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Bioinsumos ganham força no agronegócio com resistência da Caatinga

A Biotrop, líder em biossoluções e com fábricas em Jaguariúna (SP) e Curitiba (PR), aposta na biodiversidade da Caatinga para desenvolver bioinsumos, biofertilizantes e defensivos naturais
Paulo Goethe
Paulo Goethe
paulo.goethe@movimentoeconomico.com.br
Árvore de umburana, planta da Caatinga que pode ser usada no combate ao mosquito Aedes aegypti
Árvores da Caatinga, como a umburama, apresentam propriedades que podem ser utilizadas como larvicidas naturais. Foto: Embrapa/Divulgação

JAGUARIÚNA (SP) – A resiliência das plantas da Caatinga pode ser um diferencial para o agronegócio brasileiro diante do aumento da temperatura e das mudanças climáticas. Com fábricas e laboratórios instalados em Jaguariúna (SP) e Curitiba (PR), a Biotrop, empresa que movimentou R$ 762 milhões em 2023 e é uma das maiores do mundo em biossoluções, aposta no bioma nordestino como fonte de inovação para o desenvolvimento de bioinsumos.

Fundada em 2018 e comprada pela multinacional belga Biofirst em 2023, a Biotrop investiu R$ 100 milhões nos dois centros capazes de multiplicar microrganismos e fungos que serão usados em produtos de biocontrole, biofertilizantes, bioestimulantes e inoculantes.

A empresa tem se destacado na inovação do setor, sendo a empresa privada que mais deposita patentes de bioinsumos no Brasil, incluindo registros no programa de patentes verdes, que aceleram a análise de inovações sustentáveis. Atualmente, a Biotrop lidera o setor no desenvolvimento de tecnologias inovadoras para a agricultura, com um extenso portfólio de biossoluções patenteadas que aumentam a produtividade e reduzem o impacto ambiental.

A projeção da Biotrop para os próximos anos é atingir um faturamento de US$ 1 bilhão e consolidar-se entre as dez maiores empresas de biossoluções do mundo.

Biotrop testa efetividade de bioinsumos em sua unidade em Jaguariúna, São Paulo
Biotrop testa efetividade de bioinsumos em sua unidade em Jaguariúna, São Paulo. Foto: Gustavo Meca/Texto Comunicação

“A Caatinga abriga uma biodiversidade extremamente rica, com organismos que já desenvolveram resistência a condições extremas. Podemos aplicar esse conhecimento no desenvolvimento de bioinsumos, como biofertilizantes, defensivos e até protetores contra o calor para as lavouras, ajudando a reduzir os impactos do estresse térmico no campo”, afirma o presidente da Biotrop, Jonas Hipólito, ao Movimento Econômico.

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As declarações foram dadas na Bio Oracle, centro avançado de pesquisa e desenvolvimento de produtos biológicos e naturais da empresa, instalado em 2021 no limite dos municípios de Jaguariúna e Santo Antônio de Posse (SP). Além do foco na inovação tecnológica, a unidade também é orientada para práticas sociais e ambientais.

Jonas Hipólito, presidente da Biotrop
Presidente da Biotrop, Jonas Hipólito, destaca que a Caatinga e o Nordeste têm importância para a empresa líder na produção de bioinsumos do Brasil. Foto: Gustavo Meca/Texto Comunicação

Pesquisa e inovação no Nordeste

A resistência natural das espécies vegetais da Caatinga ao calor e à escassez de água tem servido de base para a criação de bioestimulantes e defensivos biológicos. Esses produtos podem atuar como “protetores solares” para lavouras, reduzindo o impacto do estresse térmico e melhorando a absorção de nutrientes.

A Biotrop tem 30 agrônomos atuando no Nordeste. Recentemente, a empresa realizou uma missão no Vale do São Francisco, entre Pernambuco e Bahia, para fortalecer parcerias e ampliar o uso de bioinsumos no cultivo de frutas destinadas à exportação. O uso crescente de soluções biológicas atende à demanda dos importadores por alimentos produzidos com menor impacto ambiental.

