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O futuro será movido a hidrogênio, mas há desafios para esta nova indústria se instale no Brasil, como o alto custo da eletrólise, a necessidade de infraestrutura específica para transporte e armazenamento e a dependência de políticas de incentivo, que são considerados entraves para que essa tecnologia se torne mais acessível e competitiva, segundo um estudo feita por pesquisadores do Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), que tem sede no Recife.
A eletrólise é um processo usado na fabricação do hidrogênio verde que é caro, porque precisa de muita energia elétrica. O estudo sobre hidrogênio renovável feito por pesquisadores do IATI foi publicado na revista Gondwana Research, um periódico científico de alto impacto voltado para pesquisas interdisciplinares sobre geociências, sustentabilidade e inovação tecnológica.
Intitulado em inglês “Hydrogen-powered future: Catalyzing energy transition, industry decarbonization and sustainable economic development, a review”, o estudo aponta o papel do hidrogênio na transição energética e sua relevância para o desenvolvimento sustentável e a descarbonização industrial.
Num cenário global, a pesquisa aponta a existência de mais de 1.500 projetos em andamento, com investimentos superiores a US$ 680 bilhões, concentrados principalmente na Europa, América do Norte e Ásia. No Brasil, a expectativa é de que ocorram investimentos da ordem de R$ 70 bilhões até 2030 na indústria de hidrogênio verde, segundo uma estimativa da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV).
O levantamento também aponta o papel que instrumentos financeiros, como títulos verdes e empréstimos vinculados à sustentabilidade podem ter na viabilização da nova tecnologia. O estudo foi liderado pelo cientista e pesquisador associado do IATI Bruno Cabral, doutorando em engenharia química pela UFPE.
Segundo ele, a regulamentação do hidrogênio é importante para que estejam definidos os incentivos que esta nova indústria vai poder vislumbrar, passando inclusive pela questão da diminuição de custos, comparando a outros tipos de tecnologia.
E esses incentivos, de acordo com Bruno, também podem contribuir para que vários setores industriais incorporem o hidrogênio substituindo o gás carbônico nos seus processos produtivos. Usado em vários processos industriais, o gás carbônico é fóssil e emite gases que contribuem para o aquecimento global. O estudo também analisa o impacto do hidrogênio verde em setores de difícil descarbonização, como siderurgia e aviação.
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“Os combustíveis fósseis não vão desaparecer do dia para a noite por vários motivos. É uma questão complexa que envolve vários atores”, cita Bruno, argumentando que isso inclui desde os lobistas até as empresas que movimentam muitos recursos com a comercialização dos mesmos, entre outros players.
O estudo projeta que o hidrogênio verde (H2V) pode reduzir 6,5% das emissões globais de CO₂ até 2050, o que contribuiria para as políticas climáticas. O Brasil, por sua matriz energética limpa e disponibilidade de recursos naturais, aparece no levantamento como um potencial fornecedor global de H2V.
Além do impacto ambiental, o estudo destaca a importância do hidrogênio para a economia. “A transição energética baseada no hidrogênio pode gerar novas oportunidades de negócios e empregos, além de fortalecer a segurança energética de diversos países”, afirma Bruno Cabral.
A pesquisa também contou com as contribuições dos cientistas Matheus Henrique Castanha Cavalcanti, Pedro Pinto Ferreira Brasileiro, Paulo Henrique Ramalho Pereira Gama, Valdemir Alexandre dos Santos, Attilio Converti, Mohand Benachour e Leonie Asfora Sarubbo.
Impacto da publicação da pesquisa sobre hidrogênio
A publicação na Gondwana Research é importante, porque o veículo é reconhecido por suas contribuições às ciências naturais e tecnológicas e a pesquisa tem o DNA de um instituto sediado em Recife (PE) que desenvolve tecnologia localmente. Para Paulo Henrique Ramalho Pereira Gama, diretor de negócios do IATI, a pesquisa reforça a importância do desenvolvimento científico no setor energético.
“O estudo traz dados relevantes sobre o potencial do hidrogênio verde e pode contribuir para a formulação de políticas públicas voltadas para a descarbonização da matriz energética global”, argumenta o diretor.
*Com informações do IATI
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