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Um projeto de construção de cinco megatorres de alto padrão com 15 andares cada uma, na orla de Cruz das Almas, em Maceió, tem gerado debate em diversas esferas a respeito da preservação ambiental na região, que abriga a Lagoa da Anta, um dos cartões-postais da cidade, e que pode ser alterada com as edificações. A Câmara de Vereadores de Maceió e a Assembleia Legislativa de Alagoas querem promover audiências públicas para entender o projeto e quais os impactos que a obra pode ocasionar na cidade.
O empreendimento da Record Construtora e do grupo Lundgren quer construir cinco megatorres de 15 andares onde atualmente funciona o Hotel Jatiúca e a Lagoa da Anta, no bairro de Cruz das Almas, em Maceió. Tratado sob sigilo pelas partes envolvidas, fontes do setor imobiliário de Alagoas estimam que o Valor Geral de Vendas (VGV) do empreendimento ultrapassa R$ 1,5 bilhão.
Em entrevista à Gazeta de Alagoas na semana passada, o sócio da Record Construtora, Hélio Abreu, confirmou que a construtora pretende assumir uma dívida de R$ 260 milhões que o grupo Lundgren – proprietário do Hotel Jatiúca, possui com investidores, além de um pagamento adicional de outros R$ 260 milhões correspondente à taxa de valorização de 35% em virtude da incorporação da área ao projeto.
O projeto prevê a construção de um edifício comercial, um hotel e uma torre destinada a residencial de luxo e outras duas torres de apartamentos no formato studio com unidades entre 40 e 60 metros quadrados.
Vereadores e deputados propõem audiências para debater megatorres
A retomada das tratativas para dar andamento ao megaempreendimento gerou grande debate em várias esferas de Alagoas. Em Maceió, o vereador Allan Pierre (MDB) propôs que a Câmara de Vereadores convoque representantes da Prefeitura de Maceió, da construtora Record, Ministério Público do Estado de Alagoas, Conselho Regional de Engenharia Ambiental (Crea/AL), Instituto do Meio Ambiente (IMA), Ibama, Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), Ordem dos Advogados do Brasil seccional Alagoas (OAB/AL), além de representantes da sociedade civil em geral interessados para debater o assunto durante uma audiência pública.
O parlamentar argumentou que é importante ter expansão imobiliária na cidade, mas é preciso entender os impactos que um empreendimento deste porte pode trazer para a cidade.

Na visão dele, caso as atividades do Hotel Jatiúca sejam encerradas, a área da Lagoa da Anta possa ser contemplada com um parque público, garantindo um espaço verde para a cidade. “O que temos de novo em relação a parques? Apenas o Parque Municipal. Precisamos considerar o ar que respiramos, respeitar o trajeto natural do meio ambiente e pesar o impacto econômico. Qual é o efeito real para a cidade? Para a mobilidade? Para o meio ambiente? Essas questões precisam ser discutidas com a sociedade”, alertou o vereador Allan Pierre.
Durante sessão realizada na última quarta-feira (19) os vereadores debateram o caso e o presidente da Casa, vereador Chico Filho, também defendeu a realização do encontro, que deve ocorrer em março, mas sem data definida até o momento.
Já na Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE), o deputado Leonam Pinheiro, que preside a da Comissão de Meio Ambiente e Proteção dos Animais da Casa, convidou os parlamentares e a população para participarem, no próximo dia 10 de março, de uma audiência pública que irá debater a preservação da Lagoa da Anta.
“O nosso objetivo é trazer os atores envolvidos nessa temática para tentarmos chegar a um denominador comum, evitando prejuízos, danos ou crimes ambientais. A Lagoa da Anta é a última lagoa urbana de Maceió, que antigamente era bem maior. Hoje, é um espaço de convívio urbano muito importante e que deve ser preservado”, disse. O parlamentar também deu ênfase ao entorno daquele espaço, pois envolve matas ciliares, cuja supressão, segundo ele, é um crime ambiental. “Existem ainda outras questões, como a mobilidade urbana. Precisamos ter em vista, como prioridade, a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável”, concluiu.
Conselho de Arquitetura cobra ativação de Comitê Gestor
O Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Alagoas (CAU) enviou ofício à Superintendência do Patrimônio da União em Alagoas (SPU/AL) cobrando a implantação do Comitê Gestor do Projeto Orla, eleito pelo Plano de Gestão Integrado da Orla (PGI Maceió). O grupo ligado à SPU reúne órgãos de fiscalização e outros membros da sociedade civil e desde agosto do ano passado aguarda o início das reuniões e outros debates. Neste período, além do projeto das megatorres, outras denúncias aguardam andamento por conta da não ativação do Comitê em Maceió.
Segundo Airton Omena Júnior, membro da Comissão Especial de Políticas Estratégicas do CAU/AL e integrante do PGI Maceió, explicou que o ofício tem como objetivo cobrar da Superintendência a ativação deste comitê para que diversos temas de interesse da capital sejam debatidos e avaliados.
“É da SPU o dever de fiscalizar e zelar da faixa costeira litorânea de todo o país e a ativação desse comitê é importante para que possamos debater da maneira correta esse projeto das megatorres, além de outras denúncias que chegaram ao nosso conhecimento. É fundamental que possamos garantir a proteção ambiental e sustentável, bem como preservação da linha costeira de Maceió”, defendeu.
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