Nesta terça-feira (24), a Petrobrás anunciou um aumento de R$ 0,23 no preço médio de venda do litro de gasolina A para as distribuidoras. A mudança já entrará em vigor nesta quarta (24) e, na avaliação de economistas, pode gerar efeito em cascata.
Sandro Prado, economista e professor da Universidade de Pernambuco, avalia que o governo contava com um aumento de preço na gasolina apenas em março – quando a cobrança de tributos federais será retomada – e pode sofrer com uma queda de popularidade diante dessa elevação no valor do combustível, que se refletirá no preço cobrado ao consumidor final.
“A partir do momento em que logo no início já não consegue cumprir as promessas de campanha, independentemente do que tenha acontecido, a popularidade do governo tem um baque entre os eleitores, principalmente, e dá munição a quem votou contra continuar fazendo campanha”, disse o professor.
Sandro relembra uma fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmando que os 60 dias de prorrogação da isenção tributária sobre a gasolina serviria para o governo estudar os preços praticados pela Petrobrás e, assim, poder balizar uma mudança na companhia antes da cobrança de impostos ser retomada.
O professor criticou ao mercado pela reação positiva ao aumento, mesmo que esse fato implique em prejuízos socioeconômicos. “Ele [o mercado] gosta muito que os preços sejam realinhados [seguindo valores internacionais]. Já para população, é uma notícia muito ruim, pois se trata de um realinhamento muito alto”, declarou o economista e professor.
Para o economista e sócio-diretor da PPK Consultoria, João Rogério Filho, a mudança no preço “não é uma surpresa absoluta”, visto que a política de Preço de Paridade Internacional (PPI) não foi alterada, mas é preocupante por impactar o índice geral de preços.
“Vendo que a gasolina está com elevação anunciada de 7,47%, a gente já pode esperar, nos próximos dias, um aumento no diesel e efeito cascata nos preços. A Petrobrás se tornou uma das companhias mais rentáveis do mundo, com o interesse dos acionistas sobrepujando os interesses do país. A escolha que foi feita com a manutenção da política de PPI é a escolha de benefício aos acionistas”, argumentou o economista.
O sócio-diretor da PPK Consultoria aponta uma contradição entre o discurso de campanha, crítico à atual política de preços, e a prática do início do governo, que sofre pressão do mercado contra possíveis mudanças no PPI.
“Mudar a política de preços era uma promessa, mas as declarações dadas na transição, com vistas a uma revisão, foram muito mal vistas pelo mercado. Hoje a gente vive uma dicotomia entre discurso e prática”, disse o economista.
Na visão de João Rogério, seria melhor que, em vez de buscar agradar a todos, o governo alinhasse suas práticas e seu discurso. “Ou assume de vez um política pró-acionista, ou uma linha intervencionista, pró controle de preços. O que falta hoje é uma definição entre discurso e prática. O governo pode escolher apenas um, quem quer agradar a todos, desagrada a todo mundo”.
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