A inflação de setembro em 0,26% surpreendeu o mercado, que esperava algo em torno de 0,33%. O índice, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quarta-feira (11), foi influenciado pelo grupo alimentação, quem vem registrando quedas há quatro meses. Com o IPCA de setembro, a inflação acumulada este ano atingiu 3,50%.
Para alguns analistas, a economia do Brasil deve tomar uma direção muito favorável. Para o economista chefe da Necton, André Perfeito, o resultado do IPCA é muito bom e reitera uma visão mais benigna da política monetária que deve continuar com cortes de 50 pontos base na taxa básica levando a Selic para 11,75% ao final do ano.
“O Brasil pode estar entrando num momento de euforia, na conjunção de inflação sob controle, juros em queda, atividade ganhando força (massa salarial em alta). Além disso, há o fato de ser uma economia “longe” dos problemas geopolíticos atuais. Esta é uma situação inédita no sentido de certo deslocamento da dinâmica global, mas é uma hipótese que devemos considerar” analisa Perfeito.
Ele entende que o mercado deve manter as projeções de Selic em 9% ao final do ciclo e se isto realmente se confirmar devemos ter um PIB mais forte em 2024. “Atualmente projeto PIB em 2% para o ano que vem, mas as chances hoje são maiores: para 3%”, reforça.
Inflação em desaceleração
Para Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena, o IPCA de setembro confirma que a inflação de serviços segue em rota esperada, a de continuidade da desaceleração. “O grupo de serviços subjacentes atingiu 3,6% na média móvel de 3 meses dessazonalizada e anualizada. Na mesma linha, a difusão de serviços (medida que mostra o percentual de itens com aumentos de preços) passou de 72% para 47% em setembro, menor patamar desde setembro de 2020”, analisa.
Andrea ressalta que há desaceleração também nos bens industriais, que segue em curso, e é mais intensa que o esperado. Isso é mais forte entre o bens semi duráveis (utensílios de cozinha e acessórios para automóveis) e de cuidados pessoais, itens de higiene, como perfume e produtos para pele. “Nossa projeção para IPCA deste ano é de 4,6%, abaixo do teto da meta, e 3,9% para 2024. Para IPCA dos próximos 2 meses, temos alta de 0,32% e 0,29%, acelerando para 0,44% em dezembro. O número do IPCA não trouxe revisão relevante no curto prazo”, diz.
Para Antonio van Moosel, estrategista-chefe da Acqua Vero, a economia brasileira continua surpreendendo até mesmo os mais otimistas, sobretudo face ao elevado patamar da taxa básica de juro. “O PIB expandiu 0,9% no 2T23 (segundo trimestre deste ano) ante o trimestre anterior, acima da projeção de 0,3% das previsões. A leitura representa a oitava alta consecutiva na margem. Na comparação anual, o crescimento de 3,4% também superou a previsão de 2,7%”, reflete.
O especialista frisa que convém observar que o abrandamento da inflação e o mercado de trabalho aquecido contribuiu para o aumento da renda real, que, por sua vez, estimula os consumidores. “O improvável dinamismo econômico sugestiona que algumas variáveis de complexa mensuração possam estar melhor no Brasil. Entre elas, está a capacidade de crescimento sem estimular a inflação, chamada de PIB potencial, e a taxa natural de desemprego – o que explicaria a força atual do mercado de trabalho”, pontua.
Para Moosel, a resistência da inflação de serviços apoia a ideia do Banco Central sobre a desinflação, que está ocorrendo mais lentamente agora, em comparação com o início desse processo. Isso se deve, segundo ele, a vários fatores, como a persistência da inflação, a quantidade de produtos e serviços comprados e a diferença entre a capacidade econômica e a produção real. “Embora a leitura qualitativa favorável ratifique o quadro inflacionário auspicioso, não é suficiente para acelerar a redução das taxas de juros pelo Banco Central, especialmente dadas as taxas de juros nos Estados Unidos e as incertezas geopolíticas”, diz o estrategista-chefe.
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