
O cinema brasileiro alcançou um marco histórico na 97ª edição do Oscar, realizada na noite de domingo (2), ao conquistar pela primeira vez a estatueta de Melhor Filme Internacional com “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles. O filme retrata a história de Eunice Paiva, esposa do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). A narrativa é baseada no livro biográfico de Marcelo Rubens Paiva, filho do casal.
O filme brasileiro superou Emilia Pérez (França), A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha), A Garota da Agulha (Dinamarca) e Flow (Letônia). Walter Salles dedicou a conquista para Eunice Paiva, esposa do ex-deputado Rubens Paiva desaparecido na ditadura, cuja saga pela busca em saber o destino do marido norteou o roteiro do filme.
Em seu discurso de agradecimento, o cineasta brasileiro também ressaltou os trabalhos de Fernanda Torres, e sua mãe, Fernanda Montenegro: “Obrigado em primeiro lugar em nome do cinema brasileiro. É uma honra receber esse prêmio num grupo tão extraordinário de cineastas. Dedico esse prêmio a uma mulher que depois de uma perda durante um regime autoritário decidiu não se curvar e resistir. Esse prêmio é dedicado a ela, Eunice Paiva. Dedico às duas mulheres extraordinárias que deram vida a ela, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. Muito obrigado.”
Indicado também para a estatueta de melhor filme, Ainda Estou Aqui perdeu para Anora, maior vencedor da festa com cinco estatuetas no total.
Fernanda Torres, indicada ao prêmio de melhor atriz, não levou a estatueta, que acabou nas mãos de Mikey Madison, de Anora. Mas Fernanda Torres entra na história do cinema repetindo sua mãe, Fernanda Montenegro, que foi indicada na edição de 1999 do Oscar como melhor atriz, mas a laureada foi a estadunidense Gwyneth Paltrow.
Marco para a indústria cinematográfica brasileira
A vitória de “Ainda Estou Aqui” representa um avanço significativo para o cinema nacional, que já havia sido indicado anteriormente, mas nunca conquistado a estatueta. A última indicação brasileira na categoria foi com “Central do Brasil”, também dirigido por Salles, em 1999.
Este foi 38º prêmio nacional e internacional do filme, sendo o mais importante de todoa. Outras vitórias representativas foram o Prêmio Goya e o Globo de Ouro de Melhor Atriz para Fernanda Torees. No Oscar, foi indicado em três categorias: melhor filme, melhor atriz, para Fernando Torres, e melhor filme internacional.
De acordo com o professor Arthur Autran, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e que lidera grupo de pesquisa sobre cinema e audiovisual na América Latina, a repercussão é “enorme” em diversos níveis, independentemente se o longa recebesse algum Oscar neste domingo. Há o que o pesquisador chama de uma “repercussão social”. “O filme se tornou, de fato, uma espécie de evento. Muitas pessoas se interessaram pelo cinema brasileiro”, explica.
Para o professor de história Marco Pestana, da Universidade Federal Fluminense (UFF), pesquisador do tema da ditadura, o filme tem diferentes méritos, como o de, mesmo tratando de um período obscuro, conseguir dialogar de maneira direta com o presente. “É um filme que, nessa conjuntura, tem cumprido um papel importante”.
Depois que o filme foi lançado, o Supremo Tribunal Federal (STF) resolveu analisar o processo que estava com trâmite parado há uma década. Agora, a Corte anunciou que vai julgar se a Lei da Anistia se aplica aos crimes de sequestro e cárcere privado cometidos durante a ditadura militar a partir das investigações da morte do ex-deputado Rubens Paiva.
Além de “Ainda Estou Aqui”, a cerimônia do Oscar 2025 destacou-se por outras premiações notáveis.
Os premiados nas 23 categorias da 97ª edição do Oscar foram:
Ator coadjuvante – Kieran Culkin, em A verdadeira dor
Animação – Flow
Curta-metragem animado – In The Shadow of Cypress
Figurino – Wicked
Roteiro original – Anora
Roteiro adaptado – Conclave
Maquiagem e penteado – A substância
Edição – Anora
Atriz coadjuvante – Zoe Saldaña, por Emília Pérez
Design de produção – Wicked
Canção original – El Mal, de Emilia Pérez
Documentário de curta-metragem – A única mulher na orquestra
Documentário – No other land
Som – Duna: Parte 2
Efeitos visuais: Duna: Parte 2
Curta-metragem em live-action – I’m not a robot
Fotografia – O Brutalista
Filme internacional – Ainda estou aqui
Trilha sonora – O Brutalista
Ator –Adrien Brody, em O Brutalista
Direção – Sean Baker, de Anora
Atriz – Mikey Madison, em Anora
Filme – Anora
* Com informações da Agência Brasil
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