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Da Dinamarca ao Porto Digital, mercado de TI se abre para profissionais autistas

Recife terá a primeira formação profissional para pessoas autistas com apoio de empresas de tecnologia da informação e baseada em experiência que surgiu na Europa
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Em formato híbrido, formação profissional já teve bons resultados em contratações de autistas por empresas de outras regiões do país. Foto: YouTube/Specialisterne

Com mais de 400 empresas embarcadas e 18 mil colaboradores, o Porto Digital entra no seu 25º ano como um dos parques tecnológicos mais relevante do Brasil abrindo as portas para a neurodiversidade. Se já conseguiu avançar em integrar mais mulheres, público LGBTQIA+ e estudantes em condições de vulnerabilidade socioeconômica em seu ecossistema, pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) vislumbram agora a chance de provar seu talento como profissionais.

Mais de 50 já se inscreveram na primeira formação que busca capacitar autistas para tarefas administrativas e de tecnologia da informação (TI) para possíveis vagas que serão abertas nos negócios baseados no Bairro do Recife. O prazo para os interessados nas 12 vagas disponíveis termina no dia 14 (acesse o link aqui), mas a procura já surpreendeu o psicólogo e diretor de operações do Nordeste da Specialisterne Brasil, Marcelo Franco. “Esperamos ter mais apoio, inclusive do poder público, para abrir novas turmas”, afirma.

Marcelo Franco Diretor de Operações no Nordeste da Specialisterne Brasil
“As empresas que apostam na diversidade ganham em empatia e tolerância, o que se reflete positivamente no ambiente de trabalho”, afirma Marcelo Franco, diretor de operações do Nordeste da Specialisterne Brasil. Foto: LinkedIn/Reprodução

É a empresa fundada na Dinamarca em 2004 e dedicada à inclusão profissional de pessoas com autismo e outros diagnósticos na neurodiversidade em 25 países que é responsável pelo curso de formação do Recife, tendo como parceiros o Porto Digital – que cede a estrutura do 8º andar da sua sede – e da Pitang Consultoria e Sistemas, empresa de TI que pretende contratar o terceiro autista para a sua equipe de mais de 350 colaboradores.

CEO e sócio do empreendimento recifense que surgiu no mesmo ano da Specialisterne, Antônio Valença afirma que a Pitang já descobriu os benefícios intangíveis desta política de inclusão, como maior empatia e compreensão das diferenças. Ele espera que mais integrantes do Porto Digital sigam este caminho. “Profissionais neurodivergentes são muito focados e analíticos, o que impacta positivamente a produtividade”, destaca.

Pelo menos dez empresas da capital pernambucana sinalizaram interesse em incorporar pessoas com TEA. O programa de desenvolvimento que começará em março para os aprovados que devem ter mais de 18 anos de idade acontecerá no formato híbrido, com duração de seis semanas. Os candidatos devem ter disponibilidade para trabalhar 40 horas semanais.

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A Specialisterne vai trazer cinco profissionais de São Paulo para esta formação, mas o interesse é também se tornar um integrante fixo do ecossistema local. “O Recife foi escolhido por seu potencial de talentos e pela força do Porto Digital. A ideia é expandir o programa de acordo com a demanda”, explica Marcelo Franco. Ele também destaca que o sucesso da inclusão depende do apoio de empresas e da sociedade.

Pelas parcerias realizadas com empresas de outras regiões do país, a taxa de retenção de autistas é alta, em torno de 90% a 95%, com mais de 500 pessoas já incluídas no Brasil. “Muitas vezes, não é o autista que traz dificuldades para a empresa, mas sim a falta de conhecimento dos gestores e equipes sobre como lidar com as especificidades dessa população”, explica Marcelo.

Convencimento em Pernambuco

“O grande desafio agora é sensibilizar o setor e mostrar que a inclusão não é apenas uma questão social, mas também um diferencial estratégico para as empresas”, concorda Antônio Valença. A Pitang tem se esforçado para promover essa inclusão, realizando treinamentos e palestras para sensibilizar outras organizações sobre a importância de abrir espaço para esses profissionais.

Antônio Valença cita ainda a colaboração com a Associação de Empresas de Software de Pernambuco como fundamental nesse processo. Apesar dos desafios, a mudança de mentalidade está ocorrendo. “É um trabalho de convencimento, mas temos visto resultados positivos”, diz.

