Por Etiene Ramos
Micros e pequenos empreendedores e produtores da agricultura familiar estão chegando aos gigantes do varejo a partir de soluções tecnológicas e da visão de oportunidades de startups como a Muda Meu Mundo (MMM), de Fortaleza, e a Local-e, de São Paulo. Há dois meses, elas foram contratadas pela rede global Carrefour que vem investindo na regionalização de produtos em suas unidades no Brasil, distribuídas em 13 estados e que somam 485 pontos de venda.
A MMM começou fazendo feirinhas e entregando cestas na capital cearense e hoje, já com escritório em São Paulo, virou um marketplace que detém uma rede de produtores de hortifruti e faz a operação logística entre eles e o Carrefour, entregando as mercadorias num raio de 250 quilômetros, em até 12 horas. “Só podemos fazer transformações na renda do produtor, gerando segurança e recorrência no processo de venda. Por isso foi preciso olhar para os supermercados. Fazemos essa conexão, eliminando os intermediários, encurtando a cadeia. Damos apoio técnico, adiantamentos de recebíveis e outras coisas que facilitam o dia a dia dos produtores como a emissão de notas fiscais”, explica Priscilla Veras, fundadora e CEO da Muda Meu Mundo.
Com parte da equipe trabalhando em home office e muita integração virtual, a empresa recebe o pedido da loja e, usando inteligência de dados, faz o match com o agricultor que tem o produto disponível. “A MMM acaba sendo uma solução tecnológica para fazer uma empresa muito grande como o Carrefour se conectar de forma simples com o produtor pequenininho, aquele que só tem uma caixa de abóbora e que não venderia a uma grande rede. Mas se juntar com outros que cadastramos, faz isso com mais facilidade”, diz a CEO, lembrando que todos os produtos possuem tag de rastreio e QR Code para que o consumidor saiba a origem do que vai levar para a mesa. “Ao identificar o produtor, trazemos mais pessoalidade com quem faz nossa comida”, completa.
Avanços pelos pequenos
Para a rede, essa parceria facilita a proposta de levar alimentos saudáveis e frescos aos seus clientes, além de incentivar os pequenos produtores rurais que estão mais próximos às lojas. “Entendemos que valorizar a produção dessas pessoas fortalece a economia e as famílias das diferentes regiões do país. Por isso, nos últimos anos ampliamos a participação desses produtos em nossos negócios, em um processo que se baseou também no uso da tecnologia”, diz Arnaud Dusaintpere, diretor comercial das células regionais do Carrefour.
Neste movimento para se aproximar dos fornecedores locais, o Carrefour Brasil vem modificando os processos e até mesmo regras como a de só aceitar entregas em caminhões, nas docas. Agora, a rede aceita que os produtos sejam ser entregues também por carros particulares.
Diretor comercial da célula Nordeste do Carrefour, Adriano Souza, destaca a criação de uma incubadora interna pela empresa a fim de simplificar os contratos e melhorar as negociações com os micro e pequenos fornecedores. “Vamos acelerar nossa área digital para oferecer uma melhor experiência de compra para os clientes. Nosso objetivo é democratizar a alimentação saudável, oferecendo regionalização e preços acessíveis”, revela.
Depois de vários anos trabalhando na Europa e no Brasil em marcas mundiais, Leila Okumura e seu sócio, o argentino Juan Stingo, que foi da Nielsen, multinacional de pesquisa de mercado, abriram a Local.e para prestar consultoria às pequenas e médias indústrias, especialmente as de alimentos e bebidas, e levar seus produtos até as gôndolas das grandes redes do varejo. A plataforma já conta com mais de mil varejistas cadastrados e 3 mil marcas locais que oferecem 7.500 produtos e vêm surpreendendo pela qualidade.
O trabalho deles é unir as duas pontas, por meio das networks que trazem na bagagem e o propósito de promover o consumo local. No trajeto já somam cerca de 8 mil oportunidades comerciais e um olhar apurado sobre as diversas práticas e estratégias do mercado. “O Carrefour tem um importante diferencial do varejo brasileiro que é o cuidado com algumas condições do contrato para os pequenos na parte logística, no processo de cadastro mais simples, e descontos menores nas negociações com os pequenos”, observa a co-fundadora da Local.e.