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O Operador Nacional do Sistema (ONS) informou, em nota, que não há risco iminente de interrupção de energia ou apagão no Brasil. Isso ocorreu depois que um estudo do próprio ONS, o Plano da Operação Elétrica de Médio Prazo do SIN (PAR/PEL) traçou um cenário negativo da infraestrutura de energia elétrica no Brasil atribuindo a expansão da energia solar, em pequenos sistemas, como um dos fatores que poderiam aumentar a sobrecarga do sistema, caso não ocorresse um aumento da infraestrutura elétrica. Como o nome diz, o ONS opera o Sistema Interligado Nacional (SIN) que leva energia elétrica a mais de 95% da população brasileira.
O PAR/PEL mostra a necessidade de melhorar a infraestrutura do setor elétrico nos mais diversos cenários com projeções até 2029. Em um cenário dos mais pessimistas, caso algumas obras e iniciativas não saiam do papel, poderia ocorrer uma sobrecarga da rede elétrica do País, o que poderia provocar interrupções no fornecimento de energia. O estudo vê a infraestrutura existente hoje e faz projeções até 2029.”Este cenário em que ocorre a sobrecarga do setor elétrico não é exequível”, afirma o presidente das Associação Nacional de Entidades Representativas de Energias Renováveis (ANER) e Associação Pernambucana de Energias Renováveis (APERENOVÁVEIS), Rudinei Miranda.
Segundo ele, para este cenário de sobrecarga da rede elétrica se concretizar, deveriam ocorrer alguns fatores, a longo prazo, simultaneamente, como a não entrada em operação das futuras linhas de transmissão e subestações projetadas até 2029, o aumento exponencial da geração de renováveis – como a eólica e solar -, todas estas usinas estarem conectadas ao sistema produzindo ao mesmo tempo e também não houvesse consumo pra absorver toda esta geração. Ele argumenta que não há risco, porque considera quase impossível todos estes fatores acontecerem ao mesmo tempo.
Rudinei diz que as linhas de transmissão e subestações que vão entrar até 2029 já foram licitadas e estão em construção. Elas vão acrescentar 1260 km de linhas de transmissão. O executivo acrescenta também que, no futuro, quando o ONS perceber que a geração está muito maior do que o consumo, poderia, entre outras coisas, fazer cortes de geração para não prejudicar o sistema.
No corte de geração, o ONS manda as geradoras diminuírem a produção de energia, em tese, nos horários em que o o consumo está menor e a geração maior. Os cortes de geração já estão ocorrendo e prejudicam principalmente as geradoras de energia renováveis do Nordeste, como a eólica e a solar.
Rudinei diz também que o sistema elétrico não tem um nível de cobrança para a modernização no contexto geral da concessão estimular as renováveis. Por exemplo, há equipamentos que podem ser implantados na rede e dão mais segurança ao sistema, como um todo, mesmo com uma geração maior dos pequenos sistemas solares.
Em tese, os pequenos sistemas solares podem desequilibrar o sistema, quando produzem mais do que o consumo num determinado momento, como ocorre pela manhã, quando o consumo é menor no Brasil e os sistemas de geração solar estão produzindo.
Ainda no cenário pessimista do estudo, 11 Estados teriam risco de ter sobrecarga – com problemas no sistema elétrico – por causa da Micro e Minigeração Distribuída (MMGD), aqueles pequenos sistemas instalados nos telhados das casas e em comércios. Dos 11 Estados, cinco são nordestinos: Bahia, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte. A Bahia ocupou o primeiro lugar entre os Estados.
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Estudo projeta aumento da geração solar
O estudo da ONS também considerou um futuro aumento da Micro e Minigeração Distribuída (MMGD). Este tipo de geração vai sair de uma capacidade instalada de 33 gigawatts (GW) em 2024 para “uma projeção de mais de 49 GW em 2029, o que a consolidará como a segunda maior fonte de geração no país”, segundo o ONS.
O próprio ONS argumentou que “a expansão da MMGD impõe desafios consideráveis à operação do sistema elétrico, dentre os quais destacam-se a necessidade de maior flexibilidade operativa, a gestão de restrições na rede de transmissão e o suporte para o desempenho dinâmico do sistema”.
As observações feitas no estudo sobre a expansão da MMGD não agradaram a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) que informou, também em nota, que a maior presença das fontes renováveis na matriz elétrica nacional é economicamente viável, ambientalmente desejável e tecnicamente sólida e segura.
Segundo a associação, há um movimento isolado, que vai na contramão da transição energética, e tenta prejudicar as fontes renováveis, como solar e eólica. “A quem interessa culpar as fontes renováveis por desafios sistêmicos, em ano de COP30 no Brasil?”, questionou o presidente executivo da ABSOLAR, Rodrigo Sauaia.
Na nota, a ABSOLAR apontou também que a incorporação de novas tecnologias, como sistemas de armazenamento de energia elétrica, contribui para uma maior segurança de suprimento e resiliência da matriz elétrica nacional. Esses sistemas vão beneficiar a geração de energia que não é considerada firme, por alguns técnicos do setor, como a eólica e solar.
Ainda de acordo com a ABSOLAR, a MMGD reduz a pressão sobre os recursos hídricos e sobre a infraestrutura de transmissão e distribuição, alivia pressões sobre a operação do sistema e diminui perdas em longas distâncias, o que contribui para a confiabilidade e a segurança, inclusive em momentos críticos.
A fonte solar é responsável por 54 gigawatts (GW) de potência instalada operacional no Brasil, somando as grandes usinas centralizadas e os pequenos sistemas distribuídos, correspondendo a 22% da matriz elétrica brasileira.
O ONS passou a fazer mais cortes de geração das usinas eólicas e solares instaladas no Nordeste depois do blecaute que ocorreu em 15 de agosto de 2023. A ABSOLAR lembrou que a causa desta ocorrência foi uma “perturbação que teve início com a abertura da LT 500 kV Quixadá – Fortaleza II, provocada pela atuação acidental da proteção de fechamento durante operação normal da linha” e que “também foi observada a atuação incorreta do seu esquema de religamento automático”. Ou seja, não teve ligação com o aumento da geração das renováveis.
O lado do ONS
Em nota, o ONS informou que o papel do órgão é “antecipar cenários, avaliar impactos e propor soluções para garantir a confiabilidade e segurança do Sistema Interligado Nacional (SIN)“. E acrescentou: “O PAR/PEL aponta soluções como reforços na rede de transmissão, aprimoramento dos requisitos técnicos para conexão ao SIN e a instalação de equipamentos que aumentam a segurança e estabilidade do sistema. Essas medidas garantem que o sistema elétrico brasileiro continue operando de forma segura e confiável”.
O estudo cita que a entrada em operação de novas linhas de transmissão e transformadores vão fazer o Nordeste enviar 30% a mais de energia para o Sudeste e Centro-Oeste. “O incremento da capacidade de intercâmbio é um fator positivo para o maior aproveitamento da geração renovável não-hídrica disponível na região Nordeste”, informa o levantamento do ONS.
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