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Nordeste teme efeitos da paralisação de siderúrgicas da ArcelorMittal

O fechamento de duas unidades da siderúrgica, uma na Alemanha e outra na Espanha, tem levado consumidores do aço a temerem o pior.

Por Kleber Nunes

O aço entrou na lista de commodities que tendem a ficar mais escassas nos próximos meses. Principal insumo, sobretudo, da chamada indústria pesada, que inclui setores como o automobilístico e a construção civil, a oferta do produto sofrerá forte impacto com o anúncio da ArcelorMittal – uma das maiores siderúrgicas do mundo – de que está fechando duas unidades na Europa, uma na Alemanha e outra na Espanha. Os consumidores do produto já estavam sob alerta com a falta da perspectiva de desfecho da guerra da Rússia contra Ucrânia, que tem afetado principalmente o setor elétrico na Europa, mas agora, a tensão cresceu.

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Foto: José Paulo Lacerda

A iniciativa da ArcelorMittal é consequência da obstrução do principal gasoduto russo que alimenta a Europa. Desde o inicio da guerra, o Kremlin vem reduzindo a oferta de gás para países europeus. Em fins de julho, a oferta havia caído para 20%, sob alegação de que a medida era para manutenção da estrutura, porém o fluxo de gás não foi retomado, aumentando a preocupação dos governos ocidentais. A decisão de paralisar as plantas alemãs e espanhola da ArcelorMittal vai diminuir ainda mais a produção mundial de aço bruto que caiu de 169,5 milhões de toneladas em maio para 158,1 milhões em junho e depois 149,3 milhões em julho.

O movimento em cascata da redução da produção de aço já é esperado em plantas ArcelorMittal e de companhias concorrentes em outros países europeus como a Polônia, e de outros continentes como nos Estados Unidos, podendo chegar também ao Brasil. “Os altos custos do gás e da eletricidade [na Europa] estão pressionando fortemente nossa competitividade”, disse o diretor-presidente dos negócios alemães da ArcelorMittal, Reiner Blaschek, em comunicado ao mercado.

Exaurindo a capacidade

Em Pernambuco, o segmento das indústrias metalúrgicas, mecânicas e de material elétrico reúne cerca de 540 empresas e, atualmente, emprega perto de 50 mil pessoas. Depois de experimentar em pouco mais de 10 anos um movimento de ascensão e queda com a estruturação depois a desmobilização de estaleiros e de refinaria, os empresários do setor vivenciam com cautela o momento crítico no mundo e desenham uma grave crise com forte impacto na economia local.

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“Os empresários estão retardando as contratações e as ampliações, exaurindo ao máximo a capacidade produtiva para evitar novos contratempos. Em termos de custo, acredito que o aço vai ficar mais caro para a gente aqui com a tendência de que grandes empresas globais, como as automobilística, vão procurar o aço em outros mercado, na China ou no Brasil, aí nossos produtores tendem a dar mais atenção à exportação do que as necessidades locais”, analisa o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Estado de Pernambuco (Simmepe), Sebastião Pontes.

A resiliência dos empresários do setor, segundo Pontes, é resultado também da instabilidade que o mercado da cadeia do aço passa desde o início da pandemia de coronavírus. De acordo com o presidente, o segmento nos últimos dois anos vem registrando picos de preços do insumo, seguidos de leves quedas, o que para ele tem dificultado o planejamento das empresas a longo prazo.

O índice do Custo Unitário Básico de Pernambuco (CUB-PE) realizado pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil de Pernambuco (Sinduscon-PE) mostra esse cenário. Em agosto, o chamado Aço CA-50 teve variação negativa de 3,62% em comparação com o mês anterior, acumulando queda em seu preço de 7,12% no ano e de 28,13% em 12 meses. No entanto, o insumo havia fechado 2021 com alta anual de 6,62%, antecedida, também no fechamento de 2020, de aumento de nada menos que 89,79%.

“Apesar de tudo temos esperança. Primeiro porque a China, ao que indica, está se recuperando da crise e pode movimentar essa demanda pelo aço. Tem também a América Latina, onde a energia está um pouco mais barata. São esses sinais que nos mostram alguma luz no fim do túnel, mas o fato é que precisamos esperar para ver como o mercado vai se comportar nos próximos meses”, diz Pontes.

O economista e professor do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE), Edgard Leonardo analisa que a “contaminação indireta da economia” brasileira e, consequentemente, do Nordeste já está dada e que a produção e comercialização na cadeia do aço é mais um setor afetado pela guerra Rússia-Ucrânia. “A Rússia é um grande player de fornecimento de uma gama de produtos para o mundo, principalmente no setor de energia. A Europa está caminhando para o inverno e precisa planejar o uso do gás e, ao mesmo tempo, amarga uma inflação acima de 9%, impactando todos os outros países”, afirmou.

O professor também cita a possibilidade do Brasil aproveitar positivamente a oportunidade caso seja procurado para suprir a falta do aço europeu, mas isso depende de como as economias vão se comportar diante de outras variáveis como as transações no mercado de petróleo. Outro fator que pode atrapalhar o país e o Nordeste é o período eleitoral que naturalmente “aumenta a instabilidade econômica e reduz os investimentos”.

“Não tem como isolar a nossa economia da internacional, mas depende muito de como vamos transitar pelo resto do período eleitoral e se o Brasil terá condições de atender o mercado no lugar desses grandes fornecedores de aço que está parando ou reduzindo a produção”, analisou Edgar Leonardo

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