Recife -, a Procenge produz sistemas de software tipo ERP e tem carro chefe da empresa, o Pirâmide. Quem já tem um sistema desenvolvido pela empresa só vai precisar fazer a atualização, o que pode sair por um custo próximo a zero, porque o Pirâmide foi projetado para um ambiente que houvesse o IVA, como ocorre em Portugall.
No entanto, as empresas que pretendem instalar um novo sistema ERP terão que se organizar e fazer um planejamento. Segundo o diretor de Produtos da Procenge, Bruno Santana, uma empresa de pequeno porte, médio porte e grande porte vão ter, respectivamente, um custo estimado em torno de R$ 50 mil, R$ 100 mil e R$ 400 mil, para implantar totalmente um sistema tipo ERP, partindo do zero.
“Todo o processo de transição (da reforma tributária) só deverá ser encerrado em 2033. Durante um tempo, ficarão paralelamente vigentes os dois sistemas tributários, de forma que, em um primeiro momento, o atendimento à legislação se tornará na verdade mais complexo”, comenta Bruno. Os impostos criados pela reforma vão passar a ser cobrados, gradativamente, até que ocorra a extinção dos tributos antigos, como o ICMS, cobrado pelos Estados.
Bruno argumenta também que “quanto mais flexível e parametrizável for o sistema (de gestão), mais fácil será para os contadores e profissionais ligados à área fiscal e tributária prepararem as empresas para as mudanças”. E acrescenta: “as empresas cujo ERP não tem essas características de flexibilidade e facilidade de adaptação, devem correr para cobrar de seus fornecedores as atualizações ou, até mesmo, procurar novos sistemas”. A Procenge tem mais de 200 clientes que usam o Pirâmide.
Sistema da Syxtax
Outra empresa de TI que já percebeu o aumento da procura por este tipo de sistema foi a empresa Systax, “de Inteligência fiscal” que tem sua sede em São Paulo. “Identificamos uma movimentação das empresas, desde o final do ano passado, preocupadas em ajustar os seus ERPs, os seus sistemas, ou até mesmo fazer a troca dos seus sistemas para poder se adaptar às novas exigências com a reforma tributária”, afirma a advogada tributária e tax manager da Systax, Karen Semeone.
A partir de setembro e outubro, as empresas deve começar a emitir notas fiscais de teste. “A gente acabou de começar o ano de 2025 e essas adaptações têm que estar prontas até o final deste ano. Então, é um tempo muito curto, muito pequeno para que as empresas se ajustem a essa nova exigência”, conta.
Numa estimativa, o custo da implantação de um sistema de gestão pela Systax fica em torno R$30 mil e R$100 mil nas pequenas empresas; entre 100 mil e R$ 500 mil nas médias; e pode variar entre R$ 500 mil e R$ 3 milhões nas grandes empresas. Todos os números são estimativas. Os preços são diferentes, porque demandam serviços, treinamentos e iniciativas mais complexas nas empresas maiores, como maior personalização, treinamento interno de muitos funcionários, entre outros.
Segundo Karen, as pequenas possuem estruturas mais simples e demandam ajustes pontuais com o investimento voltado para a contratação de consultorias fiscais especializadas, que atuarão diretamente nos ajustes necessários para adequação à Reforma Tributária. Ela também afirma que, geralmente é necessário um prazo de um ano para implantação de um sistema deste tipo.
Segundo a tributarista, nas médias empresas há a necessidade de uma abordagem mais ampla, como “treinamento interno mais robusto, já que a quantidade de processos e colaboradores impactados é maior”, sistemas mais integrados que podem demandar maior personalização, entre outras.
Já nas grandes empresas, as operações são mais complexas. “Elas frequentemente contam com sistemas legados e operações descentralizadas, o que exige não apenas a contratação de consultorias altamente especializadas, mas também a ampliação de equipes dedicadas exclusivamente à implementação das mudanças”, conta Karen. A Systax mantém uma base de dados com mais de 28 milhões de regras fiscais estaduais e federais, abrangendo ICMS, ICMS-ST, PIS, COFINS e IPI e conta com cerca de 160 funcionários.
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