
Menos de uma semana depois de ter sido denunciado pela Procuradoria-Geral da República, sob a acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro começou a colocar em prática a estratégia de viajar pelo Brasil para esquentar a militância e criar uma mobilização a seu favor. Pernambuco foi o ponto de partida, nesta segunda-feira (24), com uma agenda bem ao seu gosto: visita a padaria, microfone aberto na rádio e discurso em praça pública. Em todos os atos, a mesma linha, externada na entrevista à Rádio CBN, de que será candidato a presidente da República, em 2026, apesar de estar inelegível até 2030.
“Somente eu morto vocês saberão quem será outro candidato. O plano B é Bolsonaro. Fazer uma eleição sem a minha presença é negar a democracia”, afirmou o ex-presidente, durante entrevista à Rádio CBN-Recife pela manhã, momentos depois de tomar café da manhã com aliados na Padaria Boa Viagem.
Ao insistir na sua pré-candidatura, mesmo sabendo que está inelegível, Bolsonaro reprisa a estratégia fracassada adotada pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2018, de viajar pelo País e deixar seu nome rodar entre os atores da política. Condenado pelo juiz Sérgio Moro e preso em Curitiba, o petista colocou seu nome e sustentou a sua postulação até onde foi possível.
Em 11 de setembro de 2018, a desistência de Lula foi comunicada pela Executiva do PT em Curitiba. Aconteceu no último dia de prazo que a legenda tinha para anunciar seu novo candidato presidencial, após a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de inabilitar o ex-presidente. O vice na chapa, Fernando Haddad, assumiu a candidatura e foi derrotado pelo próprio Bolsonaro. À época, a estratégia do petista foi muito criticada, pois, ao manter o seu nome, impediu Haddad de consolidar a candidatura e começar a andar pelo Brasil para se tornar conhecido.
Bolsonaro descarta qualquer opção no seu arco de aliança para substituí-lo. Sabe que se fizer isso agora, perderá capital político, anabolizado pelo discurso de que o processo foi conduzido de forma parcial. Entre os nomes que aparecem com mais força para a vaga estão os governadores Tarcísio de Freitas (SP), Ratinho Junior (PR), Ronaldo Caiado (GO) e Romeu Zema (MG).
De todos, a situação mais desconfortável é a do gestor paulista. Ao contrário dos outros três, que estão no segundo mandato, Tarcísio tem a possibilidade de disputar a reeleição. No entanto, para ser candidato a presidente, terá que renunciar ao mandato em abril do próximo ano. Sem a clareza de que poderá ser o nome do bolsonarismo na disputa presidencial, corre o risco de renunciar em vão ao comando do maior estado brasileiro.
Além de manter seu nome à Presidência, Bolsonaro começou a viajar pelo País para manter acesa a chama de mobilização da militância. De certa forma, repete a movimentação de Lula, quando participou da Caravana da Esperança – Lula pelo Brasil, ocorrida entre 2017 e 2018.

Bolsonaro em Pernambuco
O ex-presidente chegou ao Recife em voo de carreira, 7h30 desta segunda-feira (24). Ele foi recebido por parlamentares e lideranças do PL, entre eles o deputado Alberto Feitosa e o ex-ministro Gilson Machado. Informando que estava viajando, o presidente estadual do partido, Anderson Ferreira, não participou da recepção.
Após a chegada, o ex-presidente seguiu para um café da manhã na Padaria Boa Viagem e, depois, concedeu a entrevista à CBN. A última parada, no final da tarde, foi a entrega de título de Cidadão de Vitória de Santo Antão.
Em um discurso de improviso e em cima de um trio elétrico, o ex-presidente cometeu um deslize em sua fala. “O título pode parecer pouca coisa, mas é muito para quem sabe valorizar seu povo. Não tenho a cabeça chata, mas sou vitoriense”, afirmou o ex-presidente, que após o ato retornou ao Aeroporto para voltar para Brasília, em avião de carreira.
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