
JAGUARIÚNA (SP) – A resiliência das plantas da Caatinga pode ser um diferencial para o agronegócio brasileiro diante do aumento da temperatura e das mudanças climáticas. Com fábricas e laboratórios instalados em Jaguariúna (SP) e Curitiba (PR), a Biotrop, empresa que movimentou R$ 762 milhões em 2023 e é uma das maiores do mundo em biossoluções, aposta no bioma nordestino como fonte de inovação para o desenvolvimento de bioinsumos.
Fundada em 2018 e comprada pela multinacional belga Biofirst em 2023, a Biotrop investiu R$ 100 milhões nos dois centros capazes de multiplicar microrganismos e fungos que serão usados em produtos de biocontrole, biofertilizantes, bioestimulantes e inoculantes.
A empresa tem se destacado na inovação do setor, sendo a empresa privada que mais deposita patentes de bioinsumos no Brasil, incluindo registros no programa de patentes verdes, que aceleram a análise de inovações sustentáveis. Atualmente, a Biotrop lidera o setor no desenvolvimento de tecnologias inovadoras para a agricultura, com um extenso portfólio de biossoluções patenteadas que aumentam a produtividade e reduzem o impacto ambiental.
A projeção da Biotrop para os próximos anos é atingir um faturamento de US$ 1 bilhão e consolidar-se entre as dez maiores empresas de biossoluções do mundo.

“A Caatinga abriga uma biodiversidade extremamente rica, com organismos que já desenvolveram resistência a condições extremas. Podemos aplicar esse conhecimento no desenvolvimento de bioinsumos, como biofertilizantes, defensivos e até protetores contra o calor para as lavouras, ajudando a reduzir os impactos do estresse térmico no campo”, afirma o presidente da Biotrop, Jonas Hipólito, ao Movimento Econômico.
As declarações foram dadas na Bio Oracle, centro avançado de pesquisa e desenvolvimento de produtos biológicos e naturais da empresa, instalado em 2021 no limite dos municípios de Jaguariúna e Santo Antônio de Posse (SP). Além do foco na inovação tecnológica, a unidade também é orientada para práticas sociais e ambientais.

Pesquisa e inovação no Nordeste
A resistência natural das espécies vegetais da Caatinga ao calor e à escassez de água tem servido de base para a criação de bioestimulantes e defensivos biológicos. Esses produtos podem atuar como “protetores solares” para lavouras, reduzindo o impacto do estresse térmico e melhorando a absorção de nutrientes.
A Biotrop tem 30 agrônomos atuando no Nordeste. Recentemente, a empresa realizou uma missão no Vale do São Francisco, entre Pernambuco e Bahia, para fortalecer parcerias e ampliar o uso de bioinsumos no cultivo de frutas destinadas à exportação. O uso crescente de soluções biológicas atende à demanda dos importadores por alimentos produzidos com menor impacto ambiental.
“A região Nordeste é bastante relevante para o nosso negócio, especialmente por sua importância na cana-de-açúcar, nas culturas especiais e na fruticultura do Vale do São Francisco. Atuamos fortemente nessa região, desenvolvendo tecnologias baseadas na biodiversidade da Caatinga”, ressalta Hipólito.
A empresa também participa do projeto Nimbles, que busca construir a maior coleção funcional de microrganismos do Brasil. Expedições percorrem os seis biomas do país, incluindo a Caatinga, para coletar e estudar fungos e bactérias utilizados no desenvolvimento de soluções biológicas para a agropecuária.

Da Caatinga para o laboratório
A Caatinga está presente em 12% do território brasileiro, sendo o único bioma exclusivamente nacional. Localizado integralmente no semiárido, ocupa uma área de 826.411 km² na região Nordeste e abriga uma biodiversidade única, com grande número de espécies endêmicas, ou seja, que só ocorrem nesse ecossistema.
O nome “Caatinga” tem origem no Tupi-Guarani e significa “mata branca”, uma referência ao aspecto da vegetação durante a estação seca, quando as folhas caem e os troncos esbranquiçados e brilhosos das árvores e arbustos predominam na paisagem árida.
O trabalho da expedição é conduzido de maneira a ter baixíssimo impacto ambiental. Além das autorizações dos órgãos responsáveis, os profissionais se movimentam a pé nas trilhas e retiram apenas amostras do solo, onde estão os componentes minerais e biológicos, incluindo os microrganismos.
Já no laboratório da Biotrop, em sua sede de Curitiba (PR), os microrganismos são isolados e separados, garantindo a pureza de suas características. Em seguida, é feita a criopreservação, processo que assegura a estocagem viável e a utilidade dos microrganismos por longos períodos.
Entre os microrganismos estudados no bioma, destaca-se a bactéria Bacillus aryabhattai, aplicada em bioinsumos para melhorar a qualidade do solo e aumentar a resiliência das plantas.

Expansão e novos mercados
A Biotrop integra, desde 2023, o grupo belga BioFirst, ampliando sua atuação global. O mercado de bioinsumos no Brasil movimenta R$ 8 bilhões e cresce rapidamente, impulsionado pela busca por alternativas sustentáveis e mais rentáveis para os produtores. A empresa investe anualmente US$ 14 milhões em pesquisa e mantém mais de 1.200 ensaios de campo próprios.
“O Brasil é uma referência mundial em bioinsumos. Todos os países olham para cá para entender como desenvolvemos esse mercado. Temos um ambiente regulatório bem estruturado e uma base produtiva forte, que permite o avanço rápido das inovações”, explica Hipólito.
Com mais de 40 milhões de hectares atendidos, 1.200 ensaios de campo e P&D instalados a cada safra, 270 agrônomos a campo totalmente dedicados aos biológicos e naturais e 50 milhões de litros de capacidade instalada, a Biotrop se consolida como uma das principais empresas do setor.
A entrevista com o presidente da Biotrop, Jonas Hipólito, ocorreu durante encontro com jornalistas de 14 estados em Jaguariúna (SP). O evento fez parte do Road Show promovido pela Texto Comunicação, em que o Movimento Econômico acompanhou como único veículo de comunicação do Nordeste.
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