O governo não pretende reduzir o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre o câmbio para segurar a alta do dólar, disse nesta terça-feira (2), em Brasília, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A declaração foi um esforço do governo para frear a valorização da moeda norte-americana, que atingiu máxima de R$ 5,7007 depois que o mercado reagiu à declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter dito que “iria fazer alguma coisa” para conter a depreciação do real, convocando reunião para a quarta-feira para tratar do assunto. No final do pregão, o dólar encerrou em R$ 5,6652, alta de 0,22% em relação ao dia anterior.
Haddad afirmou que uma comunicação melhor sobre o arcabouço fiscal e a autonomia do Banco Central (BC) significa a principal ação necessária para conter a desvalorização do real. “Não sei de onde saiu esse rumor [do IOF]. Eu acredito que o melhor a fazer é acertar a comunicação, tanto em relação à autonomia do Banco Central, como o presidente fez pela manhã, quanto em relação ao arcabouço fiscal”, declarou o ministro após reunião com deputados para discutir a regulamentação da reforma tributária.
Haddad reiterou a necessidade de melhoria na comunicação. “Não vejo nada fora disso, autonomia do Banco Central e rigidez do arcabouço fiscal. É isso que vai tranquilizar as pessoas. Uma atenção mais em comunicação do que de outra coisa”, argumentou.
Atualmente, quem faz qualquer operação cambial – como compra no cartão no exterior – paga 4,38% de IOF. Para compra de moeda estrangeira em espécie, a taxação é de 1,1% e deve ser zerada em 2028.
Até 2022, incidiam 6% de IOF sobre empréstimos de até 180 dias, mas a taxa foi zerada naquele ano. O Brasil está diminuindo a tributação sobre o câmbio como compromisso para o país entrar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Ataque especulativo do real frente ao dólar?
Em entrevista à Rádio Sociedade Sociedade, emissora baiana, na segunda-feira (1º) o presidente Lula chegou a falar que havia um “jogo de interesse especulativo contra o real”, voltando a criticar a postura do presidente do Banco Central, Roberto Campos. Segundo Lula, o próximo dirigente da instituição, que será nomeado por ele, vai administrar o BC para respeitar o Brasil do “jeito que ele é, não do jeito que o sistema financeiro fala”.
Em Sintra, Portugal, onde participa de um fórum promovido pelo Banco Central Europeu (BCE), Roberto Campos Neto disse que era preciso sair da arena política e o que o trabalho feito pela diretoria do BC era motivado apenas por motivos técnicos.
O real está sofrendo mesmo um ataque especulativo? Na sexta-feira (26), o economista André Perfeito publicou artigo em que alertava para o cenário em que o dólar dispara enquanto as outras moedas emergentes permanecem estáveis. Ele aponta três fatos para esse quadro incomum que beneficia quem negocia a moeda norte-americana: o BC parar de cortar a Selic, a balança comercial brasileira continuar positiva e a taxa de desemprego e outros indicadores econômicos não estarem ruins.
“Porque, então, estamos nesse estado de coisas? Não consigo pensar em outro motivo que não seja a sinalização por parte da Autoridade Monetária que há uma crise contratada por conta do fiscal. Não acho que isso seja necessariamente verdade, afinal o ajuste de Haddad está sendo feito aos poucos pelo lado da receita, mas a sinalização por parte do BC está deixando tudo mais confuso”, escreve Perfeito.
“A situação hoje é de ataque especulativo por uma questão simplória: o mercado se posicionou contra o Real depois de tantas mensagens truncadas, isso cria uma situação onde os agentes, mesmos os que não achem que seja o fim do mundo, virem a mão para ganhar com a queda do Real, afinal não há porque se posicionar de maneira diferente”, adverte o economista.
*Com informações da Agência Brasil
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