Antônio Valença CEO Pitang
“Precisamos mostrar que a inclusão não é apenas uma questão de caridade, mas sim uma estratégia que traz benefícios para todos”, destaca Antônio Valença, CEO da Pitang. Foto: LinkedIn/Reprodução

A experiência de empresas que já adotaram iniciativas semelhantes aponta para impactos positivos. Estudos indicam que equipes neurodiversas podem ser até 30% mais produtivas e que a diversidade cognitiva contribui para um ambiente mais inovador e colaborativo. Além disso, a presença de profissionais autistas tem sido associada a maior precisão e atenção aos detalhes em atividades como análise de dados e desenvolvimento de software.

“Historicamente, temos trabalhado mais com empresas de tecnologia e finanças, mas queremos diversificar e incluir autistas em diferentes setores”, afirma Marcelo Franco. Ele ressalta que a inclusão não deve se restringir a estereótipos de superdotação, mas sim abranger todas as habilidades e potencialidades dos autistas.

MINAs, embarcados digitais e agora TEA

A diretora executiva do Porto Digital, Mariana Pincovsky, ressalta que a formação de pessoas com TEA acontecerá no laboratório de inovação que foi inaugurado em março de 2024 na sede do Cais do Apolo. A estrutura contou com o apoio da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e serve como um espaço de interação entre pessoas que vieram de realidades diferentes para fortalecer o ecossistema de TI recifense. “Precisamos todos trabalhar para que o setor tecnológico não seja majoritariamente composto por homens brancos e de classe média”, afirma.

O prédio também abriga um Laboratório de Inovação do Embarque Digital, inaugurado pela Prefeitura do Recife, em parceria com o Porto Digital, para os estudantes egressos da rede pública municipal desenvolverem melhor as habilidades aprendidas em sala de aula e na criação de novos projetos. Lançado em 2021, o Embarque Digital já proporcionou a mais de 2 mil estudantes oriundos de escolas da rede pública a possibilidade de realizar uma graduação e estudar de forma gratuita em cursos de tecnologia.

diretora executiva do Porto Digital, Mariana Pincovsky
“Queremos equipes diversas compondo o nosso ecossistema”, defende Mariana Pincovsky, diretora executiva do Porto Digital. Foto: LinkedIn/Reprodução

As ações afirmativas do Porto Digital contribuem para diversificar a força de trabalho qualificada no setor de tecnologia. Além disso, ajudam a reduzir desigualdades sociais ao oferecer oportunidades educacionais para jovens em situação de vulnerabilidade e incentivar as mulheres a entrar nesse. O modelo “Triple Helix” adotado pelo Porto Digital, que envolve colaboração entre governo, academia e setor privado, tem sido fundamental para o sucesso dessas iniciativas.

Mariana Pincovsky destaca o MINAs (Mulheres em Inovação, Negócios e Artes) como iniciativa bem-sucedida para promover a inclusão e a equidade de gênero no setor de tecnologia e economia criativa. O programa oferece diversas iniciativas voltadas para o empoderamento feminino, incluindo workshops, mentorias e programas de capacitação. O Porto Digital tem promovido ainda iniciativas específicas para apoiar o empreendedorismo entre pessoas LGBTQIA+.

Benefícios e desafios da inclusão de autistas

Globalmente, empresas multinacionais como Microsoft, Ernst & Young (EY) e Hewlett Packard têm liderado iniciativas para integrar profissionais autistas em suas equipes. A Microsoft desenvolveu um programa específico para recrutar pessoas com autismo, visando aproveitar suas habilidades analíticas em funções críticas. A EY identificou que os autistas podem trazer eficiência extraordinária em projetos de análise de big data, resultando em maior precisão nos relatórios.

Apesar dos avanços, desafios ainda precisam ser superados. A adaptação dos processos de recrutamento e a criação de ambientes adequados, como espaços silenciosos e programas de suporte contínuo, são fatores essenciais para garantir a inclusão efetiva.

Marcelo Franco enfatiza que, embora existam legislações que apoiam a inclusão de pessoas com deficiência, ainda há um longo caminho a percorrer para que as empresas reconheçam os benefícios de contratar autistas.

Leia mais: Caged 2024: serviços e comércio impulsionam empregos no Nordeste

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