Sua fonte de informação sobre os negócios do Nordeste

Sua fonte de informação sobre os negócios do Nordeste

Em 2025 sustentabilidade se firma como critério para concessão o crédito 

Os fenômenos climáticos geraram perdas econômicas de US$ 320 bilhões no mundo em 2024 e pesam cada vez mais na decisão de crédito
sustentabilidade
Setor de crédito olha com cada vez mais atenção para os desafios da sustentabilidade / Foto: Pixabay

Embora o presidente Donald Trump tenha retirado os Estados Unidos do Acordo de Paris e queira direcionar a economia do maior emissor de gás carbônico do planeta para o incentivo aos combustíveis fósseis, a mudança climática tem se consolidado cada vez mais como um fator a ser levado em conta nos planejamentos das empresas. O tema aparece entre os principais desafios que o mercado de crédito visualiza para 2025, de acordo com a Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC).

Não é à toa. Os fenômenos climáticos geraram perdas econômicas de US$ 320 bilhões no mundo em 2024. No Brasil, secas severas e inundações impactaram a agricultura e o abastecimento em vários estados, do Rio Grande do Sul à Amazônia, gerando inúmeros prejuízos e afetando diretamente a capacidade de pagamento de entes públicos e privados, assim como a oferta de crédito.

“A relação entre questões ambientais e a concessão de crédito tem se tornado cada vez mais evidente no cenário econômico atual”, alerta Elias Sfeir, presidente da ANBC. Esses eventos não apenas comprometem a capacidade produtiva, mas também influenciam no fôlego para pagamento por parte de indivíduos e empresas, refletindo-se nos índices de inadimplência no mercado de crédito.

O três vetores do ESG

Sfeir ressalta que a sustentabilidade está diretamente ligada a três vetores fundamentais: mercado, instituições financeiras e governo. “A velocidade da transição sustentável depende da interação e do alinhamento entre esses três vetores. O mercado financeiro e o consumidor já desempenham um papel crucial nessa transformação. Por exemplo: mais de 50% dos americanos preferem comprar produtos de empresas sustentáveis, o que evidencia o amadurecimento da consciência ecológica. Contudo, o governo nem sempre oferece os incentivos necessários para acelerar o processo, exigindo que o setor privado encontre formas autossustentáveis de operar”, analisa Elias.

Para o presidente da ANBC, um dos setores que melhor exemplificam essa situação é o elétrico. Dados recentes mostram que, em 2023, foram adicionados 473 gigawatts de capacidade energética global, dos quais 81% vieram de fontes renováveis. O custo da energia fotovoltaica, por exemplo, caiu 89% entre 2010 e 2022, tornando-a quase um terço mais barata que a energia fóssil. Além disso, ela oferece maior segurança no fornecimento, pois não depende de fatores geopolíticos, como ocorre com o petróleo.

- Publicidade -

“Essa transformação ocorreu mesmo sem subsídios governamentais, comprovando que o mercado encontrou meios de ajustar-se às novas exigências. O setor de energia renovável, portanto, é um exemplo de como a sustentabilidade pode prosperar com base na competitividade econômica e na materialidade socioeconômica”, diz Sfeir.

Risco e crédito

Elias Sfeir sustenta que o mercado já tem a consciência ecológica. “Ele está num nível de maturidade bastante boa. Precisa evoluir em alguns países. A sustentabilidade continua forte e determinante porque ela é uma análise de risco para que se tenha o que se chama de perenidade econômica”, disse, acrescentando que essa análise baseada em critérios ESG (Ambiental, Social e Governança) tornou-se uma prática comum no mercado financeiro. “Empresas que não se alinham a práticas sustentáveis enfrentam maiores dificuldades para acessar crédito”, afirmou.

A prática não é novidade: o mercado de seguros, por exemplo, utiliza parâmetros relacionados à sustentabilidade há mais de 20 anos. Seguradoras já avaliam riscos associados a eventos climáticos, como inundações, demonstrando a importância da integração desses critérios em processos econômicos e financeiros.

Reflexões sobre o futuro

Para o presidente da ANBC, caso os subsídios governamentais para sustentabilidade percam realmente força no mercado norte-americano e em outras regiões, os outros dois pilares – mercado e instituições financeiras – seguirão impulsionando o movimento sustentável. “Empresas estão cada vez mais comprometidas com metas socioeconômicas e ambientais, mesmo em cenários políticos desfavoráveis. O pragmatismo dos mercados e a maturidade do consumidor continuarão sendo os motores principais dessa transformação global”, considera.

