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Aumentaram os ataques às criptomoedas. O Blockchain é seguro ? Entenda

São mais de 130 milhões de usuários usando as criptomoedas em todo o mundo.
Blockchain
Blockchain/Foto: Pixabay

Algumas criptomoedas – como a bitcoin – vem se desvalorizando desde o ano passado e são cada vez mais frequentes as notícias de ataques cibernéticos tentando roubar estes ativos, sem falar nas fraudes envolvendo pseudo corretoras. Diante deste cenário, a primeira pergunta que vem a cabeça é: o blockchain é realmente seguro? Pelo menos três especialistas consultados pelo Movimento Econômico responderam que sim. 

O blockchain é como se fosse uma corrente de blocos que resultam num código único transcrevendo uma transação, o hash. Entre outras informações, o  hash informa quem fez a transação e onde. “É seguro porque é uma tecnologia de armazenamento e compartilhamento de dados de forma distribuída, criptografada e baseada em consenso. A segurança e integridade da informação é garantida pelo hash, que impede alterações no seu conteúdo, ou seja, se for alterado, o hash muda e denuncia a alteração ou violação”, resume a sócia do Hissa & Galamba Advogados, Carmina Hissa, especialista em privacidade e proteção de dados. As informações que compõem o blockchain ficam armazenadas em diversos computadores espalhados pelo mundo. 

Carmina Hissa
Especialista em proteção de dados, Carmina Hissa, diz que a tecnologia usada nas criptomoedas, blockchain é seguro. Foto: Divulgação

 Apesar de classificar a tecnologia como segura, Carmina argumenta, porém, “que como todo sistema tem que guardar as senhas, é importante ver quais os tipos de blockchain a serem usados, dependendo do apetite de risco do investidor. Também é bom ter conhecimento, saber as regras básicas do jogo”. Ela diz que é interessante a pessoa que tem criptomoedas acrescentar mais uma camada de segurança a estes ativos, como utilizar a autenticação de múltiplos fatores, incluindo duas formas ou mais para entrar na conta, como usar o pin e cofres seniores. Essas medidas dificultam a atuação de hackers. 

Mas por que atualmente se diz que aumentaram os ataques cibernéticos às criptomoedas? A resposta envolve duas respostas simples. Primeiro, aumentou o ativo das criptomoedas, atualmente estimado em US$ 1,07 trilhão. E isso, mesmo com algumas criptomoedas, como a bitcoin, passando por um processo de desvalorização desde novembro do ano passado.  A quantidade de cryptojacking – ‘empresas’ que tentam roubar os dados das criptomoedas – triplicaram no primeiro semestre deste ano, comparando com o mesmo período do ano passado. Isso representou um aumento de 30% de ataques, totalizando 66,7 milhões, de acordo com os dados da SonicWall, empresa norte-americana, com sede na Califórnia, que é fabricante de soluções de segurança digital. 

Os ataques ocorrem, segundo especialistas consultados, não tem relação com a tecnologia usada, a blockchain. “Pode ocorrer  uma falha na carteira virtual, como ocorreu na rede da SOL. Quando há grandes quedas e todo mundo quer vender, os investidores ficam vulneráveis e os golpes de engenharia social acontecem”, explica Carmina. A rede da SOL é mais um ecossistema de criptomoeda. A grosso modo, as carteiras são onde os investidores colocam as suas criptomoedas.

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“Ao comprar uma criptomoeda, o usuário baixa um programa que gera uma chave gigante privada que pode conter de 12 a 24 palavras. A maior parte dos ataques envolvem hackeamento para roubar estas chaves ou senhas. A maior parte dos ataques ocorre no âmbito dos usuários e as corretoras também são consideradas usuárias das criptomoedas”, explica o especialista em criptomoedas, Marco Carnut. Os hackeamentos – que podem resultar em roubos das criptomoedas – também ocorrem em empresas terceirizadas pelas corretoras. Geralmente, os ataques são nos dispositivos dos usuários ou nos computadores das corretoras e das suas terceirizadas.

E o atual cenário indica que está só começando uma grande movimentação de criptomoedas. No último dia 04 de agosto, uma das maiores gestoras de ativos norte-americanas, com sede em Nova Iorque, a BlackRock anunciou que passa a usar bitcoin nas transações com seus clientes. A empresa citada tem ativos de US$ 10 trilhões.

