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Sob o comando de uma mulher, o Estaleiro Atlântico Sul inicia sua retomada

Nesta segunda-feira (26), o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) dá início à sua retomada. Após 17 meses sem atividades, entra no seu dique o primeiro de dois navios que vão permitir recontratar funcionários e ver o dinheiro entrar novamente no caixa. Assim, o EAS começa a materializar o business plan traçado desde que entrou em Recuperação […]

Nesta segunda-feira (26), o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) dá início à sua retomada. Após 17 meses sem atividades, entra no seu dique o primeiro de dois navios que vão permitir recontratar funcionários e ver o dinheiro entrar novamente no caixa. Assim, o EAS começa a materializar o business plan traçado desde que entrou em Recuperação Judicial, há pouco mais de um ano.

Se antes fabricava navios, agora o estaleiro passa também a reformá-los. Entre as novas operações, constam ainda o desmonte de embarcações e a produção de torres eólicas, para atender ao crescente mercado de energia limpa no Brasil, principalmente no Nordeste.

O Estaleiro Atlântico Sul, que chegou a ter sete mil fncionários, passou por maus momentos devido aos cancelamentos das encomendas da Petrobras e da Sete Brasil, seus  maiores clientes, ambos abatidos por uma crise sem precedentes que começou com a operação Lava Jato. 

Como se não bastasse, em agosto de 2019, veio o programa BR do Mar, criado pelo Governo Federal para estimular o crescimento da navegação de cabotagem. Foi quando o estaleiro, que já vinha sofrendo com a crise da indústria naval, viu afundarem suas últimas encomendas: perdeu contratos de quatro navios de cabotagem que estava negociando com a Aliança e com a Mercosul Lines, no valor US$ 300 milhões, porque o BR do Mar ampliou os incentivos para a importação de navios e os armadores decidiram produzir as embarcações na Ásia.

Nicole Terpins é a primeira mulher à frente do EAS/Foto: Pedro Ferreira/Estúdio Lumix

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Mas isso são águas passadas. Agora o gigante de Suape começa a se levantar. E sob o comando de uma mulher, Nicole Terpins, a primeira à frente de sua direção. Nicole é uma executiva com mais de 15 anos de experiência no setor e iniciou sua trajetória no EAS em 2014, como diretora Jurídica. Ela assumiu a presidência em agosto de 2019, após a entrega da última encomenda, com a missão de conduzir a reestruturação. Mestre em direito comercial pela USP e especialista em negociações avançadas pela Harvard Institute of Negotiation, atuou na área de fusões, aquisições e reestruturação de empresas no Brasil e exterior.

Com equipe enxuta – conta com a colaboração de Léo Delarole, Diretor Comercial e de Suprimentos, e Tanielle Cavalcanti,  Diretora de RH -, ela tem gerido o estaleiro. “Fechamos dois contratos para realização de reparos em duas embarcações da Flumar Transporte de Químicos e Gás Ltda”, explica Nicole. A Flumar é uma subsidiária do grupo norueguês Odfjell.

Serão 60 dias de trabalho intenso para concluir os reparos dos navios Bow Atlantic, que chegou ao EAS no último dia 21, e o Flumar Brasil, que chegará ao EAS nesta terça-feira (27).

Esses contratos vão geram 200 postos de trabalho temporários, mas as perspectivas são boas. Há poucas estações de reparos no Brasil, o que gera demanda por este tipo de serviço no mercado nacional. “Queremos virar referência no reparo naval.  E nosso dique, que é um dos maiores do Brasil tem maior capacidade de içamentos, comporta grandes embarcações”, diz a presidente do EAS.

Nicole quer aproveitar a grande estrutura do estaleiro para explorar outros nichos de marcado. “Quem acompanha a história do EAS sabe que investimos muito na capacitação de mão de obra local. Após a desmobilização, mantivemos um banco de talentos e agora, 99% das novas contratações são de ex-funcionários”, explica.

“Mas não temos só mão de obra qualificada. Queremos mostrar aos clientes e armadores que o EAS tem estrutura física e tecnológica para atendê-los, afinal foi concebido para atender a uma grande carteira lastreada nas demandas da Petrobras”, salienta. De fato, o EAS chegou a ter 29 encomendas em carteira – 22 contratos com Transpetro e mais 7 sondas com a  SETE Brasil.

“A estrutura de caixa hoje é confortável para nossa restruturação. Nossa maior missão é garantir o melhor uso desse ativo e vemos que a forma de fazer isso é através da diversificação das atividades. E como resultado, estamos virando referência no mercado de desmantelamento”, diz Nicole.

É um  mercado em ascensão. A demanda é concreta, mas há incerteza no prazo de maturação porque, segundo Nicole, isso depende do cronograma da Petrobras para a desativação das plataformas, conforme seu plano de desinvestimentos.

Na Agência Nacional de Petróleo (ANP) há cerca de 20 projetos de  descomissionamentos aprovados e mais 10 em aprovação. Um volume de R$ 25 bilhões para os próximos cinco anos. “Acreditamos que a partir de 2022 veremos os primeiros projetos iniciados e até lá estaremos focado no mercado de reparo”.

Nicole ladeada pelos diretores Léo Delarole e Tanielle Cavalcanti

Como sempre foi estaleiro de construção, o EAS foi buscar no mercado pessoas especialistas em reparos para ganhar a credibilidade dos armadores. Além disso, tem trabalhado forte nas principais preocupações dos operadores, como a parte ambiental, que envolve descarte de material radioativo e a remoção do coral-sol – uma espécie invasora originária dos oceanos Índico e Pacífico que se fixa nas embarcações. O Estaleiro também fez parceria com entidades internacionais para aplicar a engenharia reversa no desmantelamento das embarcações.

E, se por um lado o BR do Mar ceifou as encomendas do estaleiro, por outro pode trazer oportunidades para este novo momento, já que vai aumentar demanda por navios afretados, o que tende exigir mais serviços de reparos.

“Esse é o primeiro projeto de reparo e a materialização de nosso plano de diversificação. Mas há um longo caminho a percorrer. Temos que concluir a restruturação de nossas dívidas, nosso principal objetivo. Concluir esse processo é condição para que nosso plano seja bem sucedido e sustentável”, diz a presidente do estaleiro.

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