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No ano passado, o Banco do Nordeste (BNB) registrou um feito inédito em sua história: destinou 62% dos R$ 61 bilhões em crédito ao chamado segmento prioritário, que inclui microempreendedores, pequenas e médias empresas. Desse total, R$ 21 bilhões foram para financiamentos do microcrédito da instituição, abrangendo as linhas de financiamento do Agroamigo e Crediamigo.
“O banco está chegando na ponta, a pessoas que nunca tiveram acesso a nada. O acesso a R$ 500, R$ 1.000 ou R$ 2.000 faz a diferença na vida delas, porque o crédito é realmente uma força muito forte para a geração de renda, para a geração de emprego. E pode ajudar a diminuir a desigualdade, como a do Nordeste brasileiro”, afirmou o presidente do Banco do Nordeste e ex-governador de Pernambuco, Paulo Câmara.
Ele apresentou os números no evento Pernambuco em Perspectiva, durante a palestra “Como financiar o desenvolvimento de Pernambuco com falta de recursos para investimentos”, realizada na última quarta-feira (19), uma iniciativa da Rede Gestão e da Revista Algomais.
Durante muito tempo, uma das principais críticas que economistas e empresários faziam à atuação do Fundo Constitucional do Nordeste (FNE) era que o crédito era acessível quase que exclusivamente às grandes empresas e a apenas alguns setores. Atualmente, o FNE financia uma parte do microcrédito da instituição e cerca de dez linhas de crédito, incluindo uma para capital de giro.
A democratização do acesso aos recursos do FNE foi um processo construído a longo prazo, com alterações aprovadas pelo Conselho Deliberativo da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), órgão responsável pelo fundo, e reforçado na gestão de Paulo Câmara. Em 2019, antes da gestão de Câmara, o microcrédito da instituição financiou R$ 10,6 bilhões pelo Crediamigo e R$ 2,5 bilhões pelo Agroamigo, totalizando R$ 13,1 bilhões. Os recursos para os dois programas aumentaram. No ano passado, foram liberados R$ 12,1 bilhões para o Crediamigo e R$ 8,6 bilhões para o Agroamigo.
De acordo com o balanço apresentado por Paulo Câmara, em 2024, o FNE emprestou R$ 44,8 bilhões por meio de diversas linhas de financiamento. Os R$ 16 bilhões restantes emprestados foram obtidos por meio de “fundings”, recursos captados pelo banco junto a organizações como a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), entre outras instituições internacionais.
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As parcerias foram apontadas por Paulo Câmara como uma das soluções para viabilizar investimentos em um cenário de recursos limitados, incluindo iniciativas que envolvem empresas privadas. O BNB está firmando parcerias com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do governo federal, e retomou ações conjuntas com o BNDES.
Expectativas do BNB para 2025
Para 2025, a expectativa é de que ocorra um aumento de 18% no total emprestado pelo FNE e que o volume captado pela estatal por meio de “fundings” chegue a R$ 20 bilhões. Esses últimos recursos serão utilizados nas mais diversas linhas de crédito, financiando desde infraestrutura até iniciativas da economia verde. “Este ano vai ser o melhor do Crediamigo”, afirmou Paulo Câmara, que nos bastidores do BNB vem sendo chamado de “banqueiro dos pobres” por alguns diretores mais próximos.
Brincadeiras à parte, a prioridade para os mais pobres dentro dos recursos do FNE continuará em 2025. A previsão é de que 62% dos recursos permaneçam destinados aos mini, micro, pequenos e médios empreendedores e empresas. Os 38% restantes ficarão com os empreendimentos de médio e grande porte.
Saneamento
Entre os grandes projetos, o Banco do Nordeste voltou a financiar os de saneamento, um setor que tende a continuar crescendo. “É uma área que tem pressa. Saneamento é tudo: saúde pública e qualidade de vida para as pessoas”, comentou o ex-governador. Em 2023 e 2024, as operações do banco em saneamento somaram R$ 4,4 bilhões, um valor nove vezes maior do que o registrado entre 2019 e 2022, quando foram liberados R$ 479 milhões para a atividade.
As aplicações do FNE por setores em 2025 terão a seguinte distribuição: pecuária (24,4%), comércio e serviços (21%), infraestrutura (20%), agricultura (19%), indústria (12%) e turismo (3%).
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