E também não era de se esperar que o dinheiro continue sendo operado do mesmo modo em que está há mais de sete décadas num mundo onde tudo está sendo alterado com a influência das novas tecnologias desenhando um futuro mais digital. “O atual sistema é muito forte, centralizado, centrado no dólar (norte-americano). Foi constituído desde a segunda guerra mundial. E se baseou em três poderes: o hard power (a força bruta), o software power – que se refere a indústria cultural, como Hollywood e fast food – e o terceiro poder, que é o poderio cibernético americano. São três forças que foram construídas ao longo de décadas”, resume o professor do Centro de Informática (CIn) da Universidade Federal de Pernambuco, José Carlos Cavalcanti.

O professor do CIn da UFPE, José Carlos Cavalcanti, diz que a desvalorização das criptomoedas está relacionada com a queda que ocorreu nas ações da Nasdaq. Foto: Arquivo Pessoal.

A desvalorização das criptomoedas

“Vários critérios contribuíram para a desvalorização das criptomoedas, que também tem uma relação com as ações da Nasdaq. Quando a Nasdaq caiu, elas caíram”, argumenta o professor Cavalcanti. Especializada em listar as grandes empresas de tecnologia, as ações da Nasdaq caíram, em média, 29,51% no primeiro semestre deste ano, segundo matéria publicada no Valor Econômico, publicada no começo de julho passado.

Mas a desvalorização das criptomoedas vem ocorrendo desde novembro do ano passado. O bitcoin chegou a valer US$ 69 mil em novembro do ano passado e agora está custando pouco mais de US$ 21 mil. “A tendência histórica de longo prazo é crescer, principalmente se a economia se recuperar”, comenta José Carlos. No entanto, a curto prazo há um processo de desaceleração da economia mundial com problemas como alta da inflação, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, os surtos de covid-19 etc. 

Ainda sobre o que está ocorrendo com as criptomoedas, Marco Carnut dá o resumo do atual cenário: “No ano passado a euforia do mercado estava exagerada, e tinha muito dinheiro sobrando no mundo, e ninguém enxergava a crise que estava por vir. Tudo caiu – ações, guerra, crise mundial. Secaram muitas fontes, o dinheiro fácil sumiu, grandes agentes do mercado realocaram de forma conservadora. Isso é meio cíclico, se você olhar a História. Faz parte do cliclo “boom-bust” – termo que se refere aos ciclos de crescimento e encolhimento da economia. Quem já participa do mercado há mais de 5 anos já viu uns dois ou três desses ciclos”.

Segundo Marco, um estudo da Universidade de Cambridge, cita que já existem mais de 130 milhões de usuários de criptomoedas e mais de 2.600 moedas deste tipo. As mais importantes são a bitcoin e a Ethereum.  Ele também acredita que o uso dessas criptomoedas requer uma higiene de cyber segurança. “As pessoas têm que saber onde estão os seus dados, as senhas. A gente vive num mundo em que as pessoas querem que alguém resolva e não tentam entender o que está acontecendo. Quando quem resolve é a corretora, tudo bem. Mas quando é o hacker, não é bom. As criptos são seguras, mas tem muita gente fazendo besteira no mercado e pagando o preço alto. É perigoso viver num mundo onde não se entende como as coisas funcionam”, conclui.

E, se você ainda não entendeu como funciona as criptomoedas, Marco tem uma explicação muito fácil, comparando com o que ocorre nos cartórios e no Diário Oficial, que fazem parte do mundo físico. “As criptomoedas notarizam a transferência de valores. Elas notarizam e dão publicidade. É como se uma rede de criptomoedas fosse em todos os cartórios e notarizasse que foram criadas 10 mil moedas num diário oficial. Os programas de computadores agem como se fossem os cartórios e avisam a todo mundo da transferência. Com a transferência, se obtém um hash, que diz em qual edição do Diário Oficial foi incluída a transação e quanto valeu. Esse Diário Oficial das criptomoedas é feito de forma colaborativa e o hash diz qual o participante que notarizou a transferência”, comenta Marco, numa das explicações mais simples, que dá ideia de como funciona todo este sistema. E conclui: “o dinheiro está passando por um processo de reinvenção. É uma mudança na base e na estruturação do sistema financeiro”.

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