
O Radar Agtech Brasil 2024, relatório produzido pela Embrapa, em parceria com a SP Ventures e a Homo Ludens, identificou que o Nordeste abriga 17,5% dos 451 ambientes de inovação voltados ao setor agropecuário brasileiro, como hubs, aceleradoras, incubadoras e parques tecnológicos. O número é expressivo frente à histórica concentração dessas estruturas no Sudeste (36,8%) e no Sul (31,2%), e reflete um processo em curso de descentralização do ecossistema de inovação agroalimentar.
Esse avanço vem sendo impulsionado pelo aumento do número de startups na região e pela atuação de universidades e centros públicos de pesquisa. Os ambientes de inovação desempenham papel estratégico na expansão das agtechs, ao fornecer infraestrutura, suporte técnico e conexões com redes de parceiros, favorecendo a escalabilidade das soluções tecnológicas.
Entre 2019 e 2024, o número de startups do setor agtech no Nordeste saltou de 39 para 116, um crescimento de 197%. A participação regional no total nacional passou de 3,5% para 5,9%, embora a densidade de agtechs por 100 mil habitantes ainda seja a mais baixa entre as regiões, com 0,20, frente à média nacional de 0,93. Em termos absolutos, o Sudeste lidera com 1.137 startups (57,7%), seguido pelo Sul (499), Centro-Oeste (164) e Norte (99). O Nordeste ocupa a quarta posição.

Bahia, Pernambuco e Ceará na liderança regional
No recorte por estados, os maiores destaques são Bahia (28 agtechs), Pernambuco (23) e Ceará (17), que juntos somam 58,6% das startups da região. Maranhão aparece com 15 startups, seguido por Rio Grande do Norte (6), Paraíba (5), Piauí (3) e Sergipe (2). Não foram reportados dados específicos sobre Alagoas no relatório.
Esses números sinalizam para grande oportunidade para a expansão de estruturas de suporte à inovação, especialmente em territórios com menor presença de atores institucionais. O relatório aponta que a criação de novos hubs e a articulação em rede com centros de pesquisa e universidades são caminhos promissores para o fortalecimento do ecossistema regional.
Paralelamente, o Radar enfatiza a importância do desenvolvimento de políticas públicas voltadas à inovação regional, com foco em infraestrutura digital, formação de talentos e atração de investimentos, de modo a ampliar a densidade de startups e consolidar o Nordeste como um polo emergente de inovação agro.

Crescimento da inovação agro no Brasil
O Radar também mapeou o crescimento expressivo dos ambientes de inovação em todo o Brasil. O número de incubadoras cresceu 224%, de 32 para 107, enquanto as aceleradoras subiram de 21 para 40 (+90%). Também houve aumento dos parques tecnológicos (de 93 para 117) e dos hubs de inovação (de 82 para 106). No Nordeste, que concentra 17,5% desses ambientes, essa expansão reforça o potencial da região em se integrar aos grandes fluxos nacionais de ciência, tecnologia e empreendedorismo.
As startups mapeadas são organizadas em três segmentos: “antes da fazenda”, voltadas à produção de insumos como bioinsumos, sementes, fertilizantes, crédito e seguros; “dentro da fazenda”, com soluções diretamente aplicadas à produção agropecuária, como automação, sensoriamento remoto, irrigação de precisão e softwares de gestão; e “depois da fazenda”, com foco em logística, rastreabilidade, processamento e comercialização de alimentos, incluindo as foodtechs. Em 2024, 41,5% das agtechs brasileiras atuam “dentro da fazenda”, demonstrando o avanço da digitalização no campo.
Além da diversidade de atuação, o Radar revela a sofisticação tecnológica das soluções desenvolvidas pelas agtechs brasileiras. As startups utilizam tecnologias avançadas como robótica, edição de genes, inteligência artificial, blockchain, nanotecnologia, proteína sintética, agricultura celular e machine learning (aprendizado de máquina), aproximando o setor agropecuário de tendências globais e trazendo a agricultura do futuro para os dias atuais.

Soluções para os biomas nordestinos
No caso do Nordeste, a base produtiva regional demanda soluções alinhadas a seus biomas e sistemas de cultivo. De acordo com dados da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM/IBGE 2023), a região responde por 14,7% do rebanho bovino nacional e lidera na criação de caprinos e ovinos. No setor agrícola, destacam-se as culturas de milho, feijão, mandioca, algodão e frutas tropicais.
Essa diversidade exige tecnologias voltadas ao uso eficiente da água, ao manejo de pragas em ambientes tropicais, e a modelos de comercialização compatíveis com a realidade dos pequenos produtores. Nesse contexto, a ampliação dos ambientes de inovação e a articulação com startups locais têm se mostrado instrumentos importantes para o fortalecimento do agronegócio regional, promovendo inclusão socioprodutiva e desenvolvimento sustentável.

Baixo carbono e bioeconomia
A edição 2024 do Radar também ressalta o papel estratégico do Nordeste diante de tendências globais como a agricultura de baixo carbono, a bioeconomia e a rastreabilidade de cadeias produtivas, especialmente em um cenário de preparação para a COP30, que ocorrerá em Belém (PA) em 2025. O evento é considerado uma vitrine para a promoção de soluções sustentáveis no agro brasileiro, e o Nordeste poderá ocupar posição de destaque nesse debate.
As tecnologias desenvolvidas pelas agtechs ganham ainda mais relevância diante dos efeitos crescentes das mudanças climáticas sobre a produção agropecuária. A escassez hídrica, a maior ocorrência de eventos extremos e as alterações nos padrões de produtividade impõem desafios que exigem respostas baseadas em ciência, inovação e inteligência de dados.
Nesse sentido, soluções como sistemas de irrigação inteligente, monitoramento climático por sensores, genética adaptada e bioinsumos não apenas aumentam a resiliência da produção, como também contribuem para a redução das emissões e o uso mais eficiente de recursos naturais.
Redes inteligentes
Na apresentação do relatório, a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, defendeu a construção de redes interligadas para fomentar a inovação no setor. Segundo ela, “fica claro o momento em que estamos vivendo, no qual é imprescindível a criação de verdadeiras redes conectadas e vivas para colocar em prática o desenvolvimento do setor agroalimentar brasileiro, em prol da transformação sustentável do mundo”.
O Radar Agtech Brasil 2024 foi lançado oficialmente em 26 de março, durante o Radar Agtech Summit, em São Paulo, e conta com 180 páginas em sua versão digital (PDF). Pela primeira vez, o documento apresenta uma visão ampliada do ecossistema agro nacional, combinando dados sobre startups, ambientes de inovação e investidores ativos no setor.
O relatório pode ser acessado através deste link: radaragtech.com.br
Leia mais: Expansão dos bioinsumos fortalece produção de frutas no Nordeste