Angela Fernanda Belfort
e Vanessa Siqueira
A alta do dólar vai trazer mais inflação aos brasileiros, o que é ruim para a economia como um todo. No entanto, vai beneficiar alguns setores, como os exportadores e também deve impactar, positivamente, o turismo no Nordeste, já que os brasileiros tendem a viajar menos para o exterior, quando a moeda norte-americana está em alta. Até esta segunda-feira (25), o dólar registrou uma alta de 19,65% ao ano e de 0,43% este mês.
“A alta do dólar impacta todas as empresas que precisam de insumo importados, incluindo as de alimentos, a de automóveis. O aumento encarece todas as importações. Em Pernambuco, a maioria das indústrias é importadora”, explica o economista da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe) Cezar Andrade.
O economista argumenta que os preços vão ficar mais caros, porque as empresas vão repassar a alta dos custos para o consumidor final. A inflação é o aumento generalizado de preços. “E o crescimento da inflação pode contribuir para o aumento da taxa (de juros) Selic, o que trava o desenvolvimento econômico”, comenta Cezar. Responsável pela política monetária do País, o Banco Central muitas vezes aumenta os juros para conter a inflação.
A alta do dólar também traz outro problema ao País: aumenta o custo da dívida pública. “Ou seja, vão precisar de mais reais para pagar a dívida pública externa”, conta Cezar.
A parte positiva da alta do dólar
O lado positivo da alta do dólar é que as empresas exportadoras vão ganhar mais. O CFO da Mineração Vale Verde, Milson Mundin, explica que a receita da MVV é diretamente atrelada ao dólar, já que o principal produto (cobre) “é cotado na moeda norte-americana, o que fortalece a posição no mercado internacional. Por outro lado, parte significativa dos custos da mineradora, é denominada em reais, representando uma vantagem em custos comparado a players internacionais”.
Para Mundin, “alguns insumos, por serem importados, sofrem impacto com a alta do dólar, resultando em custos adicionais para a empresa. No entanto, esse aumento é contrabalançado pelos ganhos obtidos nas vendas em dólar, criando um cenário positivo para o mercado em que atuamos. Essa dinâmica reflete uma vantagem competitiva para a MVV, pois, enquanto enfrentamos desafios pontuais com compras internacionais, o fortalecimento do dólar em relação ao real beneficia nossa receita e potencializa nosso desempenho no setor mineral. Em um mercado globalizado, esse equilíbrio nos permite continuar investindo em tecnologia, inovação e em nossas comunidades anfitriãs, que ficam próximas ao empreendimento”.
O setor sucroalcooleiro que tem uma atuação forte em vários Estados do Nordeste, como Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte também exporta parte da sua produção. Segundo o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha, no agronegócio, as receitas melhoram no balanço das exportações por causa da alta do dólar, mas componentes usados na produção – que têm influência da moeda estrangeira -, como embalagens, óleos e adubos vão ter custos mais onerosos.
As previsões de alguns setores da economia é de que o dólar chegue a R$ 6,20 num prazo de um ano. À frente da Associação Pernambucana de Atacadistas e Distribuidoras (APAS) e presidente da Karne Keijo, Inácio Miranda, diz que o aspecto mais nocivo da alta do dólar é o aumento da inflação. “Na empresa, importamos independente da valorização da moeda norte-americana, porque produtos como picanha e batata congelada vão vender independentemente da cotação do dólar”, afirma Inácio. Ele acrescenta também que o nível de consumo está bom em Estados como Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Inácio também cita que a alta da moeda norte-americana vai levar mais pessoas a viajarem menos pra fora e escolherem o Nordeste como destino de férias. “Isso também é bom, porque movimenta restaurantes, hotéis, entre outros”, conclui.
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