Os impactos da alta na Selic sobre o crédito podem ser sentidos após uns 180 dias, se refletindo no custo do cartão de crédito ou no empréstimo pessoal
O Banco Central (BC) apertou ainda mais os cintos na política monetária. Diante do aumento da inflação de alimentos, combustíveis e energia, o Comitê de Política Monetária (Copom), elevou a taxa Selic de 4,25% para 5,25% ao ano, por unanimidade. A decisão era esperada pelo mercado, embora tenha sido avaliada como dura. E, sob o ponto de visto dos investimentos, tem um aspecto positivo.
Esse foi o quarto reajuste consecutivo na taxa Selic desde março, quando a taxa ainda estava em 2% ao ano. Nas últimas três reuniões, o Copom tinha elevado a taxa em 0,75 ponto percentual em cada encontro. Com covid-19 detectada em teste na semana passada, o diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra Fernandes, não participou da reunião presencial.
Com a decisão desta quarta-feira (4), a Selic continua num ciclo de alta, depois de passar seis anos sem ser elevada. De julho de 2015 a outubro de 2016, a taxa permaneceu em 14,25% ao ano. Depois disso, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018. Em julho de 2019, a Selic voltou a ser reduzida até alcançar 2% ao ano em agosto de 2020, influenciada pela contração econômica gerada pela pandemia de covid-19. Esse era o menor nível da série histórica iniciada em 1986.
Impacto nos investimentos
Para Fábrio Rech, sócio da Athena Investimentos, a medida foi dura e demonstra o compromisso duro do BC em ancorar as expectativas da inflação. “Na nossa opinião, isso veio dentro do esperado, veio corroborar para uma perspectiva positiva, mesmo num patamar mais alto da Selic”, disse.
Rech ressalta um lado positivo para os investimentos. “Temos que lembrar que no mundo lá fora convive com juros negativos e será natural a busca por alternativas em mercados com prêmios mais elevados e, neste aspecto, o Brasil pode se beneficiar da entrar de recursos, tanto voltado para renda fixa como renda variável”, analisa o sócio da Athena.
Inflação
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em junho o IPCA fechou no maior nível para o mês desde 2018 e acumula 8,35% de alta em 12 meses, pressionado pelo dólar e pela alta da energia elétrica.
O valor está acima do teto da meta de inflação. Para 2021, o Conselho Monetário Nacional (CMN) tinha fixado meta de inflação de 3,75%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não podia superar 5,25% neste ano nem ficar abaixo de 2,25%.
No Relatório de Inflação divulgado no fim de junho pelo Banco Central, a autoridade monetária estimava que, em 2021, o IPCA fecharia o ano em 5,2% no cenário base. Mesmo com uma queda nos índices no segundo semestre, esse cenário considera o estouro do teto da meta de inflação em 2021.
A projeção está abaixo das previsões do mercado. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 6,7%. A projeção oficial só será atualizada no próximo Relatório de Inflação, no fim de setembro.
Crédito mais caro
A elevação da taxa Selic ajuda a controlar a inflação. Isso porque juros maiores encarecem o crédito e desestimulam a produção e o consumo. Por outro lado, taxas mais altas dificultam a recuperação da economia. No último Relatório de Inflação, o Banco Central projetava crescimento de 4,6% para a economia em 2021.
O mercado projeta crescimento maior. Segundo a última edição do boletim Focus, os analistas econômicos preveem expansão de 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos pelo país) neste ano.
Os impactos da alta na Selic sobre o crédito podem ser sentidos após uns 180 dias, se refletindo no custo do cartão de crédito ou no empréstimo pessoal, por exemplo. “Neste último caso, se o empréstimo foi pré-fixado, fica tudo bem, mas se foi Selic mais uma taxa, o custo vai subir”, analisa Rech.