Para Sfeir, os compromissos do ESG (Ambientais, Social e de Governança) têm cada vez mais impacto sobre o fluxo de caixa e a governança das empresas, influenciando na concessão e na gestão do crédito. “Sustentabilidade está ligada à perenidade das operações, e a perenidade é a base da confiança no crédito. Sem isso, não há estabilidade para tomadores e fornecedores”, ressalta.

Sustentabilidade
Área de preservação do Complexo Portuário de Suape/Foto: divulgação Suape

Em outras palavras, isso significa que as empresas comprometidas com práticas ambientais responsáveis tendem a apresentar maior estabilidade financeira, tornando-se mais atrativas para concessões de crédito.

No contexto brasileiro, observa-se um crescimento significativo na demanda por crédito. Como mostrou a Coluna Movimento Econômico do último sábado, dados da ANBC apontam que, em 2024, a região Norte registrou um aumento de 15,5% na concessão de crédito, seguida pelo Centro-Oeste com 13,4%, Sul com 13,2% e Nordeste com 12,3%. Especificamente em Pernambuco, o crédito para pessoas jurídicas cresceu 11,6%, enquanto para pessoas físicas o aumento foi de 11%.

Oportunidades e colaboração

Com uma relação crédito-PIB ainda muito baixa (54,5%) em comparação a mercados maduros, como os Estados Unidos, onde o percentual chega a 150%, o Brasil tem grande potencial para alavancar sua economia com crédito. “No entanto, é essencial que o crescimento seja sustentável”, alerta Sfeir.

A integração de práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) na análise de crédito tem se mostrado uma tendência crescente. Empresas que adotam essas práticas não apenas contribuem para um ambiente mais sustentável, mas também demonstram maior resiliência econômica. Para Sfeir, “a sustentabilidade do crédito está alicerçada em múltiplos pilares”, e a adoção de critérios ESG é fundamental para garantir a confiança dos investidores.

Sustentabilidade em xeque

E quando o próprio fornecedor de crédito mantém frouxo seus compromissos com a descarbonização da economia?  Há alguns dias, a BlackRock, gestora de US$ 11 trilhões em ativos, anunciou que sairá da Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ), coalizão global do mercado financeiro, fundada pelo empresário Michael Bloomberg e pelo canadense Mark Carney. A GFANZ foi lançada em 2021 durante a COP climática de Glasgow e estava comprometida com o Acordo de Paris.

Analistas enxergam a decisão da BlackRock como uma tendência de alinhamento com o governo Trump. Recentemente, outras gestoras bilionárias norte-americanas – Citigroup, Bank of America, Wells Fargo, Goldman Sachs e Morgan Stanley- também abandonaram alianças em torno do Acordo de Paris. Sfeir acredita que o movimento terá acomodação no cenário influenciado pela política e que as empresas não abandonarão seus compromissos com o clima, já que a meta global de descarbonização não deve ser alterada.

Elias ANBC crédito
Elias Sfeir, presidente da ANBC/Foto: divulgação

O retrocesso não deixa de ser um desestímulo justamente num momento em que o planeta rompeu a barreira de 1,5 graus no aumento de sua temperatura, algo que era esperado apenas para 2030.

Sfair assegura que a adoção de práticas responsáveis e a consideração de fatores ambientais na análise de crédito seguem firmes no mercado de crédito. Embora o cenário para 2025 seja mais desafiador, diante de questões como juros altos, inflação persistente, desafios fiscais, instrumentos como o Cadastro Positivo e as práticas ESG bem estruturadas podem garantir que o crédito continue sendo uma ferramenta para o desenvolvimento econômico e social sustentável, mesmo em tempos de incerteza. “A sustentabilidade e a inovação são os caminhos para um crédito robusto, acessível e confiável”, concluiu Sfeir.

Leia também:

Produção de biodiesel cresce em 20 anos e chega a 77 bilhões de litros

Fernando de Noronha prorroga por 180 dias restrição a novas construções na ilha

Relação crédito-PIB chega a 54,5%, mas mercado potencial é gigante

Assista ao podcast:

Governo encurralado pelas redes socais no caso Pix

- Publicidade -
- Publicidade -

Mais Notícias

- Publicidade -