Custo da gasolina impacta a categoria dos motoristas por aplicativos. Aqueles que não podem bancar a troca da gasolina por gás estão sendo obrigados a desistir da função
Por Juliana Albuquerque
As consequentes altas do preço da gasolina, que com o último aumento concedido pela Petrobras na terça-feira (26), já acumula uma alta de 74,3% este ano, tem provocado uma corrida pela conversão para GNV. Em Pernambuco, dados do Detran-PE indicam que o Estado tem hoje uma frota de 75.763 veículos com GNV, contra 68.021 registrados no fim de 2020.
De acordo com a Companhia Pernambucana de Gás (Copergás), que vem acompanhando esse movimento, de janeiro a setembro de 2021 foram registradas 8.256 conversões frente a 7.688 conversões computadas ao longo de 2019. “Até então era o melhor resultado histórico para o segmento”, comenta João Guerra, supervisor do Segmento Veicular da Copergás.
Isso se refletiu no aumento nas vendas do GNV. “Em janeiro deste ano, a média diária de venda de GNV era em torno de 320 mil m³ por dia. Já em setembro, a Copergás registrou 407 mil m³ por dia, o que representa um aumento da ordem de 27% nesse período”, completa Guerra.
De acordo com último levantamento realizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em Pernambuco, enquanto o preço por m³ do GNV era de R$ 3,72, o preço médio da gasolina até o último dia 23 era de R$ 6,81. Com o novo aumento, na terça (26), o preço do combustível nas bombas já chega a R$ 7 em muitos postos da capital pernambucana.
Para quem depende de carro para sobreviver, tem sido praticamente impossível se manter com a gasolina neste valor. “Com a gasolina batendo na casa dos sete reais, muita gente está desistindo da atividade de motorista por aplicativo, mesmo sem ter outra opção de trabalho. Existem estudos que apontam que, por conta desses constantes aumentos, cerca de 30 mil motoristas de todo Brasil tiveram que entregar os veículos locados por não conseguir bancar o custo do combustível e pagar o aluguel do carro. As plataformas só fazem lucrar e as tarifas não são reajustadas para minimizar os aumentos, pois são as mesmas de cinco anos atrás. Como um motorista pode pagar uma gasolina de R$ 7 e receber uma tarifa de R$ 5?”, questiona Thiago Silva, motorista de aplicativo e presidente da Associação dos Motoristas e Motofretistas por Aplicativos de Pernambuco (AMAPE).
De acordo com ele, hoje, quem roda no GNV consegue ainda ter uma sobrevida na atividade, mas quem roda de gasolina, tem tido que trabalhar mais para ganhar menor. “Antes, você colocava R$ 100 de gasolina e conseguia fazer R$ 250 pelo aplicativo. Hoje, você tem que colocar em média R$ 157 para ganhar os mesmos R$ 250 e fazendo jornadas de 15 horas de trabalho diárias”, exemplifica.
Visando minimizar os custos, o gerente Miguel Ramos decidiu se desfazer do carro a gasolina para financiar um a gás. O resultado para ele, que roda uma média de 1.000 quilômetros por mês, foi sentido no bolso. “Meu custo caiu de R$ 750 para R$ 400”, afirma Ramos, que não se arrepende da decisão de ter trocado um carro modelo 2017 por um de 2016.