“A região Nordeste é bastante relevante para o nosso negócio, especialmente por sua importância na cana-de-açúcar, nas culturas especiais e na fruticultura do Vale do São Francisco. Atuamos fortemente nessa região, desenvolvendo tecnologias baseadas na biodiversidade da Caatinga”, ressalta Hipólito.

A empresa também participa do projeto Nimbles, que busca construir a maior coleção funcional de microrganismos do Brasil. Expedições percorrem os seis biomas do país, incluindo a Caatinga, para coletar e estudar fungos e bactérias utilizados no desenvolvimento de soluções biológicas para a agropecuária.

Laboratório da Biotrop em Jaguariúna (SP)
Funfos e bactérias são cultivados para desenvolvimento de produtos que estão substituindo os agrotóxicos químicos. Foto: Gustavo Meca/Texto Comunicação

Da Caatinga para o laboratório

A Caatinga está presente em 12% do território brasileiro, sendo o único bioma exclusivamente nacional. Localizado integralmente no semiárido, ocupa uma área de 826.411 km² na região Nordeste e abriga uma biodiversidade única, com grande número de espécies endêmicas, ou seja, que só ocorrem nesse ecossistema.

O nome “Caatinga” tem origem no Tupi-Guarani e significa “mata branca”, uma referência ao aspecto da vegetação durante a estação seca, quando as folhas caem e os troncos esbranquiçados e brilhosos das árvores e arbustos predominam na paisagem árida.

O trabalho da expedição é conduzido de maneira a ter baixíssimo impacto ambiental. Além das autorizações dos órgãos responsáveis, os profissionais se movimentam a pé nas trilhas e retiram apenas amostras do solo, onde estão os componentes minerais e biológicos, incluindo os microrganismos.

Já no laboratório da Biotrop, em sua sede de Curitiba (PR), os microrganismos são isolados e separados, garantindo a pureza de suas características. Em seguida, é feita a criopreservação, processo que assegura a estocagem viável e a utilidade dos microrganismos por longos períodos.

Entre os microrganismos estudados no bioma, destaca-se a bactéria Bacillus aryabhattai, aplicada em bioinsumos para melhorar a qualidade do solo e aumentar a resiliência das plantas.

Biotrop São Paulo Jaguaríuna controle raízes cana-de-açúcar
Teste de expansão das raízes de cana-de-açúcar após a aplicação de bioinsumos da Biotrop. Foto: Gustavo Meca/Texto Comunicação

Expansão e novos mercados

A Biotrop integra, desde 2023, o grupo belga BioFirst, ampliando sua atuação global. O mercado de bioinsumos no Brasil movimenta R$ 8 bilhões e cresce rapidamente, impulsionado pela busca por alternativas sustentáveis e mais rentáveis para os produtores. A empresa investe anualmente US$ 14 milhões em pesquisa e mantém mais de 1.200 ensaios de campo próprios.

“O Brasil é uma referência mundial em bioinsumos. Todos os países olham para cá para entender como desenvolvemos esse mercado. Temos um ambiente regulatório bem estruturado e uma base produtiva forte, que permite o avanço rápido das inovações”, explica Hipólito.

Com mais de 40 milhões de hectares atendidos, 1.200 ensaios de campo e P&D instalados a cada safra, 270 agrônomos a campo totalmente dedicados aos biológicos e naturais e 50 milhões de litros de capacidade instalada, a Biotrop se consolida como uma das principais empresas do setor.

A entrevista com o presidente da Biotrop, Jonas Hipólito, ocorreu durante encontro com jornalistas de 14 estados em Jaguariúna (SP). O evento fez parte do Road Show promovido pela Texto Comunicação, em que o Movimento Econômico acompanhou como único veículo de comunicação do Nordeste.

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