O cultivo de coco em Alagoas vem ganhando diversificação com o investimento e pelo menos três produtores do estado iniciaram o plantio de cacau em áreas de coqueirais. As primeiras arrobas devem ser colhidas nos próximos meses e abastecerão a indústria baiana de beneficiamento.
O experimento teve início há pouco mais de dois anos na propriedade de Alexandre Lyra, localizada no município de Teotônio Vilela, onde ele cultiva coco. A ideia de associar a produção com o cacau chegou como forma de melhorar a rentabilidade da produção do coco.
“Conseguimos achar um consórcio em Anápolis, no Sul da Bahia, que fez todo um trabalho de consultoria, promoveu seminário e acompanhamento de todo o processo de plantio e manutenção da cultura”, disse.
De início, foram plantados cacau em forma de consórcio com o coco em uma área de 20 hectares, mas a expectativa é de expandir para 70 hectares devido à boa aceitação do solo e os resultados obtidos até o momento. O cacau é um fruto com colheita de médio e longo prazo, já que demora em média de dois a três anos do plantio à colheita. A primeira safra significativa deve acontecer nos próximos meses.
“Nós tivemos resultados muito bons, tanto que os técnicos avaliaram que o cacau aqui em Alagoas deve ter uma produtividade melhor do que em Anápolis, na Bahia, e se mostra bem tolerante à vassoura de bruxa. Acabei utilizando um produto para combater um fungo, que acabou contribuindo para o sucesso no crescimento e adaptação da planta”, explicou.
A parceria coco e cacau vem dando certo em Alagoas por conseguir combinar alguns fatores que são importantes para o bom desenvolvimento do fruto. “O coqueiro dá um sombreamento legal ao cacau, além de termos achado o espaçamento ideal entre as culturas, estamos pensando em aumentar esse espaçamento quando expandirmos os hectares plantados, mas nossa projeção é que na colheita deste ano possamos ter de 100 a 150 arrobas de cacau por hectare. Já o coco estamos com previsão de colheita de 300 frutos por planta por ano”, avaliou Lyra.
A produção das amêndoas secas do cacau a serem colhidas será vendida para os municípios de Ilhéus e Itabuna, na Bahia, para a continuidade do beneficiamento.
Além da produção em Teotônio Vilela, o cacau também está sendo cultivado em Porto de Pedras, em uma propriedade que investiu na plantação de 40 hectares, seguindo o mesmo esquema de consórcio do cacau com os coqueirais. Alexandre disse que há ainda um produtor no município de Boca da Mata que está investindo somente em cacau e lá a plantação inicial é de 10 hectares.
“Em Porto de Pedras, eles iniciaram a plantação mais ou menos na mesma época que a gente, porém tiveram alguns problemas com um ataque de ácaro severo, o que comprometeu a performance dos frutos. Eles conseguiram acabar com o problema e devem iniciar a primeira colheita em breve. Já em Boca da Mata é uma experiência mais recente, somente com cacau, mas que terá bons resultados”, afirmou.
Lyra disse que os produtores de coco de Alagoas estão acompanhando com bastante interesse a inserção do cacau na cocoicultura do estado. “Estamos passando por um processo de mudança na cultura de coqueiro e acredito ser um caminho inevitável esse consórcio das culturas. Hoje o cacau em Alagoas é produzido em formato irrigado, o que precisa que sejam realizadas algumas adaptações, mas há uma crescente demanda mundial por cacau e chocolates, o que por si já é um grande incentivo para essa produção. O cacau se adaptou muito bem ao clima e estilo de cultivo em Alagoas e acredito que temos grandes possibilidades de crescer ainda mais daqui pra frente”, completou.
Demanda por cacau cresce e eleva preço no mundo todo
Apesar de o cacau ser originário da região amazônica, o Brasil figura em sétimo lugar no ranking de maiores produtores mundiais. No mercado interno, Pará e Bahia concentram as maiores produções, mas o cacau mostra que possui força para continuar crescendo e expandindo territórios de produção.
Na África, onde se concentram hoje os principais mercados produtores de cacau, as condições climáticas têm interferido e prejudicando a produção na Costa do Marfim e em Gana, por exemplo. Já nos Estados Unidos, os estoques de cacau monitorados pela Intercontinental Exchange (ICE) têm apresentado uma tendência de queda, alcançando o menor nível em 15 anos, com apenas 2.172.260 sacas registradas na última terça-feira (24).
As perspectivas de crescente demanda, segundo Alexandre Lyra, incentivam produtores a investir no cacau, como ocorre em Alagoas. “O preço vem subindo e para nós é muito interessante. A demanda por cacau no mundo é gigantesca e enfrentamos escassez, o que amplia as oportunidades e incentiva que continuemos investindo cada vez mais no cacau aqui em Alagoas”, completou.
Em Sergipe, o fruto vem despertando interesse crescente dos pequenos agricultores rurais do estado, impulsionado pelo potencial econômico da promissora cultura. O incentivo e assistência técnica à produção cacaueira é promovido pela Secretaria de Estado da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Pesca (Seagri), por meio da Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro).
O cultivo do cacau em Sergipe é relativamente recente. Os primeiros plantios de cacaueiro em Sergipe foram experimentados por pequenos agricultores familiares da região citrícola do Sul e Centro-sul do estado e detectados por técnicos da Emdagro no ano de 2008. Em 2012, a empresa deu início ao suporte técnico e à distribuição de mudas nessas regiões.
O plantio de cacau na região sul de Sergipe tem sido feito com sombreamento de diferentes culturas, como banana e cajá, o que favorece o desenvolvimento das plantas jovens. A safra de 2024 já começou, a expectativa é de que Sergipe produza cerca de 9,5 toneladas de amêndoas de cacau, que serão comercializadas principalmente em Santo Antônio de Jesus, na Bahia.
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