O acesso a água tratada e saneamento básico ainda não é uma realidade para mais de três milhões de residências no Nordeste, segundo dados do Trata Brasil. Mas, nos últimos anos, a região tem experimentado uma melhoria no acesso a esses serviços e o Banco do Nordeste (BNB) projeta que na próxima década haverá um verdadeiro boom de empresas que buscam financiamentos para promover melhorias neste serviço básico em diversos estados da região, como mostramos nesta segunda matéria da série “O crédito e o desenvolvimento”.
Segundo dados do BNB, entre 2020 e 2024 a instituição financeira realizou operações financeiras que totalizaram R$ 4,4 bilhões. Este valor foi nove vezes maior do que nos anos de 2019 a 2022, quando foram liberados financiamentos de R$ 479 milhões para o setor.
Em entrevista ao Movimento Econômico, o diretor do BNB, Aldemir Freire, destacou que o setor de saneamento é uma das prioridades da instituição financeira para os próximos anos devido à carência de serviços na região e pela quantidade de licitações e leilões previstos.
“O BNB quer dar foco aos financiamentos de saneamento porque projetamos que haverá um boom nos próximos 10 anos aqui no Nordeste. Há carência de saneamento na região e pelo nosso histórico, os maiores projetos financiados nos últimos anos foram para companhias de saneamento que ganharam concessões por meio de leilões, como ocorreu em Alagoas, onde somente em 2023 financiamos R$ 1 bilhão para a BRK”, disse.
Ainda de acordo com Freire, outros estados também vêm realizando estudos e projetos para concessão da oferta de água e saneamento, o que vai impulsionar a busca de empresas por financiamentos.
“Nós tivemos grandes projetos financiados no Ceará e estamos de olho no que está acontecendo na Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. O Piauí concluiu agora sua licitação, então entendemos que teremos uma grande demanda por financiamentos por saneamento no Nordeste, que vem crescendo desde 2023. Isso é muito importante para conseguir acabar com um déficit de serviço na região que ainda é muito carente neste aspecto”, afirmou.
Segundo dados do Trata Brasil, o Ranking do Saneamento de 2024 não traz nenhum município do Nordeste entre os 10 melhores no ranking. Há uma predominância de estados do Sul e Sudeste, diferente do que acontece na outra ponta onde estão os piores municípios no ranking. Dos 20 piores, seis estão no Nordeste, incluindo as capitais Maceió (AL) e São Luíz (MA).
Ainda de acordo com o Instituto, com base nos dados do Censo de 2022, ainda existem 3,117 milhões de residência na região Nordeste não possuem acesso a saneamento básico, o que representa 35% do total nacional.
Alagoas e Ceará ganham destaque nos financiamentos de saneamento
Segundo dados do Banco do Nordeste, os estados de Alagoas e Ceará foram os que mais tiveram financiamentos aprovados pelo banco nos últimos anos, reflexo das licitações realizadas em ambos estados que concedeu à iniciativa privada a gestão do abastecimento e saneamento pelos próximos 30 ou 35 anos.
Em Alagoas, a empresa BRK Ambiental teve o maio valor financiado, um total de R$ 1 bilhão, segundo informou o BNB. A empresa arrematou por R$ 2,09 bilhões o leilão realizado pelo Governo de Alagoas em 2020 para responder pelo fornecimento de água e coleta de esgoto em Maceió e 13 municípios da região Metropolitana até 2055.
O diretor presidente da BRK Ambiental em Alagoas, Herbert Dantas, disse ao Movimento Econômico que graças ao financiamento do Banco do Nordeste a empresa tem conseguido executar obras e ações previstas no plano de ação e os resultados já são vistos pela população das cidades atendidas.
“O financiamento do Banco do Nordeste representa um marco para o avanço do saneamento na Região Metropolitana de Maceió́. Com esse investimento histórico já́ iniciamos as obras de universalização do acesso à água tratada e encanada e o fortalecimento da infraestrutura hídrica de municípios como Rio Largo e Maceió́. Nosso compromisso é garantir mais saúde, qualidade de vida e desenvolvimento para a população, por meio de um saneamento muito além do básico”, avaliou Herbert Dantas.
No Ceará a Ambiental Ceará financiou R$ 566 milhões para operação e obras de infraestrutura de esgotamento sanitário nas cidades atendidas pela Parceria Público-Privada (PPP) firmada com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece).
A Ambiental Ceará, subsidiária da Aegea, é responsável pela ampliação, operação e manutenção do sistema de esgotamento sanitário em 24 municípios das regiões metropolitanas de Fortaleza e do Cariri. A PPP atende 4,3 milhões de cearenses e, ao todo, R$ 6,2 bilhões serão investidos em obras. A PPP visa promover o avanço do esgotamento sanitário para 90% da população até o ano de 2033, avançando para 95% em 2040.
Leia a primeira matéria da série:
